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Neonazismo: Conselho Nacional vem a Pernambuco discutir expansão de células extremistas

Comitiva de Direitos Humanos desembarca na quarta-feira (24) para abordar com autoridades o enfrentamento a fenômeno e crime que avançam no País

Por Raphael Guerra Publicado em 18/07/2025 às 10:17 | Atualizado em 18/07/2025 às 10:18

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O crescimento das células neonazistas pelo País, com discursos de ódio e ataques violentos, tem preocupado e desafiado autoridades nas investigações e punição aos responsáveis, com base na lei federal antirracismo. Para discutir medidas de enfrentamento a esse fenômeno, uma comitiva do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) desembarca em Pernambuco, na próxima quarta-feira (24), com uma missão de três dias.

A primeira parada do grupo será no município de Caruaru, no Agreste. A escolha não foi à toa. O Centro de Formação Paulo Freire, que pertence ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST) e está localizado no assentamento Normandia, foi alvo de ataques com pichações na madrugada de 12 de novembro de 2022.

Imagens de uma suástica e da palavra "mito", o que pode indicar uma referência bolsonarista, foram escritas nas paredes do imóvel. O grupo criminoso também incendiou a residência de uma coordenadora do centro. 

Na época, além do MST, entidades ligadas aos direitos humanos e políticos de esquerda cobraram a identificação dos responsáveis e punição. O episódio, no entanto, ainda não teve um desfecho. Questionada pela coluna Segurança, a Polícia Civil de Pernambuco afirmou, em nota, apenas que "o caso segue sob investigação". 

MISSÃO CONTRA O NEONAZISMO

"Chegar ao Nordeste é uma tarefa que marca algumas estratégias para a construção de uma política nacional de enfrentamento a este tema. A primeira delas é desmistificar a ideia de que este é um problema regionalizado, pois ele afeta o Brasil como um todo e, mais do que isso, não tem fronteiras em razão dos seus ataques contínuos na internet", declarou Carlos Nicodemos, coordenador da Relatoria Especial para o Enfrentamento às Formas Contemporâneas de Discriminação e Propagação do Discurso de Ódio e ao Crescimento do Neonazismo no Brasil.

No segundo e terceiro dia de trabalho da missão em Pernambuco, as ações de combate a células neonazistas serão no Recife. Na quinta-feira (24), está programado encontro com a governadora Raquel Lyra, que deve ser cobrada sobre a investigação do ataque ao centro de formação do MST em Caruaru.

Reuniões também estão previstas com a presidência do Tribunal de Justiça e com o procurador-geral do Ministério Público.

À tarde, a partir das 14h, será realizado um seminário na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no bairro da Boa Vista, área central do Recife. 

Na sexta-feira (25), último dia, estão agendados encontros com o prefeito João Campos e com membros da Assembleia Legislativa, além da realização de audiência pública na sede da Ordem dos Advogados do Brasil - seccional Pernambuco (OAB-PE), em Santo Amaro.

Ainda está prevista uma reunião com representantes de religiões de matriz africana e indígena.

NORDESTINOS, MULHERES, NEGROS E LGBTQIAP+ SÃO ALVOS

A missão do Conselho Nacional reuniu informações de trabalhos já produzidos sobre movimentos neonazistas. Um deles aponta que, para além dos judeus, esses grupos mantêm no alvo os nordestinos, mulheres, negros e LGBTQIAP+, com discursos de ódio e extremistas. 

O mapa elaborado pela antropóloga Adriana Dias estimou que essas células cresceram 270% no Brasil, entre janeiro de 2019 e maio de 2021, se espalharam e hoje estão presentes em todas as regiões do País. No início de 2022, havia mais de 530 grupos.

"O que está em curso no Brasil, incluindo o Nordeste, é o avanço de um ambiente permissivo à violência política, racial e de gênero que põe a vida em risco. Pernambuco acumula episódios que revelam a profundidade dessa barbárie, como a morte brutal de um militante do MST, atropelado durante uma marcha pacífica e o assassinato de uma mulher trans, negra e em situação de rua, que foi queimada viva no centro do Recife, anos atrás", destacou a cientista social Edna Jatobá, coordenadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), uma das organizações que compõem o CNDH na
representação da sociedade civil.

"Casos como esses evidenciam como o discurso de ódio cria um terreno fértil para a violência extrema e precisamos de ação firme, monitoramento contínuo e coragem política para interromper esse ciclo", complementou. 

SÍMBOLOS

O Observatório Judaíco define que são considerados neonazistas eventos que fazem referências direta ou indireta a Adolf Hitler, ao nazismo ou Holocausto.

Isso inclui menção a fatos históricos e o uso de símbolos, como a suástica, a sigla SS, a saudação "Heil Hitler", o gesto com os dedos da mão para representar a expressão "white power" e o número 88. Este último faz referência à oitava letra do alfabeto ("HH").

 

 

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