Adulteração de bebidas: oftalmologista revela o que acontece com a visão após intoxicação por metanol

Metanol é altamente tóxico e pode levar à morte. Os principais sintomas pela intoxicação são dor abdominal, visão turva, confusão mental e náusea

Por Cinthya Leite Publicado em 30/09/2025 às 23:15 | Atualizado em 30/09/2025 às 23:29

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Após os registros de mortes por intoxicação por metanol em São Paulo, Pernambuco investiga dois óbitos suspeitos no Estado e um caso de perda de visão bilateral. Os casos, em análise pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, podem ter relação com o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas

O metanol é altamente tóxico e pode levar à morte. Os principais sintomas devido à intoxicação são dor abdominal, visão turva, confusão mental e náusea. Essas manifestações podem aparecer entre 12h e 24h após a ingestão da substância. Diante desses sinais, deve-se procurar atendimento médico no serviço de emergência. 

À coluna Saúde e Bem-Estar do JC, o médico oftalmologista Bernardo Cavalcanti, coordenador da residência médica da Fundação Altino Ventura, alerta que a visão é afetada de forma mais intensa diante de um quadro de intoxicação por metanol. "A parte do nosso organismo que mais sofre, de maneira mais precoce com essa condição, é o disco óptico (parte por onde fibras nervosas da retina se reúnem para formar o nervo que envia sinais visuais para o cérebro)."

Ele esclarece que "o consumo inadvertido de doses altas de metanol é capaz de provocar uma paralisação das células em produzir energia e, consequentemente, levar à morte celular".   

Dessa maneira, o oftalmologista explica que, diante de intoxicação por metanol, as pessoas podem acabar desenvolvendo neuropatia óptica - doença do nervo óptico, responsável por transmitir a visão ao cérebro, que pode levar à perda de visão.

"Isso leva a uma lesão que pode ser, na grande maioria das vezes, definitiva ao disco óptico e provocar uma atrofia do nervo óptico (condição capaz de levar à perda permanente da visão, escurecimento das cores e redução do campo visual)", alerta Bernardo.

RENATO RAMOS/JC IMAGEM
"Consumo inadvertido de doses altas de metanol pode provocar uma paralisação das células em produzir energia e, consequentemente, levar à morte celular", alerta o médico Bernardo Cavalcanti - RENATO RAMOS/JC IMAGEM

O médico explica que o nervo óptico é responsável por levar toda a informação que é captada pelo olho de visão. "Essa informação chega a uma parte do nosso cérebro, que fica atrás da nuca e que é responsável pela formação da imagem. Então, esses casos de intoxicação por metanol podem realmente evoluir com déficit visual e até cegueira, quando a gente tem intoxicação mais significativa", reforça Bernardo. 

Sobre os principais sinais de acometimento visual, que é o que acontece de forma precoce quando ocorre uma intoxicação por metanol, Bernardo relata que a visão "vai ficando turva, com perda de visão periférica, até efetivamente chegar a déficits e apagões, que podem ser definitivos e evoluir com a atrofia do nervo óptico". 

Ministério da Saúde determina notificação imediata de casos de intoxicação por metanol

O Ministério da Saúde informou, nesta terça-feira (30), que publicará uma nota técnica com orientações sobre sinais, sintomas clínicos e demais informações para auxiliar na identificação de casos de intoxicação, além de instruções aos profissionais de saúde sobre a administração de antídotos para o metanol. 

Além disso, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, determinou que os profissionais de saúde de todo o Brasil notifiquem imediatamente, ao Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS), qualquer suspeita de intoxicação por metanol.

A medida busca reforçar a vigilância e a resposta a casos suspeitos. "Essa determinação é para que possamos identificar mais rapidamente não só o que está acontecendo no Estado de São Paulo, mas também possíveis intoxicações em outros Estados do País, a partir de comportamentos clínicos e epidemiológicos anormais", destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em coletiva de imprensa realizada na terça-feira (30), pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.

Padilha ainda ressaltou que a situação acende um alerta sobre a venda e o consumo de bebidas adulteradas. "Estamos diante de uma situação anormal e diferente de tudo o que consta na nossa série histórica em relação à intoxicação por metanol no País. A entrada da Polícia Federal no plano se deve à suspeita de envolvimento de uma organização criminosa relacionada à adulteração de bebidas."

"Para que o sistema funcione, alguém precisa notificar. É importante que os profissionais de saúde estejam em alerta e possam identificar precocemente os casos. Além disso, pessoas que tenham consumido álcool de procedência desconhecida e apresentem qualquer sintoma relacionado à intoxicação por metanol devem procurar imediatamente uma unidade de saúde", enfatizou a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Mariângela Simão.

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