O perigo dentro dos ossos: osteoporose pode quadruplicar fraturas no Brasil
Doença silenciosa enfraquece os ossos e aumenta o risco de fraturas graves, principalmente no quadril. Mulheres idosas são as mais afetadas

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Os ossos não servem apenas de sustentação para o corpo. Eles também guardam minerais importantes e participam do equilíbrio desses elementos no organismo. À medida que envelhecemos, o processo natural de renovação óssea vai ficando mais lento, o que pode afetar sua resistência e abrir caminho para doenças como a osteoporose, que enfraquece os ossos e aumenta o risco de fraturas, especialmente no quadril, uma das mais graves e incapacitantes.
O alerta ganha força nesta segunda-feira (20/10), marcada pelo Dia Mundial e Nacional da Osteoporose.
Com o avanço da idade, o corpo passa a ter mais dificuldade para renovar completamente as partes dos ossos que se desgastam. Isso faz com que a reposição não seja total e a massa óssea vá diminuindo aos poucos.
Nas mulheres, esse processo costuma ser ainda mais intenso, especialmente depois da menopausa, quando há uma queda na produção de estrogênio - um hormônio importante para a saúde dos ossos. Por isso, a osteoporose é mais comum entre elas do que entre os homens.
Caracterizada pela perda progressiva de massa óssea, a osteoporose torna os ossos mais frágeis e suscetíveis a fraturas, principalmente no quadril, na coluna e no punho. Mulheres na pós-menopausa e pessoas idosas estão entre os grupos mais vulneráveis.
O número de fraturas de quadril deve crescer de forma preocupante nas próximas décadas. Um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, aponta que esse tipo de fratura pode dobrar até 2050 em todo o mundo, reflexo direto do envelhecimento da população e da osteoporose.
No Brasil, o cenário é ainda mais alarmante: as projeções indicam que os casos podem quadruplicar e chegar a 160 mil fraturas por ano.
"Um em cada três idosos sofre pelo menos uma queda por ano. As fraturas de quadril, especialmente nessa faixa etária, são uma emergência médica e podem ter consequências graves. Quando o quadril é afetado, a mortalidade chega a 30% em até um ano", alerta o ortopedista Júlio Arraes, coordenador de Ortopedia do Hospital Miguel Arraes, em Paulista, município do Grande Recife.
Segundo o médico, o risco está ligado a complicações que surgem após a fratura, como infecções, trombose, longos períodos de imobilidade e agravamento de outras doenças preexistentes.
No Hospital Miguel Arraes, de janeiro a setembro deste ano, foram realizadas 99 cirurgias de fêmur proximal, região localizada próxima ao quadril, muito comum em pacientes com osteoporose e osteopenia (condição de redução da densidade óssea que pode ser um precursor da osteoporose).
Fraturas desse tipo, além de limitarem a mobilidade e a execução de tarefas do dia a dia por longos períodos, podem colocar em risco a vida do paciente.
Em mulheres acima dos 45 anos, a doença é responsável por mais dias de internação hospitalar do que problemas como diabetes, infarto e câncer de mama.
"As fraturas de quadril são as mais graves e podem aumentar o risco de morte em até 20% nos dois anos seguintes. Além disso, mais da metade das pacientes sobreviventes passa a conviver com limitações funcionais", explica Júlio Arraes.
Doença silenciosa, mas de alto impacto
A osteoporose muitas vezes não apresenta sintomas e, por isso, costuma ser descoberta apenas depois da primeira fratura. Dados da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF) mostram que apenas 20% dos pacientes com fraturas osteoporóticas recebem diagnóstico ou tratamento adequados.
"É uma doença silenciosa. Muitas pessoas quebram um osso e não sabem que isso aconteceu por causa da osteoporose. Por isso, é essencial capacitar e conscientizar os profissionais de saúde para identificar precocemente a baixa densidade óssea e oferecer o tratamento adequado", reforça Júlio Arraes.
Além das limitações físicas, as fraturas comprometem a autonomia e a qualidade de vida. "Falar sobre prevenção é fundamental. Pequenas mudanças em casa, como retirar tapetes, instalar barras de apoio e garantir boa iluminação, podem salvar vidas", destaca o médico.
Outros aliados na prevenção são os hábitos saudáveis: uma alimentação rica em cálcio e vitamina D, junto à prática regular de atividades físicas que fortaleçam os músculos e melhorem o equilíbrio, ajudam a manter os ossos fortes e a reduzir o risco de quedas.