Linfedema após o câncer de mama: condição silenciosa afeta uma em cada cinco mulheres
Angiologista explica causas, sintomas e cuidados para prevenir e tratar o inchaço que pode surgir após a retirada do tumor

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Embora o tratamento do câncer de mama represente uma etapa superada no cuidado à saúde, muitas mulheres ainda enfrentam um desafio que pode surgir meses depois da cirurgia: o linfedema.
A condição, marcada por inchaço no braço, mão, dedos ou peito, compromete a mobilidade, a autoestima e a qualidade de vida, exigindo acompanhamento contínuo e atenção especializada.
Um estudo publicado na revista The Lancet Oncology estima que uma em cada cinco mulheres que passaram por cirurgia para câncer de mama desenvolvem o problema, geralmente entre 14 e 18 meses após o procedimento.
O que causa o linfedema?
Segundo a angiologista e cirurgiã vascular Beth Moreno, o linfedema está diretamente relacionado a alterações no fluxo linfático.
“Depois que se retira o tumor da mama, muitas vezes é necessário tirar também os linfonodos da axila — que são os canais de drenagem do braço. Quando isso acontece, o braço perde essa via de escoamento, e é por isso que ele incha”, explica a especialista.
Além da cirurgia, a radioterapia pode lesionar vasos linfáticos e linfonodos, contribuindo para o aparecimento da condição. Embora mais comum após o câncer de mama, o linfedema também pode ocorrer em outros tipos de câncer, como próstata, cabeça e pescoço, e em casos congênitos, quando o sistema linfático não se desenvolve plenamente.
Tratamento e cuidados
O diagnóstico é clínico e deve ser feito o quanto antes, a partir de sinais como inchaço, sensação de peso e limitação dos movimentos. O tratamento costuma ser multidisciplinar, combinando:
- Fisioterapia especializada;
- Medicações flebotônicas e linfocinéticas;
- Dieta anti-inflamatória;
- Uso de contenção elástica ou inelástica.
Beth Moreno orienta ainda evitar carregar peso ou realizar coletas de sangue, aferição de pressão e injeções no braço operado. A hidratação da pele e o cuidado com pequenos cortes também são fundamentais para prevenir infecções.
Impactos emocionais
O linfedema não afeta apenas o corpo.
“O psicológico fica abalado, porque ele limita a paciente nas roupas que usa, nas atividades que realiza. É um novo momento, que exige apoio e adaptação. Quanto mais precoce o início da fisioterapia, melhor a resposta do edema”, afirma Beth Moreno.
É possível prevenir?
Não há uma forma totalmente garantida de prevenir o linfedema, mas novas técnicas cirúrgicas têm reduzido sua incidência.
“O mapeamento reverso axilar, que identifica os linfonodos responsáveis pela drenagem do braço, permite que o cirurgião evite removê-los sempre que possível — o que tem diminuído os casos”, explica a médica.
Entre as recomendações da especialista estão:
- Manter o peso corporal saudável;
- Praticar exercícios físicos sob orientação;
- Proteger a pele contra queimaduras e infecções;
- Fazer consultas regulares com rastreamento específico.
“Se o braço apresentar diferença de tamanho, cor ou temperatura, é preciso procurar o médico imediatamente. O controle precoce do linfedema é essencial para preservar a qualidade de vida após a mastectomia”, conclui Beth Moreno.