Sharlene Esse revive o deboche do Vivencial Diversiones em 'Shá da Meia-Noite'
Comédia em tom de vaudeville reúne a 'primeira dama trans do teatro pernambucano' com os dramaturgos Fábio Costa e Américo Barreto, em Olinda

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Há mais de quatro décadas, em pleno Complexo Salgadinho, Olinda foi palco de um fenômeno cultural que desafiou as convenções morais da ditadura: o Vivencial Diversiones, café-concerto que reuniu diferentes classes sociais em torno de espetáculos conduzidos por corpos dissidentes em gênero e sexualidade.
Hoje, essa experiência é lembrada como uma espécie de utopia queer, um território de invenção e liberdade.
Entre as vozes que nasceram desse espaço está Sharlene Esse, 63 anos, reconhecida como a "primeira dama trans do teatro pernambucano". Herdeiros da mesma época, os dramaturgos Fábio Costa e Américo Barreto seguem reinventando a estética e a irreverência do Vivencial — do palco às telas, como no canal Traque Hot, no YouTube.
O trio acumula uma trajetória que já passou por Paris, com o aclamado "O Drama das Camélias" (1985), e volta a se encontrar agora em "Shá da Meia-Noite", comédia em tom de vaudeville que Sharlene interpreta ao lado de Philipe Mendes e Nilson Giles.
O espetáculo tem sessões nesta quinta (18) e sexta-feira (19), às 20h, no Teatro Fernando Santa Cruz, vizinho ao Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos no Sympla.
O jogo do deboche
Na trama, Sharlene dá vida a uma cantora em decadência que tenta recuperar o estrelato, acompanhada por dois jovens coristas que, movidos pela inveja, conspiram contra ela. Um chá misterioso, no entanto, embaralha o rumo dos acontecimentos e dá início a uma sequência de delírios, brilhos e reviravoltas.
Segundo Fábio Costa, a dramaturgia incorpora fragmentos de As Criadas, de Jean Genet, especialmente nos embates verbais entre patroas e empregadas. “O espetáculo é uma oportunidade de brincar e criar. A irreverência do Vivencial está nesse jogo livre entre atores, nessa ousadia de rir uns dos outros. É um trabalho curto, de 30 minutos, mas que exercita canto, dança e liberdade em cena.”
"O que remete ao Vivencial é o deboche", resume Sharlene. "O deboche das criadas para as madames, das madames para as criadas, e as músicas que costuravam o espetáculo. Essa linguagem atravessa o texto."
Um novo momento para Sharlene
Aos 63 anos, Sharlene Esse vive um momento fértil na carreira, cada vez mais presente em produções audiovisuais. Ela integra o elenco de três longas e duas séries em finalização.
Ganhou destaque no documentário "Filhas da Noite", de Henrique Arruda, vencedor do Festival de Brasília. Ao lado do cineasta, também dirigiu e atuou em "Era uma vez Diversiones", premiado como Melhor Filme no Festival Noturno, realizado neste ano no Recife.
"Quando a gente planta uma sementinha, e é uma sementinha boa, você vai ter que colher alguma coisa. E, graças a Deus, a semente que eu consegui plantar germinou. E uma hora, você tem que colher os frutos", diz Sharlene.
"Não é fácil acompanhar a energia dessa juventude. Mas uma vez, um dos maiores comediantes que Pernambuco teve, Luiz Lima, disse para mim o seguinte: 'Enquanto você tiver carisma e talento, não vai ser a sua idade que vai lhe impedir de fazer algum trabalho. É você ter coragem, meter a cara e usar isso tudo a seu favor'."
"Shá da Meia-Noite" conta com trilha sonora de Douglas Duan, figurino de Charlotte Delfina, produção de Domingos Jr. e produção executiva de Rosinha Assis, Henrique Arruda e Filmes de Marte.
SERVIÇO
Shá da Meia-Noite
Onde: Teatro Fernando Santa Cruz, localizado no Mercado Eufrásio Barbosa (Av. Doutor Joaquim Nabuco, Varadouro, Olinda)
Quando: quinta (18) e sexta-feira (19), às 20h
Quanto: Ingressos gratuitos via Sympla.