Lia de Itamaracá prepara álbum com Daúde, incluindo inéditas de Emicida e Otto
Colaboração nos palcos virou registro em estúdio de São Paulo, com direção artística de Marcus Preto e produção musical de Pupillo

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O próximo disco da pernambucana Lia de Itamaracá, a cirandeira mais conhecida do Brasil, será em parceria com a baiana Daúde, uma das vozes negras mais representativas da MPB.
Lançado pelo Selo Sesc, o trabalho deve chegar ao público ainda no segundo semestre deste ano. O álbum nasceu de um espetáculo que ambas vêm apresentando desde 2018.
Agora, a colaboração ganhou registro no estúdio Da Pá Virada, em São Paulo, com direção artística de Marcus Preto e produção musical de Pupillo Oliveira, ex-integrante da Nação Zumbi.
"Sou ciranda desde menina. Trago no corpo as águas da minha ilha. E agora, com Daúde, senti que minha voz ganhou outros caminhos. É como se o vento do mar soprasse também no palco. A gente canta juntas e parece reza, parece celebração", diz Lia.
Repertório
O repertório reúne canções inéditas e clássicos do cancioneiro nacional. Entre as faixas, há composições feitas especialmente para elas por nomes como Emicida, Otto e Karina Buhr.
O álbum também reserva momentos solo. Lia revisita o bolero Quem é (1961), composto por Silvinho (1931–2019) e Maurílio Lopes, imortalizado por Agnaldo Timóteo. A cirandeira já vem explorando boleros desde "Ciranda Sem Fim" (2019).
Já Daúde interpreta "Galeria do Amor", do próprio Agnaldo, que batizou seu disco de 1975 e, em linguagem velada, exaltava a Galeria Alaska - ponto de encontro da cena gay carioca nos anos 1970. Agora, regravada, a faixa ressurge como um símbolo de liberdade, sob o olhar contemporâneo.
'Nos entrelaçamos de forma orgânica'
Sobre a parceria com Lia, a baiana diz que sentiu uma química desde o primeiro encontro, ainda nos palcos. "Começamos a participar dos shows uma da outra e logo percebemos que precisávamos registrar esse encontro potente, cheio de vertentes, magias e música”, diz Daúde.
"Temos diferenças de gênero musical, mas nos entrelaçamos de forma orgânica. Não existe a cantora urbana e a cantora da cultura popular. Existe emoção, escuta e conexão. Conseguimos, dentro desse caldeirão, nos entrosar e criar um trabalho incrível. Estar ao lado de Lia, uma mulher vitoriosa, é para mim um reforço: tudo é possível", completa.
Discografia
Lia de Itamaracá não tem lançamentos desde "Ciranda Sem Fim" (2019), elogiado álbum que teve patrocínio da Natura Musical. Sua carreira é marcada também por "A Rainha da Ciranda" (1977) e "Eu sou Lia" (2000).