Caruaruense se inspira no cordel e será o primeiro nordestino no Campeonato Internacional de Mágica
Rapha Santacruz disputa competição na Itália, vencida por brasileiros apenas em 1988: 'Faço mágica tocando pífano e pandeiro'

Durante uma ida ao Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, palco de grandes momentos da cultura em Caruaru, no Agreste, o pequeno Rapha Santacruz, então com 7 anos, ganhou do pai um kit de mágica para brincar.
Até os 12 anos, conheceu mágicos de rua e de circo, passando a fazer suas próprias apresentações em festas de aniversário, na escola e em shoppings. Mais tarde, iniciou a faculdade de Fisioterapia enquanto trabalhava como cabeleireiro. Mas a mágica falou mais alto.
"Abandonei tudo e me dediquei exclusivamente à mágica. Aos 22 anos, comecei a desenvolver a linguagem artística com a qual trabalho hoje, fruto de imersões no teatro, no circo e na música - esta última, de forma mais intuitiva", conta Rapha Santacruz, hoje com 37 anos, ao JC.
Neste mês, o caruaruense embarca para Turim, na Itália, como o primeiro mágico do Nordeste a chegar ao Campeonato Internacional de Mágica (CIM), a mais importante competição do gênero no mundo, organizada pela Federação Internacional das Sociedades Mágicas.
Desde a criação do evento, que está em sua 29ª edição, apenas uma premiação foi conquistada por brasileiros: a da renomada dupla Vick e Fabrini, em 1988.
O Nordeste no palco do mundo
Apesar de ter ido tão longe, as raízes de Caruaru, do Agreste e de Pernambuco permanecem presentes em seu trabalho, constituindo, na verdade, o seu grande diferencial.
Rapha concorrerá ao troféu com o espetáculo "O Matuto", inspirado na literatura de cordel e desenvolvido a partir de uma pesquisa que entrelaça a mágica com a cultura popular.
Essa é a "linguagem atual" a que ele se refere no início da entrevista. "Faço uma pesquisa de ilusionismo trazendo a cultura brasileira para dentro da mágica", explica.


Essa abordagem específica tem sido pioneira no Brasil, abrindo espaço para as chamadas "artes mágicas" e deslocando a linguagem para além do entretenimento.
"Faço mágica tocando pífano, tocando pandeiro. A cultura popular está presente na pesquisa do corpo, da linguagem, da maquiagem, do figurino, dos elementos cênicos, nas músicas. Tudo isso faz parte de uma composição", diz.
"A proposta é enxergar a mágica com a cara do Brasil, fazer com que as pessoas se reconheçam durante a encenação. Para os espetáculos, realizo um profundo trabalho de pesquisa e investigação", explica.
Entre espetáculos e a formação de novos ilusionistas
Além de "O Matuto", Rapha já idealizou os espetáculos "AbraCASAbra", "Sonho de uma Profissão", "Haru: A Primavera do Aprendiz", "Roda" e "Figuras Mágicas", com os quais circula pelo Brasil e pelo exterior. Ele já participou das edições latino-americanas e europeias do CIM.
"No Brasil, acredito que São Paulo concentre o maior número de mágicos. Em Pernambuco, sou alguém que vem formando vários profissionais na área. Existem mágicos no Recife, em Caruaru. No entanto, ainda não é uma linguagem com tanta expressividade no Estado, nem com grande relevância no cenário nacional ou internacional", pondera.
No Recife, Santacruz também produz o Festival Internacional de Mágica (FIM), que já realizou cinco edições e tem ajudado a fomentar a cena mágica no Estado.
Sobre o Campeonato Internacional de Mágica, ele finaliza: "Senti-me muito honrado e feliz por ter sido selecionado com esse trabalho, através do qual levo Caruaru, Pernambuco e o Nordeste do Brasil. Para mim, ser selecionado já é uma vitória. Estar entre os melhores do mundo é uma grande realização. Já já estou muito feliz."