Banda Howay lança novo EP com Buguinha Dub

EXPERIMENTO Quarteto pernambucano injeta caboclinho, frevo, maracatu e cordel no dançante ritmo jamaicano no EP Afinco
Daniel Ferreira
Publicado em 20/10/2020 às 2:00
EVOLUÇÃO Guto Quijano (à frente) afirma que os ritmos regionais entraram no som de forma natural Foto: HUGO MUNIZ/DIVULGAÇÃO


Guitarra, trompete, trombone, baixo e voz. Imagine que maravilha deve ser o resultado dessa junção de instrumentos com o talento dos músicos. Agora, abra alguma plataforma de streaming e procure pela banda Howay. Pronto, achou a materialização desse conceito super dançante. O quarteto aposta na mistura do ska jamaicano, já explorado por outros artistas brasileiros, com ritmos nordestinos. Como resultado desse experimento, surgiu o EP Afinco.

Produzido por Buginha Dub quem já trabalhou com Nação Zumbi, BaianaSystem, Flora Matos e tantos outros artistas, Afinco é como um compacto duplo de antigamente: traz quatro faixas — Cidadão Exemplar, Olho Branco, Na Beira do Caos e O Filme da sua Vida (que abre com o cordel de Zé Bodega), embriões do segundo disco. O primeiro, Arrebate, é de 2017.

A Howay nasceu como um quarteto de hardcore melódico formado por integrantes de duas bandas que se conheciam e resolveram "tirar um som". Originalmente, o nome da banda seria "No Way", mas o erro na confecção de um cartaz para um minifestival terminou rebatizando a banda para Howay. Da formação original, resta apenas Guto Quijano no vocal e guitarra. A ele se juntaram Sávio Ferraz no baixo, Pedro Moraes no trompete e Mário Menezes com o trombone. Além dos quatro músicos, a Howay é acompanhada por Max Matias na percussão, Felipe Gomes na bateria, Rodrigo Marques no sax tenor e Denys Nascimento com o sax alto.

Muita gente não conhece ska pelo nome, muito embora Paralamas do Sucesso, Raimundos, Skank e Charlie Brown Jr., entre bandas de sucessos nacionais, tenham música neste ritmo. Questionado, Sávio Ferraz afirma não conseguir identificar as razões para isso. "Não sei explicar o motivo. O reggae, que é derivado do ska, consegue ser muito mais conhecido", fala.

"Acho um ritmo altamente pra cima, com potencial de ser bastante comercial. É pouco conhecido, apesar de muita gente já ter ouvido. Acontece que as pessoas normalmente rotulam como pop rock quando ouvem. Exemplo claro disso é o Paralamas do Sucesso, que quase ninguém vai dizer que é uma banda de ska", argumenta.

A decisão de focar no ritmo não foi algo pensado pela Howay. "A banda nasceu tocando hardcore melódico e a mudança pro ska veio com o tempo, de forma natural. Não foi algo planejado. As referências das coisas que nós ouvíamos nos influenciou a mudar o estilo da banda. Nós já buscávamos por algo novo na época, algo que nos fizesse sair da zona de conforto", afirma Guto Quijano.

Os ritmos pernambucanos, por si só, já possuem bastante personalidade. Quem imaginaria que daria certo juntá-los com um gênero tão distinto? O processo de elaboração do EP demandou bastante estudo do quarteto, que analisou do maracatu ao caboclinho para assimilar como eram tocadas as percussões corretamente.

Assim fizeram, também, com as orquestras de frevo de rua para entender melhor as melodias dos instrumentos de sopro. Mário Menezes conta algumas das influências foram essenciais durante o trajeto. "A gente acaba absorvendo um pouco de quem já faz misturas, como Siba e Antônio Nóbrega que fazem um ótimo trabalho com ritmos regionais, Chico Science & Nação Zumbi que também misturam muito do regional com outros ritmos. Ou o próprio Spok e seu frevo com influências de jazz."

Foram meses de dedicação até o resultado final. Foi um processo complexo, afinal, apesar de serem admiradores dos ritmos regionais, nunca tinham feito nada semelhante. Para isso, eles contaram com a ajuda do produtor Buguinha Dub. O desejo de uma parceria já era antigo e acabou se tornando realidade com Afinco.

"Quando falamos com Buguinha sobre o EP, a gente sabia que teria à frente do trampo um cara que entende do que a gente faz, tanto do ska, quanto do regional. A quantidade de trabalhos voltados a esses estilos que ele já fez é enorme e com certeza a gente pensa em repetir em repetir essa parceria no próximo disco", adianta Guto.

Mário conta que depois do lançamento de Afinco, as pessoas estão perguntando mais sobre o ska. Ele acredita que um dos papéis da Howay, hoje, é o de concretizar e ensinar mais sobre o ritmo para o público. "Outro grande objetivo nosso é movimentar a cena do ska no Brasil, porque tem muita banda boa aqui tocando ska que precisa ser vista e a gente quer muito unir essa galera pra fortalecer ainda mais o movimento", complementa.

Shows pulsantes e recheados de músicas feitas de corpo e alma. Essa é a essência da Howay, que partilha a energia e força dos tambores com o ska, deixando tudo ainda mais para cima. "Nosso público sabe que o que tá vendo em cima do palco ou ouvindo em qualquer lugar", comenta Guto, que garante existir uma entrega verdadeira no palco.

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