O cantor americano Trini Lopez, falecido nessa terça-feira (11), aos 83 anos, em consequência da covid-19, fez uma temporada de um mês no Olympia Theatre, em Paris, no mês de janeiro de 1964.Na época, ele estava em primeiro lugar nas paradas de 36 países, com If I Had a Hammer (Peter Seeger).
Foi casa cheia todos os dias, com duas, às vezes, três sessões. Os shows de abertura eram feitos por Sylvie Vartan, cantora pop francesa, e pelos Beatles, que começavam a fazer sucesso fora da Inglaterra e que, no mês seguinte, estourariam nos Estados Unidos, logo em seguida no mundo inteiro.
Trini Lopez não podia imaginar que não teria vez na música pop que os Beatles levariam para os EUA. Em entrevista para um jornal francês, o cantor americano de ascendência mexicana ficou sabendo da viagem programada para o grupo de Liverpool, e comentou que eles não fariam sucesso: "A gente tem lá um grupo de que gosto muito, os Beach Boys, bem melhores do que os Beatles".
Lopez teve sorte de ter gravado seus discos mais bem-sucedidos antes da beatlemania se instalar em seu país. Ironicamente, ele participou do mesmo programa de TV — o do apresentador Ed Sullivan — que levou os Beatles a praticamente todas as casas americanas.
Nascido em Dallas, Texas, de pai mexicano e mãe espanhola, ele começou a carreira com 15 anos, sem um sucesso nacional. Quem primeiro reconheceu seu talento foi Buddy Holly, um dos pioneiros do rock dos anos 50, que o recomendou ao seu produtor Norman Petty.
Trini Lopez contou que foi com a banda ao estúdio de Petty, que se interessou pelo grupo, não pelo cantor, por ser mexicano. Naquela época, no Sul americano, mexicanos eram tão discriminados quanto os negros.
Depois de gravar vários 78 rotações sem sucesso, ele se mudou para a Califórnia. Em 1963, cantava em clubes noturnos na região de Los Angeles, quando foi visto pelo maestro Don Costa, que trabalhava na época com Frank Sinatra.
Costa levou Trini Lopez para a Reprise, gravadora recém-fundada por Sinatra. Teve a acertada ideia de produzir o primeiro álbum de Lopez com o registro de uma gravação ao vivo, no PJ's, um dos clubes de L.A.
Com um levada moderada de rock, que ganhou o nome de go-go, para todas as faixas, Trini Lopez cantou um repertório de canções manjadas, entre clássicos folk e da música popular americana. O diálogo e interação entre o cantor e o público, que fazia coro e batia palmas, foi a receita do sucesso.
Trini Lopez Live at PJ's tocou muito no Brasil, e acabou influenciando Wilson Simonal, que incorporou o estilo do americano ao seu jeito de interpretação, gravando canções também manjadas, num balanço que ganhou o nome de pilantragem e fez bastante sucesso, embora fugaz: de 1966 a 1968.
Foi a fase de maior sucesso comercial de Simonal, que se estendeu até 1970. A influência de Trino Lopez no Brasil foi tão grande que ele teve um cover, o paulista José Gagliard Jr., que adotou o nome Prini Lorez e integrou as hostes do programa Jovem Guarda.
MUDANÇAS A CAMINHO
Como se adivinhasse que as mudanças estavam a caminho, Trini Lopez, entre 1963 e 1964, lançou cinco LPs, todos de grandes vendagens. Dos três que gravou em 1964, o The Latin Album foi talvez mais bem-sucedido do que o primeiro disco.
No repertório, Trini Lopez explora suas raízes mexicanas, trazendo de volta às paradas boleros de décadas anteriores como El Reloj, Besame Mucho, Perfídia, Quizas, Quizas, Quizas, e clássicos do repertório em língua espanhola, como Granada e La Malagueña.
Estando em Los Angeles, apadrinhado por Frank Sinatra, Trini Lopez acabou numa superprodução do cinema: The Dirty Dozen (no Brasil, Os Doze Condenados), de Robert Aldrich, um filme recheado com estrelas do naipe de Lee Marvin, Charles Bronson, Ernest Borgnine, Robert Ryan e Donald Sutherland.
Lopez poderia ter ido mais longe no cinema, mas se desentendeu com o diretor, causando a morte prematura de seu personagem num salto de paraquedas. Ele só voltaria às telas em 1970, em dois filmes menores e em papéis também de pouca importância na TV. A carreira de sucessos de Trini Lopez teve seu auge em 1965. Parou em 1968. Mas, até o final da vida, continuou fazendo shows e gravando.
Trini Lopez apresentou-se no Rio no auge do sucesso, em 1964, e voltaria no ano seguinte. Era tão popular entre os brasileiros que ficou entre os cinco melhores cantores do país (sic), numa enquete da revista Intervalo.
Trini Lopez foi o quinto melhor do ano de 1964, depois de, pela ordem, Moacyr Franco, Agnaldo Rayol, Roberto Carlos e Altemar Dutra. Mesmo que provavelmente nem saiba quem foi Trini Lopez, boa parte dos cantores de barzinho país afora canta seu pot-pourri de boleros, Perfídia, Besame Mucho, e Quizas, Quizas, Quizas.