Primeira mulher a tocar banjo em Pernambuco torna o samba mais diverso com roda feminina
Criado há sete anos, o grupo Leyde do Banjo e as Mari's do Samba reúne mulheres LGBT+ de Olinda e integra a programação do Transforma Pride 2025

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Há 30 anos, em uma visita ao Pagode do Didi, território sagrado do samba no Centro do Recife, a olindense Marileide de Melo Barboza Silva viu pela primeira vez um músico tocando banjo pessoalmente. Foi paixão à primeira vista.
"Eu já tinha vivência de violão e cavaquinha, mas tinha algo no som, na forma de tocar o banjo, que me apaixonou", relembra, ao JC.
Nascia ali a relação que resultaria em seu atual nome artístico, Leyde do Banjo, considerada a primeira mulher a tocar profissionalmente esse instrumento em Pernambuco.
Aos 51 anos, a artista carrega outro pioneirismo: há sete anos, fundou a primeira roda de samba exclusivamente feminina do Estado, onde também é vocalista.
Leyde do Banjo e as Mari's do Samba são atrações do Transforma Pride 2025, realizado no Cais do Sertão e na Rua do Observatório, no Bairro do Recife, neste sábado (27), das 14h às 23h, e domingo (28), das 11h às 20h. A entrada é gratuita.
Superando o preconceito no início da carreira
No começo de sua trajetória, Leyde tocava em grupos e rodas de samba, tendo de ouvir muitas vezes que "não sabia tocar". "Diziam que o meu lugar não era aquele, que eu era só cantora. Pois no samba, mulher canta, não toca", relembra.
"Causou certo espanto, porque, imagine, hoje ainda existe certa dificuldade. Agora, há 28 anos, era ainda pior. Mas foi muito importante, porque fez com que tantos homens entendessem mais e que as mulheres se incentivassem."
Ela seguiu em frente e fundou grupos como Amizade e Quintal das Crioulas que, embora tivessem muitas mulheres, também contavam com instrumentistas homens. Em paralelo, formou-se em psicologia, área na qual atua junto à carreira artística.
A criação do Mari's do Samba


Há sete anos, decidiu criar um grupo totalmente feminino e partiu para a pesquisa. "Sempre fui muito olheira", comenta. "Não queria um grupo para ensinar as meninas, então busquei mulheres que já conhecia ou pedi indicação. Eu toco cordas, mas precisava de percussão, instrumentos totalmente diferentes."
Assim nasceu o Mari's do Samba, atualmente formado por Carla Souza, Maria Gilvania, Neta Silva, Marília Fernandes e Meyre Fernandes. Todas são mulheres LGBTQIAPN+, embora isso tenha sido apenas uma coincidência.
"Uma coincidência boa", brinca a artista. "Digamos que a gente fala a mesma língua; sendo um grupo misto, não teríamos tanta afinidade. Lógico que não é uma regra para entrar no projeto."
Leyde do Banjo e as Mari's do Samba apostam em um samba mais "raiz, letrado e poético", segundo a vocalista e instrumentista do banjo, incluindo em seu repertório nomes como Clara Nunes, Lecy Brandão, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, além de Jorge Aragão e Zeca Pagodinho.
Mais desafios, conquistas e a presença feminina no samba
No início do grupo, o machismo voltou a se manifestar. "Casas de shows sempre nos colocavam para abrir, mesmo com o público pedindo para que fechássemos a noite. Operadores de som que, quando viam que éramos nós, não se aproximavam para montar os equipamentos", exemplifica Leyde.
"Hoje, a situação mudou. Conseguimos triplicar o cachê e conseguimos espaços em shows que antes não recebiam um pagode. Fazemos muitas festas particulares, casamentos da alta sociedade e em alguns estabelecimentos mais sofisticados, digamos assim." O grupo também tem viajado, como em recente show no Festival Lula Calixto, em Arcoverde, ou em outros estados, como o Rio Grande do Norte.
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Curiosamente, o samba e as mulheres LGBTQIAPN+ têm uma relação longa na região, a exemplo do antigo Bar da Cris, que ficava no Arruda, na Zona Norte do Recife. Hoje, observa-se outras iniciativas femininas de samba na cidade, como o Pagodéa, evento com público majoritariamente feminino.
"Costumo dizer que tenho uma missão. Fui muito julgada, castigada e perseguida, então percebo que hoje só movimentos de mulheres, mesmo que não sejam maioria, não passam pelo que passei. A aceitação é melhor. Estamos muito mais ampliadas do que antes, e eu fico muito feliz."
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