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Quais mulheres fizeram a história de Pernambuco? Livro reúne 40 perfis

'Visionárias', da jornalista Danielle Romani, oferece leitura breve e acessível, enriquecida por ilustrações da própria autora

Por Emannuel Bento Publicado em 30/09/2025 às 17:17

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Ao ressaltar os feitos da política institucional, a história acaba também privilegiando figuras masculinas, que detinham o poder suficiente para serem lembradas.

Essa constatação incomodou também a jornalista Danielle Romani, que lançou "Visionárias – A presença das mulheres na História de Pernambuco", livro de 90 páginas que reúne 40 perfis de personagens situadas entre os séculos 16 e 21.

A publicação, de leitura breve e acessível, é voltada especialmente para jovens leitores e estudantes, e traz ilustrações feitas pela própria autora.

Entre as personalidades retratadas estão Brites de Albuquerque, que governou a capitania após a morte de Duarte Coelho; Branca Dias, judia perseguida pela Inquisição; e Bárbara de Alencar, revolucionária que se tornou uma das primeiras presas políticas do Brasil.

O livro não deixa de lado personagens historicamente silenciadas pela colonização, como indígenas e afrodescendentes, e avança até os tempos mais recentes, destacando nomes como a cirandeira Lia de Itamaracá e Raquel Lyra, primeira governadora de Pernambuco.

Como acessar o livro

A partir desta quarta-feira (1º/10), na página @visionarias2025, no Instagram, o público poderá baixar gratuitamente o arquivo completo em PDF, além de acessar a versão em audiolivro, voltada para pessoas com deficiência visual.

Danielle Romani, que tem especialização em História e Jornalismo pela Unicap, conta que a "fagulha" para o projeto surgiu após ler uma publicação com perfis de mais de 60 pernambucanos, dos quais apenas três eram mulheres.

'Guerra dos Mascates exclui a participação feminina'

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Danielle Romani, autora de 'Visionárias', em visita a escola estadual de Pernambuco - DIVULGAÇÃO

"O processo foi lento e feito a partir de leituras nos últimos quatro anos. Foi como um fio que foi se desenrolando. À medida que procurava material bibliográfico, jornais e fontes sobre a participação feminina, um nome foi me levando a outro. Não foi fácil, porque poucas são as fontes. De algumas mulheres consegui informações mínimas, compiladas de trechos de diversos documentos. A fase mais difícil foi a da Guerra dos Mascates, que praticamente exclui a participação feminina", disse, ao JC.

O principal critério de escolha foi a relevância das personagens para a vida pública pernambucana.

"Também optei por incluir mulheres cuja vida não teve tanta importância em termos de atuação social, mas que exemplificam os suplícios e dificuldades da época, como Ana de Faria e Sousa, acusada de traição e assassinada pela família do marido. Ela estava grávida, o marido esperou ela parir a criança para matá-la, o que demonstra uma crueldade e um domínio de vida e morte sobre as mulheres que chega a assustar."

As ilustrações

As imagens que acompanham os perfis foram produzidas a partir de cursos de desenho online que a autora frequentou entre 2020 e 2023, durante a pandemia. "No meio disso tudo, também comecei a desenhar as mulheres que compõem esse livro. O desenho apareceu de repente. Foi a única coisa boa da pandemia."

Distribuição

Publicado com incentivo do Funcultura, "Visionárias" foi distribuído a escolas públicas estaduais e a turmas de ensino médio.

"O propósito deste livro foi mostrar aos adolescentes a importância que as mulheres tiveram na história pernambucana, porque aparentemente, se formos ver as fontes oficiais, parece que as mulheres não fizeram nada", enfatiza Danielle.

"O propósito maior do livro foi esse: conscientizar os jovens de que homens e mulheres são igualmente guerreiros, corajosos e engenhosos. Precisamos mostrar isso para tentar brecar a violência de gênero, principalmente no nosso Estado, que tem grandes taxas de agressões à mulher e feminicídios."

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