Confirmada no Lollapalooza, pernambucana IDLIBRA lança EP que faz do eletrônico uma 'tecnologia contra violências'
DJ e produtora musical lança "CONTRACURRA", seu segundo EP, com parcerias da pernambucana Tremsete, da baiana EVYLiN e do produtor paulista BADSISTA

Clique aqui e escute a matéria
No pajubá — dialeto popular entre pessoas LGBTQIA+, especialmente trans e travestis — o termo “curra” é usado para se referir a uma violência, geralmente vinda de homens, nas ruas.
"CONTRACURRA" é o nome do segundo EP da DJ e produtora pernambucana IDLIBRA, confirmada na próxima edição do Lollapalooza Brasil, com show marcado para o dia 22 de março, em São Paulo.
Inspirada por ritmos urbanos como drum’n’bass, vogue beat e ghetto techno, Libra define sua musicalidade como “uma tecnologia contra a curra”.
"A minha musicalidade busca essa intersecção dos ritmos de rua. É como se eu estivesse dominando a rua para lutar contra o que ela me deu. O Recife me deu muita, muita curra, mas foi dessa cidade que eu nunca desisti. Ela me alimentou de inspiração para fazer esse trabalho", diz a artista ao JC.
De Olinda para o mundo
Natural de Olinda, Libra Lima, 28 anos, começou a carreira como DJ em 2016, tocando em festas do Recife e se aprofundando em pesquisas sonoras que misturam ritmos latinos com house e techno. Em 2023, lançou seu primeiro EP, "Muganga", que entrou na lista dos melhores do ano pela revista Noize.
Desde então, realizou quatro turnês na Europa e colaborou com nomes como MC GW, Carlos do Complexo e Juçara Marçal. No Recife, é também uma das curadoras do Kamikaze, palco de música eletrônica do festival No Ar Coquetel Molotov.
O conceito de "CONTRACURRA" começou a tomar forma a partir de uma colaboração com a rapper pernambucana Tremsete, conhecida por seu flow intenso e sua presença no Grime. "Queria me aproximar das musicalidades de rua a partir dessa relação com o hip hop, mas trazendo outros elementos, como o flerte com a cultura ballroom", explica Libra.
Vozes e conexões
Diferente de seus trabalhos anteriores, voltados às pistas e ao instrumental, o novo EP aposta em faixas com vocais e letras. "Eu sempre produzi músicas mais instrumentais, para a pista, ou usando samples de voz. Nesse EP, quis chegar num lugar onde as músicas cantam e rimam", conta.
Entre as participações, estão a artista baiana EVYLiN, com seu rap sensual e presença marcante no ballroom, na faixa "Pervertida", e o DJ e produtor paulista BADSISTA, presença fundamental na trajetória de IDLIBRA, que participa como rapper em "Vazare (This is Everything I Have)".
Com suas parcerias e novas experimentações, o EP constrói pontes entre o underground e o mainstream. "O meu processo de construção sonora é totalmente underground. Se em algum momento ele for considerado pop, é mais um reflexo do mundo do que um objetivo meu", diz.
Lollapalooza e um novo ciclo
O convite para o Lollapalooza, realizao no Autódromo de Interlagos, partiu do diretor artístico do festival, um reconhecimento que, segundo Libra, veio de forma inesperada.
"Em festivais grandes, geralmente há agências e curadorias envolvidas. Então, foi muito surpreendente. Chorei muito. É aquela notícia que você conta pra família, que talvez não entenda o mercado da música, mas entende a dimensão da conquista", relembra.
Com apresentações no Brasil e no exterior, a artista celebra o momento com emoção e lucidez. "Nunca imaginei uma carreira internacional. Isso me deixou muito feliz. Alcançar um sonho, e não uma meta, é uma sensação extasiante. O CONTRACURRA mostra nitidamente um novo nível de maturidade na minha trajetória."
"CONTRACURRA" chega ao streaming neste quarta-feira (22/10).