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Vocação gastronômica de Brasília Teimosa é tema de documentário

'Frutos do Mar', de Mônica Jácome, mergulha nas razões que tornam o bairro um lugar único no Brasil, unindo culinária, memória e patrimônio

Por Emannuel Bento Publicado em 11/09/2025 às 16:10 | Atualizado em 11/09/2025 às 17:31

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A fama de Brasília Teimosa como polo gastronômico já é conhecida entre recifenses e até alguns turistas. Mas os aspectos históricos, sociais e naturais que levaram o bairro a ter essa característica ainda carecem de maiores olhares.

É nesse contexto que surge "Frutos do Mar – Tradição Culinária, Memória e Resistência na Brasília Teimosa", documentário dirigido por Mônica Jácome. O curta-metragem, de 25 minutos, mergulha nas razões que tornam o bairro um lugar único no Brasil, unindo culinária, memória e patrimônio.

A primeira exibição acontece em sessão pública e gratuita nesta quinta-feira (11), às 19h, na Escola Técnica Estadual João Bezerra, em Brasília Teimosa.

Conexões entre memória, comida e patrimônio

"Almoçando no Bar do Cabo e conversando com a chef Natália, percebi que havia uma situação muito interessante em relação à gastronomia daqui. É uma mistura de influências da culinária do mar, do mangue e também sertaneja, sobretudo nas técnicas de preparo. Em determinado momento da história, houve um grande êxodo de famílias fugindo da seca no interior para o Recife, e isso marcou a cozinha loca", explica Mônica ao JC.

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Imagem do documentário 'Frutos do Mar - Tradição Culinária, Memória e Resistência na Brasília Teimosa' - DIVULGAÇÃO
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Imagem do documentário 'Frutos do Mar - Tradição Culinária, Memória e Resistência na Brasília Teimosa' - DIVULGAÇÃO

Há anos, a diretora pesquisa as conexões entre memória, comida e patrimônio. Para o documentário, conversou com diversos personagens do bairro, indo além dos chefs de cozinha.

"Não queríamos fazer algo estritamente turístico. Temos os chefs Natália Oliveira, do Bar do Cabo, e José Bezerra dos Santos (Seu Zézinho), do Império do Camarão, mas também falamos com Dona Leu, uma marisqueira de figura única, e com João Pereira Filho, pescador cuja história remonta à Segunda Guerra Mundial", conta.

Mônica se impressionou com a forma como o conhecimento é transmitido entre gerações. "A transmissão de histórias e memórias não se perde. Isso se mantém vivo através de tradições culturais, como o maracatu, e da preservação desse bioma espetacular, que nasce do encontro entre oceano e mangue."

A tradição do Bar do Cabo

Um exemplo dessa continuidade é a chef Natália, do Bar do Cabo. Ela herdou dos pais a condução do espaço, fundado em 1979. "Meus pais criaram o bar num momento em que havia muito preconceito contra a comunidade. Existia discriminação e, por isso, muita gente de fora tinha receio de vir a Brasília Teimosa", relembra.

Hoje, ela afirma carregar com orgulho a história da família. "É muito importante falar sobre isso. Moro aqui em Brasília Teimosa, uma comunidade de luta e resistência. Tenho muito amor e honra pelo que faço, pela história dos meus pais. Para mim, cozinha é magia. A gente mistura os ingredientes e, quando o sabor explode, deu certo. É como um caldinho de bruxa", diz Natália, rindo.

Cultura como resistência

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Imagem do documentário 'Frutos do Mar - Tradição Culinária, Memória e Resistência na Brasília Teimosa'; na imagem, Dandara Martins, do CEPOMA, - DIVULGAÇÃO

O documentário também evidencia o papel dos educadores sociais, que utilizam a cultura como ferramenta de resistência. Taciana Melo, da Escola Mangue, e Dandara Martins, do CEPOMA, desenvolvem projetos que integram educação ambiental, cultura alimentar e memória popular.

Entre eles está o Maracatu Nação Erê, primeiro grupo infantil de baque virado de Pernambuco, criado em Brasília Teimosa, que completa 30 anos em 2025.

Segundo Mônica Jácome, a proposta foi "construir uma narrativa em que a própria comunidade pudesse mostrar ao poder público e à sociedade por que é fundamental valorizar e salvaguardar sua cultura alimentar e suas práticas de vida".

O documentário foi contemplado no edital Ações Criativas para o Audiovisual – Produção, da Lei Paulo Gustavo, executado pelo Governo de Pernambuco.

Saiba como assistir aos Videocasts do JC

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