Linfedema após o câncer de mama: condição silenciosa afeta uma em cada cinco mulheres

Angiologista explica causas, sintomas e cuidados para prevenir e tratar o inchaço que pode surgir após a retirada do tumor

Por Maria Clara Trajano Publicado em 16/10/2025 às 21:06

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Embora o tratamento do câncer de mama represente uma etapa superada no cuidado à saúde, muitas mulheres ainda enfrentam um desafio que pode surgir meses depois da cirurgia: o linfedema.

A condição, marcada por inchaço no braço, mão, dedos ou peito, compromete a mobilidade, a autoestima e a qualidade de vida, exigindo acompanhamento contínuo e atenção especializada.

Um estudo publicado na revista The Lancet Oncology estima que uma em cada cinco mulheres que passaram por cirurgia para câncer de mama desenvolvem o problema, geralmente entre 14 e 18 meses após o procedimento.

O que causa o linfedema?

Segundo a angiologista e cirurgiã vascular Beth Moreno, o linfedema está diretamente relacionado a alterações no fluxo linfático.

“Depois que se retira o tumor da mama, muitas vezes é necessário tirar também os linfonodos da axila — que são os canais de drenagem do braço. Quando isso acontece, o braço perde essa via de escoamento, e é por isso que ele incha”, explica a especialista.

Além da cirurgia, a radioterapia pode lesionar vasos linfáticos e linfonodos, contribuindo para o aparecimento da condição. Embora mais comum após o câncer de mama, o linfedema também pode ocorrer em outros tipos de câncer, como próstata, cabeça e pescoço, e em casos congênitos, quando o sistema linfático não se desenvolve plenamente.

Tratamento e cuidados

O diagnóstico é clínico e deve ser feito o quanto antes, a partir de sinais como inchaço, sensação de peso e limitação dos movimentos. O tratamento costuma ser multidisciplinar, combinando:

  • Fisioterapia especializada;
  • Medicações flebotônicas e linfocinéticas;
  • Dieta anti-inflamatória;
  • Uso de contenção elástica ou inelástica.

Beth Moreno orienta ainda evitar carregar peso ou realizar coletas de sangue, aferição de pressão e injeções no braço operado. A hidratação da pele e o cuidado com pequenos cortes também são fundamentais para prevenir infecções.

Impactos emocionais

O linfedema não afeta apenas o corpo.

“O psicológico fica abalado, porque ele limita a paciente nas roupas que usa, nas atividades que realiza. É um novo momento, que exige apoio e adaptação. Quanto mais precoce o início da fisioterapia, melhor a resposta do edema”, afirma Beth Moreno.

É possível prevenir?

Não há uma forma totalmente garantida de prevenir o linfedema, mas novas técnicas cirúrgicas têm reduzido sua incidência.

“O mapeamento reverso axilar, que identifica os linfonodos responsáveis pela drenagem do braço, permite que o cirurgião evite removê-los sempre que possível — o que tem diminuído os casos”, explica a médica.

Entre as recomendações da especialista estão:

  • Manter o peso corporal saudável;
  • Praticar exercícios físicos sob orientação;
  • Proteger a pele contra queimaduras e infecções;
  • Fazer consultas regulares com rastreamento específico.

“Se o braço apresentar diferença de tamanho, cor ou temperatura, é preciso procurar o médico imediatamente. O controle precoce do linfedema é essencial para preservar a qualidade de vida após a mastectomia”, conclui Beth Moreno.

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