Postagens com ameaças a escolas no País crescem 360% em apenas quatro anos
Só nos primeiros cinco meses do ano, mais de 88 mil posts foram somados. Dados fazem parte de pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Publicações com ameaças às escolas públicas e privadas do País cresceram 360% em apenas quatro anos. A estatística faz parte de pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com a empresa de monitoramento Timelens, nas principais redes sociais utilizadas por brasileiros.
O estudo "Aspectos da Violência nas escolas analisados a partir do mundo digital", divulgado nesta quarta-feira (11), buscou identificar como as redes sociais lidam com os ataques violentos às instituições de ensino e como questões como o bullying são tratadas no ambiente digital.
Segundo a pesquisa, 90% dos conteúdos com discurso de ódio em 2023 estavam restritos à Deep Web, parte da internet que não aparece em buscas comuns. Em 2025, o número caiu para 78%, sinalizando que as mensagens violentas e ameaçadoras agora aparecem livremente, sem qualquer tipo de filtro, na web tradicional.
Entre 1º de janeiro e 21 de maio deste ano, foram contabilizadas mais de 88 mil menções diretas a ameaças contra alunos, professores e diretores nas redes sociais. Como efeito de comparação, em todo o ano de 2024 esse número foi de 105.192 postagens.
Manoela Miklos, pesquisadora sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destacou a urgência de entender a nova realidade vivida por adolescentes. "Diferente das gerações anteriores, não há separação entre o mundo online e o offline. Se não compreendermos bem essa experiência, não vamos conseguir criar respostas eficazes", pontuou.
Segundo ela, enfrentar esse cenário exige responsabilidade compartilhada entre Estado, escolas, famílias e sociedade.
ELOGIOS A QUEM PRATICA ATAQUES ÀS ESCOLAS
A pesquisa também identificou uma escalada acentuada na proporção de comentários com elogios aos perpetradores de ataques. Em 2011, ano marcado pelo massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, 0,2% dos comentários exaltavam agressores. Já em 2025 essa parcela correspondia a mais de um quinto (21%).
Entre os elogios, preponderam aqueles direcionados a jovens que supostamente reagiram com violência após sofrerem consequências psicológicas e emocionais em decorrência do bullying.
O estudo apontou que 21% dos comentários hostis exaltam a postura agressora, como se o autor da ameaça merecesse aprovação — cenário que embute uma "raiva silenciosa" cada vez mais ignorada pelas plataformas.
O levantamento trouxe dados que mostram que a vitimização por cyberbullying atinge igualmente meninos e meninas (12% em ambos os grupos), mas são os meninos que mais praticam ofensas: 17% admitiram ter agido de forma ofensiva no ambiente virtual, contra 12% das meninas.
Para Renato Dolci, diretor de dados na Timelens, a violência digital tornou-se parte do cenário cotidiano. Ele destacou que não se trata apenas de uma tendência, mas de um novo ecossistema em que meninos solitários, hiperconectados e emocionalmente desamparados encontram nas redes um caminho que começa com acolhimento e termina em radicalização e impunidade.
"Os jovens não estão apenas consumindo conteúdo. Estão formando identidade em espaços que valorizam o exagero e a exclusão", disse Dolci.