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Patrimônio Vivo de PE, Mestra Ana Lúcia leva o coco de roda a Portugal

Líder do pastoril Estrela de Belém e do Acorda Povo, artista faz sua primeira viagem internacional, apresentando seu repertório e trocará experiências

Por Emannuel Bento Publicado em 08/08/2025 às 16:34

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Aos 81 anos, Ana Lúcia Nunes da Silva, a Mestra Ana Lúcia, mantém vivas tradições que acompanham sua família e comunidade há gerações.

Coquista de roda, líder do pastoril Estrela de Belém e do Acorda Povo, ela é Patrimônio Vivo de Pernambuco e agora se prepara para a primeira viagem internacional, onde apresentará seu repertório e trocará experiências com outros artistas.

Nesta segunda-feira (11), a mestra embarca para Portugal para participar do projeto "Todo o Mundo Tem um Amor", que promoverá uma série de ações no país, ao lado de integrantes de seus grupos Raízes do Coco e Estrelinhas do Coco. A programação inclui shows, oficinas e residência artística, a partir da quarta-feira (13).

Discípula de Dona Jovelina, uma das grandes referências do coco em Pernambuco, Ana Lúcia aprendeu desde cedo, também com o pai, Severino Nunes, o valor e a dedicação necessários para preservar manifestações criadas e mantidas pelo povo.

O projeto

MATEUS SÁ/DIVULGAÇÃO
Mestra Ana Lúcia - MATEUS SÁ/DIVULGAÇÃO

Batizado com o nome de uma de suas músicas, o projeto “Todo o Mundo Tem um Amor” amplia o alcance de seus conhecimentos e vivências para outras culturas. Para a mestra, trata-se de uma felicidade especial, pois ajuda a perpetuar um legado que se expressa na música, no corpo e na oralidade.

"É uma alegria muito grande poder, aos 81 anos, me apresentar pela primeira vez em outro país. Quero levar a bandeira de Pernambuco da forma que sempre fiz: com sinceridade e orgulho da nossa cultura. É um reconhecimento importante depois de tantos anos de trabalho e dedicação. No final das contas, é o amor pela cultura que me move, assim como movia minha mãe, meu pai e meus avós", afirma.

Acompanhando a mestra, viajam sua filha Totoca, seus netos Cíntia e Matheus, além de Simeia e Tito. Juntos, eles representam o Raízes do Coco e o Estrelinhas do Coco.

Ações

A jornada começa no dia 13 de agosto, na cidade do Porto, com uma residência artística junto ao grupo Coco dos Quatro Cantos, criado em 2024 por brincantes de coco de roda de diferentes partes do mundo.

Edvandro Santos, natural do Rio de Janeiro e radicado no Porto, integra o grupo e destaca a importância do encontro com o ícone da cultura pernambucana. Segundo ele, a iniciativa reforça o repasse geracional proposto pelo projeto, com a mestra compartilhando aspectos do coco de roda e suas experiências.

"Nosso principal objetivo como grupo é fazer coco na sua essência, trazer à Europa o brinquedo e mostrar por que ele é tão importante para a cultura brasileira, levantando o estandarte dos mestres e mestras. A vinda da Mestra Ana Lúcia é, antes de tudo, uma grande honra. Estamos felizes por dar esse passo e mostrar aos europeus quem ela é, além de demonstrar que nossa geração reconhece sua importância. A expectativa é ouvi-la, conversar, entender, aprender. Alegria, honra e gratidão definem o que sentimos", pontua Edvandro, que acompanhará a mestra durante toda a turnê.

"Para ser mestre, é preciso ter alunos"

Para Ana Lúcia, a possibilidade de transmitir seu saber é um incentivo constante.

"Para ser mestre, você precisa ter alunos. E, graças a Deus, eu tive muitos e continuo tendo. Formei muita gente e isso me orgulha. Já estou na quarta geração, ensinando até às netas das minhas pastoras. O coco, o pastoril, o Acorda Povo, tudo isso é motivo de alegria. Também trabalhei com teatro, o que mostra que podemos dialogar com muitas pessoas e muitas artes", reforça.

No dia 14 de agosto, a mestra segue para Coimbra, onde se apresenta no Salão Brazil do Jazz ao Centro Clube, com músicas dos repertórios do Raízes do Coco e do Estrelinhas do Coco.

Na ocasião, também será exibido o filme "A Rua é Nossa – Acorda Povo da Mestra Ana Lúcia", dirigido por Rui Mendonça e Zé Diniz. Lançado em 2024, o documentário registra a procissão festiva marcada pelo sincretismo entre tradições afro-brasileiras e católicas, que ocupa as ruas do bairro do Amaro Branco durante o período junino.

O encerramento da turnê será em Reguengos de Monsaraz, onde a mestra promoverá uma oficina de Dança e Oralidade e se apresentará no 25º Festival Andanças.

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