No coração da Amazônia, o mercado Ver-o-Peso vive dias de explosão turística na COP30
Tradicional mercado de Belém ganha mais movimento durante a COP30, mistura línguas do mundo e mostra a força da cultura amazônica em cada banca
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Belém - Quem chega ao Ver-o-Peso, no coração de Belém, é imediatamente envolvido por um turbilhão de cores, cheiros e vozes que formam a alma da Amazônia. Entre barracas de peixe fresco, pilhas de farinha e garrafadas que prometem curas e energias, circulam turistas, moradores e curiosos atraídos por um dos mercados públicos mais emblemáticos do Brasil.
Nos últimos dias, o movimento explodiu. Com a COP30 levando milhares de visitantes à capital paraense, o Ver-o-Peso virou uma espécie de “sala de visitas” da cidade — um ponto obrigatório para quem quer experimentar o Pará com todos os sentidos: no sabor do peixe frito com açaí, na ardência da cachaça de jambu, no aroma das ervas medicinais, no brilho das cerâmicas marajoaras e na delicadeza da arte indígena.
Reforma recente e movimento renovado
O mercado passou por uma reforma e foi reaberto em setembro, com um investimento de R$ 3 milhões dentro do pacote de obras preparatórias para a COP30. O resultado se revela logo na entrada, com corredores mais amplos, fachadas restauradas e feirantes animados com o movimento que voltou com força.
Um mercado e várias línguas
Desde o início da Conferência, em 10 de novembro, o Veropa — como os belenenses chamam carinhosamente o mercado — convive com uma diversidade de sotaques e línguas de todos os cantos do planeta. Silvana da Silva, que há 47 anos vende garrafadas, óleos medicinais e poções, observa a cena sentada na sua cadeira.
“Vem clientes do Brasil inteiro e do mundo. Sempre tem alguém para ajudar a entender o que eles falam ou então a gente faz mímica mesmo”, diz, rindo enquanto aponta para frascos coloridos que chamam atenção dos estrangeiros.
400 anos de história
Tombado desde 1977 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Ver-o-Peso é mais que um cartão-postal: é um pedaço vivo da história amazônica e a maior feira a céu aberto da América Latina. Em 2027, completará 400 anos.
A origem remonta a 1627, quando a Baía do Guajará era ponto de chegada de embarcações carregadas de peixe, frutas e especiarias. Chamado inicialmente de “Haver o Peso”, o local foi criado pelos portugueses para pesar produtos e cobrar tributos da Coroa.
O nome “Ver-o-Peso” viria depois, mas a essência permanece. Ainda hoje, antes de o sol nascer, barcos atracam trazendo o peixe fresco e o açaí que abastecem as bancas e garantem o movimento frenético das primeiras horas da manhã.
A engrenagem que move o Ver-o-Peso
No Ver-o-Peso, cada setor tem um ritmo próprio — e juntos formam uma engrenagem que move o mercado. Há bancas de alimentação com peixe frito e açaí; peixes frescos da região; castanhas, farinhas, doces típicos, frutas, hortigranjeiros, ferragens, aves, plantas e corredores de artesanato.
O espetáculo das erveiras
As erveiras são um espetáculo à parte. Pendurados em cordões, pequenos frascos de vidro cheios de líquidos coloridos prometem desde “limpar as energias” até abrir caminhos para realizar desejos específicos. Os rótulos arrancam sorrisos dos visitantes: chora nos meus pés, talismã do emprego, limpa corpo, abre caminho do amor, contra olho gordo, dinheiro grande, união do casal — e outros nomes tão ousados que não dá para publicar aqui.
Custam, em média, R$ 15, e quem compra não costuma levar apenas um. Tem também as garrafadas de ervas para banhos de limpeza e o famoso óleo de copaíba, com uma infinidade de indicações.
Identidade viva da cultura amazônica
Com quase quatro séculos de história, o Ver-o-Peso é, ao mesmo tempo, herança e pulsação diária da cultura amazônica. Ali se preservam saberes populares, práticas comerciais e modos de vida que moldam o jeito belenense de habitar a cidade. Entre o cheiro de tucupi fresco, o pregão dos feirantes e a profusão de cores que só a Amazônia oferece, o visitante entende por que o lugar ultrapassa a função de mercado. É experiência, rito e identidade.
Quem chega a Belém não pode — e não deve — deixar de passar por lá. O Ver-o-Peso é a porta de entrada mais verdadeira para sentir a alma da capital paraense.