Álbum do Baianasystem é 'quase uma revolução contra a inteligência artificial', diz Russo Passapusso
"Queremos internacionalizar a mensagem musical como língua principal do planeta, contra guerras e todos esses processos', diz vocalista em Pernambuco

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O grupo BaianaSystem tem rodado o Brasil — e o mundo — com a turnê do seu mais recente álbum, "O Mundo Dá Voltas", considerado o mais "brasileiro" pelo vocalista Russo Passapusso. "Ele grita mais a alma brasileira do que tudo o que fizemos até então", diz, ao JC.
O disco é uma espécie de continuidade de "O Futuro Não Demora", lançado em 2019. "Agora, estamos no futuro, depois de uma era de extremos políticos e da natureza, o pós-pandemia", diz Russo, antes de se apresentar no festival Pernambuco Meu País, em Serra Negra, neste sábado (9).
"Queremos internacionalizar a mensagem musical como língua principal do planeta, contra guerras e todos esses processos. Queremos que o mundo volte a essa confluência, esse grito de coletividade, como se fazia antigamente, antes das singularidades de produção, da coisa da solidão de artistas solos", continua.
Para ele, "isso vai de encontro com o que a gente vê hoje: música com inteligência artificial, das coisas pré-concebidas, marcadas dentro daquilo ali. A gente luta. É quase uma revolução contra a inteligência artificial".
O álbum conta com muitas parcerias, entre elas Emicida, Seu Jorge, Gilberto Gil, Pitty e Anitta. "São pessoas que vieram e agregaram. Escrever letras para fazer parte da parceria, como um processo", conta.
BaianaSystem para crianças?
Russo comenta que ainda existe "muito espaço para experimentação" no grupo e, embora não possa revelar tantos detalhes, deve trabalhar ainda mais a guitarra baiana em breve.
"Também gostaria muito de fazer um 'BaianinhaSystem'. A primeira coisa que eu gostaria de fazer seria isso, hoje em dia, mas posso estar errado futuramente."
"O experimentalismo dos shows grita para aparecer no disco, mas a gente segura. O Baiana hoje é uma banda que dialoga muito fácil com o público do rock, não porque fazemos rock, metal ou punk, mas pela expressão do próprio público no show, que começa a agir com certa atitude, de acordo com as mensagens que estão sendo colocadas."
A atual turnê se chama Luanda Rock Show, que resgata uma espécie de afro-rock, de "gritos africanizados".
Influências de Pernambuco
Beto Barreto, guitarrista e idealizador do BaianaSystem, comenta que Pernambuco está muito presente na banda pelas similaridades com a Bahia.
"Existe uma grande influência afrodescendente nos dois estados, a coisa dos tambores, a cultura de rua popular, a culinária e a religiosidade. Então, são aspectos que naturalmente se refletem", diz.
"O baião de Luiz Gonzaga e o frevo pernambucano influenciam a gente aqui pela Orquestra Vassourinhas. Como guitarrista, gosto de citar a influência principalmente de Paulo Rafael, que foi guitarrista de Alceu Valença, Robertinho do Recife e Ivinho (do Ave Sangria)", diz Beto.
"Paulo influenciou toda uma geração de guitarristas contemporâneos. Lúcio Maia também revolucionou a guitarra pernambucana. Outra pessoa que esteve sempre com a gente é a Karina Buhr. São muitos pernambucanos nos influenciando e nos estimulando."
'A partir da ancestralidade podemos fazer um legado'
Há 10 anos apontado como exemplo de renovação da música baiana, o grupo nega o rótulo: “Não estamos criando nada, mas arranjando e experimentando, nos permitindo experimentar a partir de tudo o que existe: samba, samba-reggae, frevo, reggae, rock, Dodô e Osmar, Armandinho, Olodum, dos tambores, dos mestres, de quando você vai na rua e ouve as referências”, diz.
“Mas, sim, existe uma responsabilidade a partir do momento em que você vê como uma nova forma de produzir, de como as pessoas estão tendo acesso a uma velocidade muito grande, às vezes. A gente pode olhar para nossa cultura, para nossa ancestralidade e, a partir daí, conseguir fazer o nosso legado”, completa.
Confira a programação do Pernambuco Meu País:
Sábado (9/8)
17h30 - Afoxé Alafin Oyó
18h20 - Renata Rosa
19h50 - Tássia Reis
21h40 - Mago de Tarso
23h30 - Baiana System
Som na Rural e DJ Ari Falcão (nos intervalos)
Domingo (10/08)
16h30 - Clube Carnavalesco Vassourinhas de Olinda
17h20 - Morganna Bernardo
18h50 - Cátia de França
20h40 - Frevo Mulher com Nena Queiroga, Gaby Amarantos, Elba Ramalho e Roberta Sá
22h30 - Teatro Mágico
Som na Rural e DJ Renna (nos intervalos)