Grande retratista do Império ganha livro mais abrangente sobre sua obra
"O Espelho de Papel" reúne mais de 400 imagens de Joaquim Insley Pacheco (1830-1912), numa parceria entre o IHGB e a Editora Capivara
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Com as câmeras de alta definição sempre à mão nos celulares, é fácil esquecer que a fotografia já foi um privilégio restrito a poucos. O fotógrafo Joaquim Insley Pacheco (1830-1912), um dos mais importantes do século XIX no Brasil, viveu exatamente esse momento.
Ainda que limitada, a chegada da fotografia comercial foi também revolucionária: pela primeira vez, pessoas comuns podiam ser retratadas sem depender de pintores e de altos custos com quadros.
Esse contraste entre uma elite eternizada em imagens e as novas possibilidades da fotografia atravessa a trajetória de Pacheco, agora tema da publicação mais abrangente sobre sua obra: "O Espelho de Papel", livro que reúne 403 imagens ao longo de 160 páginas.
A edição é resultado de uma parceria entre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), que guarda parte do acervo do fotógrafo, e a Editora Capivara.
Os textos são do pesquisador, historiador e professor baiano Daniel Rebouças, com apresentação de Pedro Corrêa do Lago, sócio-titular e diretor de Iconografia do IHGB.
Fotógrafo da Casa Imperial
Nascido em uma aldeia próxima a Braga, em Portugal, e órfão ainda na infância, Pacheco chegou ao Brasil aos 13 anos. Viveu no Ceará e no Maranhão antes de se estabelecer no Rio de Janeiro, então capital do Império, onde se tornou fotógrafo oficial da Casa Imperial.
O posto o colocou diante de algumas das figuras mais importantes da história brasileira. Foram suas lentes que registraram alguns dos retratos mais conhecidos de D. Pedro II, da imperatriz Teresa Cristina – com quem manteve forte proximidade – e das princesas Leopoldina e Isabel.
Também posaram para ele nomes como Machado de Assis, Carlos Gomes e José de Alencar, além de políticos e intelectuais da época.
Entre os retratados, estão ainda o Marquês de Sapucaí, o Marquês de Olinda, o Visconde de Caravelas, o Visconde de Cairu, a Baronesa de Teresópolis, o Visconde de Mauá, o Marquês de Valença, o Marquês da Gávea, o jornalista Francisco Otaviano, o deputado e senador Rodrigues Silva e o regente Diogo Antônio Feijó.
Notável retratista, Insley Pacheco acompanhou de perto as inovações técnicas, incorporando rapidamente cada novidade que surgia na Europa e nos Estados Unidos.
Um de seus grandes êxitos foi a popularização da carte de visite, iniciada em 1861, então "moda mais popular da fotografia mundial", observa Daniel Rebouças.
"A coleção do IHGB guarda parte do imenso legado de Insley Pacheco para a fotografia no Brasil. Na arte do retrato, as suas lentes registraram uma notável amostra do 'mundo elegante, moços e moças, jovens e velhos da sociedade brasileira e estrangeira'. Decerto, a obra de Pacheco permite aprofundar nosso conhecimento sobre como a fotografia no Brasil se tornou, por excelência, a forma do registro de si e das memórias familiares, da construção de nossas identidades sociais, além de objeto de deleite visual, tão presente e natural, que é, por vezes, esquecido", afirma Rebouças.
Trajetória
O primeiro contato de Pacheco com a fotografia ocorreu em Fortaleza, em 1847, por meio do daguerreótipo. Dois anos depois, esteve no Maranhão e, antes de fixar-se no Rio, viveu uma temporada em Nova York, experiência decisiva para a sua carreira.
Na cidade americana, tornou-se aprendiz de Mathew Brady (1822-1896) e aprendeu "a estratégia de produzir retratos de pessoas influentes, expondo essas imagens em frente da galeria ou compiladas em álbuns, sempre disponíveis para a contemplação de visitantes do estúdio", relata Daniel Rebouças.
De volta ao Brasil, passou uma curta temporada no Recife, "um dos principais portos do país e uma das praças mais antigas da fotografia do Brasil imperial". Na capital pernambucana, atuou na região do Aterro da Boa Vista.
Já no Rio de Janeiro, abriu seu primeiro estúdio no segundo andar de um sobrado na Rua do Ouvidor.
"Os clientes iam buscar também a tecnologia fotográfica mais atualizada, outro aspecto de status, a mesma que andava circulando na Europa e nos Estados Unidos.Depois do sucesso da carte de visite, Insley Pacheco apostou nas fotografias aplicadas sobre porcelana, esmalte, vidro e marfim, inclusive tentando garantir a exclusividade da novidade no Brasil", explica o autor.
No início do século XX, participou das celebrações dos 400 anos do descobrimento do Brasil. Joaquim Insley Pacheco faleceu em 14 de outubro de 1912, aos 82 anos. "Sua obra é imensa, e não apenas em tamanho, mas sobretudo pela abrangência temporal e social registrada por suas lentes; é uma espécie de grande álbum do Brasil do século XIX."