Após o AVC: reabilitação e apoio familiar são essenciais para recuperação de idosos
Com 80% das mortes concentradas em pessoas acima dos 60 anos em Pernambuco, especialistas reforçam a importância do cuidado continuado
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Entre 2020 e 2024, mais de 16,8 mil pessoas morreram em Pernambuco em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). Oito em cada dez vítimas tinham mais de 60 anos. O dado revela não apenas a gravidade da doença entre os idosos, mas também o desafio da recuperação após o episódio.
No Hospital Pelópidas Silveira (HPS), referência estadual em neurologia e neurocirurgia, o foco vai além do atendimento de urgência: a equipe trabalha para garantir que o paciente retome o máximo possível de autonomia e qualidade de vida.
“O cérebro possui uma capacidade extraordinária de se reorganizar e formar novas conexões nervosas. A fisioterapia, com sua estimulação repetitiva e orientada, é essencial para reeducar o órgão, incentivando áreas saudáveis a assumirem as funções das regiões lesionadas”, explica a fisioterapeuta Emmanuelle Mendes, que atua no HPS desde o início do serviço.
Primeiros passos da reabilitação
A reabilitação começa ainda no internamento, com exercícios que ativam a circulação, fortalecem músculos e previnem complicações respiratórias.
“Em pacientes acamados ou com paralisia de um lado do corpo, é comum haver dificuldade para tossir e eliminar secreções. Por isso, a fisioterapia respiratória é tão importante”, destaca Emmanuelle.
Após a alta hospitalar, o paciente é acompanhado em regime ambulatorial por uma equipe multiprofissional composta por médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
“Nosso trabalho é devolver o máximo de independência possível. Orientamos o paciente e a família sobre exercícios, posturas e adaptações em casa. O cuidado não termina no hospital”, completa a fisioterapeuta.
O papel da família e do ambiente doméstico
A participação da família é decisiva na recuperação. O apoio emocional e a readaptação da rotina contribuem para evitar complicações físicas e psicológicas, como a depressão pós-AVC, condição que atinge cerca de um terço dos sobreviventes.
“O paciente precisa de incentivo constante. Quando a família entende o processo de reabilitação, o resultado é muito melhor”, afirma Emmanuelle.
Prevenção de novos episódios
O neurologista Luis Felippe Barros, da UTI do HPS, destaca que a atenção médica deve continuar mesmo após a alta.
“Precisamos entender por que o paciente teve o AVC. Se não tratarmos a causa — pressão alta, diabetes ou placas de gordura nos vasos —, o risco de um segundo ou terceiro episódio é alto”, explica.
Ele reforça que o acompanhamento regular e o controle das doenças crônicas são medidas fundamentais para manter a saúde cerebral. “O AVC pode ser um ponto de virada. Com prevenção, acompanhamento e reabilitação adequada, é possível viver bem depois do episódio”.
Viver mais e melhor
Com o envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida, os casos de AVC tendem a crescer. Para especialistas, a resposta está no cuidado contínuo, na informação e na valorização da reabilitação.
“O AVC não precisa ser o fim da autonomia, com apoio e tratamento, é possível recomeçar”, conclui Emmanuelle