ARTES VISUAIS | Notícia

Imagens de mulheres em 'armaduras' tomam as ruas do Recife contra a violência; confira

Imagens do projeto "Perseguidas" confrontam a violência de gênero nos espaços públicos, sobretudo em ônibus, estações e paradas de transporte coletivo

Por Emannuel Bento Publicado em 09/06/2025 às 17:42 | Atualizado em 09/06/2025 às 17:46

Mulheres vestidas com armaduras feitas de arames, facas e agulhas estampam lambe-lambes espalhados por pontos movimentados do Recife. As imagens confrontam a violência de gênero nos espaços públicos, sobretudo em ônibus, estações e paradas de transporte coletivo.

Trata-se da exposição urbana "Perseguidas", concebida pela artista Andréa Veruska em parceria com a fotógrafa Camila Silva.

CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO
Imagem da uma obra de "Perseguidas", projeto de arte urbana concebido pela artista Andréa Veruska e a fotógrafa Camila Silva - CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO
CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO
Imagem da uma obra de "Perseguidas", projeto de arte urbana concebido pela artista Andréa Veruska e a fotógrafa Camila Silva - CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO

As obras, impressas com até três metros de altura, estão fixadas em muros dos terminais integrados de Afogados e do Barro, além de paradas de ônibus e vias de grande circulação, como a rua da Aurora (Boa Vista), as avenidas Norte (Casa Amarela), República do Líbano (Pina) e Cruz Cabugá (Santo Amaro), e também a rua do Pombal, em Santo Amaro - uma área de baixa movimentação e alta sensação de insegurança, mesmo estando próxima à Delegacia da Mulher. Confira os pontos:

  • Centro: Próximo à parada de ônibus na rua da Aurora, esquina com a rua da Imperatriz (Boa Vista); em frente ao Mix Mateus da avenida Cruz Cabugá (Santo Amaro); e na rua do Pombal, perto da Delegacia da Mulher (Santo Amaro).
  • Zona Norte: Avenida Norte, nas imediações da Praça do Trabalho (Casa Amarela).
  • Zona Oeste: Terminais integrados de Afogados e do Barro.
  • Zona Sul: Próximo ao shopping RioMar Recife (Pina).

O projeto é fruto de uma criação coletiva que reúne, além de Andréa Veruska e Camila Silva, a multiartista e designer Aurora Jamelo, mulher trans; a artista visual e arte-educadora Mariama de Aquino e o artista urbano Filipe Gondim.

Todas as fotografias estão acompanhadas de QR Codes, que direcionam para audiodescrições das imagens e para o perfil do projeto no Instagram (@projeto_perseguidas).

Repúdio à naturalização da violência

CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO
Imagem da uma obra de "Perseguidas", projeto de arte urbana concebido pela artista Andréa Veruska e a fotógrafa Camila Silva - CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO
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Imagem da uma obra de "Perseguidas", projeto de arte urbana concebido pela artista Andréa Veruska e a fotógrafa Camila Silva - CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO
CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO
Imagem da uma obra de "Perseguidas", projeto de arte urbana concebido pela artista Andréa Veruska e a fotógrafa Camila Silva - CAMILA SILVA/DIVULGAÇÃO

A proposta nasceu a partir de uma performance apresentada por Veruska em 2017. Na ocasião, ela percorreu espaços e transportes públicos vestida com uma armadura de pregos enferrujados, iniciando um gesto artístico de repúdio à naturalização da violência contra a mulher. Oito anos depois, agora grafada em piche, “Perseguidas” continua sendo um "grito visual".

"A nossa intenção é a de que os homens, ao verem essas mulheres armadas, sintam um pouco o medo que a gente sente", afirma Veruska. 

"Ao sair de casa, o homem, no máximo, pensa que pode ser roubado. Já a mulher tem que pensar em onde e como vai, em qual roupa vai usar e por onde vai passar", explica a artista. A ideia surgiu durante uma pesquisa sobre gênero e performance realizada junto ao ator Wagner Montenegro, no Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido (Nexto), criado por ambos.

Inspirações

Naquele período, Veruska teve contato com o livro "Teoria King Kong", da escritora francesa Virginie Despentes. A autora relata ter sofrido um estupro aos 17 anos, mesmo estando armada, pois foi socializada a não reagir. A partir dessa reflexão, Despentes argumenta que, enquanto o homem é educado para o abuso, a mulher é ensinada a silenciar.

"É por isso que, mesmo num ônibus ou num vagão de metrô cheios, com um monte de gente olhando, os homens não se inibem, eles não ficam constrangidos. Eles acocham, passam a mão, assediam."

Veruska também relembra o relato de uma amiga que usava um palito japonês no cabelo como arma de defesa contra abusadores em ônibus. “Nas entrevistas para a minha pesquisa, todas as mulheres tinham história de assédio em transporte público ou caminhando na rua”, observa.

Uma pesquisa realizada em 2019 pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com mais de mil mulheres em todo o país, revelou que 97% delas já haviam sido vítimas de assédio em transportes públicos. Por conta disso, cidades como Recife, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte oferecem vagões exclusivos para mulheres nos horários de pico.

"Eu entendo esse projeto como uma forma urgente e necessária de comunicação, ao trazer as mulheres de formas grandiosas, imponentes, em bando. Como uma mulher, fotógrafa e realizadora audiovisual, desejo incansavelmente utilizar os recursos comunicacionais visuais para colocar nossos gritos nas ruas, nas casas, nos espaços públicos e privados", declara Camila Silva, que colabora com Veruska desde 2017, quando filmou uma de suas performances no Metrô do Recife.

Fotografadas

A exposição retrata mulheres como Andréa Veruska, Aurora Jamelo, Bruna Alves, Íris Campos, Mariama de Aquino e Nilza Souza, todas fotografadas por Camila Silva.

A artista Lia Letícia, convidada para integrar a equipe curatorial, assina o texto “Medo É Raiva”, em que afirma: “Qualquer mulher prefere encontrar o diabo do que um homem quando está sozinha na rua”. Ao lado de instruções repetidas como “ande no meio da rua, sente atrás do banco do motorista, corra, grite”, ela propõe uma nova: “sinta raiva, revide”.

SERVIÇO
Exposição fotográfica urbana "Perseguidas"

Centro: Próximo à parada de ônibus na rua da Aurora, esquina com a rua da Imperatriz (Boa Vista); em frente ao Mix Mateus da avenida Cruz Cabugá (Santo Amaro); e na rua do Pombal, perto da Delegacia da Mulher (Santo Amaro).
Zona Norte: Avenida Norte, nas imediações da Praça do Trabalho (Casa Amarela).
Zona Oeste: Terminais integrados de Afogados e do Barro.
Zona Sul: Próximo ao shopping RioMar Recife (Pina).

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