Cultura | Notícia

Lia Letícia reúne décadas de criação iconoclasta em exposição no Mamam, no Recife

Exposição 'Tudo Dá' ocupa os três andares do museu, com quatro núcleos: 'Para Lia, arte é parte dos conflitos e construções da cultura', diz curadora

Por Emannuel Bento Publicado em 26/09/2025 às 15:10

Clique aqui e escute a matéria

A arte de Lia Letícia sempre esteve para além das galerias, museus e demais espaços considerados "formais" ou oficiais. Radicada entre Recife e Olinda desde 1998, sua produção atravessa ruas, sets de filmagem, comunidades e salas de aula.

Nesse percurso, a artista se vale de múltiplas plataformas, como performance, instalação, pintura, objeto, vídeo, fotografia, serigrafia, direção de arte, além de ter atuado na gestão de espaços independentes, como o histórico Coletivo Mau Mau, na Zona Norte do Recife.

Em parceria com a curadora Clarissa Diniz, Lia apresenta, a partir deste sábado (27), no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), uma mostra panorâmica com cerca de 30 trabalhos que sintetizam sua poética.

Temáticas

DIVULGAÇÃO
Obra da exposição "Tudo Dá", que celebra a trajetória de Lia Letícia - DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Obra da exposição "Tudo Dá", que celebra a trajetória de Lia Letícia - DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Obra da exposição "Tudo Dá", que celebra a trajetória de Lia Letícia - DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Obra da exposição "Tudo Dá", que celebra a trajetória de Lia Letícia - DIVULGAÇÃO

Intitulada "Tudo Dá", a exposição ocupa os três andares do museu, estruturada em quatro núcleos. São obras de diferentes períodos e linguagens que, apesar da diversidade, convergem em torno de preocupações políticas.

Entre os eixos que movem sua pesquisa estão memórias insurgentes, ironia como posicionamento, ações performáticas de enfrentamento e práticas colaborativas.

O conjunto também evidencia singularidades de sua trajetória, propondo outras formas de representar corpos historicamente invisibilizados ou excluídos da narrativa oficial da arte.

"A abundância é o principal conceito poético e político que preenche os espaços entre os trabalhos, de diferentes temporalidades, que apresento em Tudo Dá. Destarte a presença da colonialidade tensionar frequentemente a minha trajetória desde os anos 2000, é a partir da prática e tática milenar comunitária do compartilhamento e multiplicação que penso não só os trabalhos da exposição, mas também minha poética artística e de vida", sintetiza Lia Letícia.

"A arte é parte dos conflitos e construções da cultura"

PRISCILA BHUR/DIVULGAÇÃO
Lia Letícia celebra trajetória nas artes visuais com a exposição "Tudo Dá" - PRISCILA BHUR/DIVULGAÇÃO

Para a curadora Clarissa Diniz, a relevância da obra de Lia está em romper com a ideia de autonomia da arte:

"Lia Letícia tem sua obra lastreada não na excepcionalidade e pretensa autonomia da arte, mas em seu oposto: sua ordinariedade, suas disputas, suas violências. Para Lia, a arte é parte dos conflitos e construções da cultura e, como tal, deve ser pensada, criticada e tensionada por práticas culturais que se situam à margem do coração de sua hegemonia econômica, política e simbólica."

Ela ressalta ainda que a exposição representa um marco na carreira da artista: "Não à toa, passaram-se muitos anos até que sua obra pudesse ser apresentada em conjunto numa instituição cultural de relevo: um gesto que, sem qualquer ambição de contemplar toda a sua trajetória, tem entretanto a intenção de compartilhar forças norteadoras de sua poética com os públicos do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães."

Olinda

A mudança para Olinda, há quase três décadas, também foi decisiva para a consolidação de sua prática. Ainda nos primeiros anos, Lia trabalhou no ateliê de Iza do Amparo e participou das ações do coletivo Molusco Lama.

"Aqui, Lia encontrou espaços, interlocutores e aliados tão instigantes quanto aguerridos para sua formação e atuação como artista. Desde então, tem desenvolvido uma obra vasta em contaminações e colaborações, hackeando e reinventando concepções elitistas de arte que, como velhas fortalezas, ainda hoje erigem muros que inocuamente tentam conter sua vocação ao múltiplo, ao outro ou ao avesso de si."

Os núcleos

  • No térreo, o núcleo "Nesta terra, tudo dá" reúne obras que denunciam o extrativismo (neo)colonial, contrapondo-o a uma filosofia da abundância.
  • No primeiro andar, "Artista desconhecida" mergulha na iconoclastia debochada que marca a obra de Lia, enquanto "Arriar a bandeira" questiona o triunfalismo do poder e seus discursos de progresso.
  • Já no segundo andar, "Desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem" reúne trabalhos que, a partir da experiência urbana, se insurgem contra as injustiças sociais contemporâneas.

A mostra fica em cartaz até 9 de novembro de 2025.

Serviço
"Tudo Dá", de Lia Letícia
Onde: MAMAM – Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Rua da Aurora, 265, Boa Vista, Centro, Recife)
Quando: a partir deste sábado (27), às 15h. Às 17h, haverá conversa aberta com a artista e a curadora, além do arriamento da bandeira Ordem de Cristo 1500.
Visitação: de quarta a sexta, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 10h às 16h.

Compartilhe

Tags