Odontologia biológica: riscos de tratamentos sem comprovação científica
Especialistas alertam que práticas da "odontologia naturalista" não têm respaldo científico e podem colocar em risco a saúde dos pacientes

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Nos últimos meses, a chamada “odontologia biológica”, também conhecida como odontologia naturalista, tem se popularizado nas redes sociais, prometendo uma suposta conexão energética entre dentes, órgãos e emoções.
O discurso, embora sedutor, preocupa especialistas, que alertam para a ausência de evidências científicas e para os riscos à saúde bucal e sistêmica.
Entre as principais alegações está a teoria de que cada dente estaria ligado a um órgão específico, como a relação entre caninos e fígado.
“É verdade que doenças bucais, como gengivite ou periodontite, podem se associar a condições sistêmicas, como diabetes ou endocardite. Mas não há comprovação de que um único dente cause doença em um órgão específico”, explica a cirurgiã-dentista Adriana Morosini.
Implantes e materiais: o que diz a ciência
Outra recomendação comum entre adeptos da odontologia biológica é substituir implantes de titânio por zircônia, sob a alegação de que o titânio provocaria intoxicação ou afetaria os “campos eletromagnéticos” do corpo.
“Essa afirmação não tem fundamento. O Conselho Federal de Odontologia e a literatura científica reconhecem o titânio como seguro e biocompatível, sendo utilizado com sucesso em reabilitações orais há décadas”, reforça Morosini.
O mito do tratamento de canal
Uma das ideias mais perigosas disseminadas por essa prática é que tratamentos endodônticos, os populares “canais”, liberariam toxinas capazes de causar câncer ou doenças autoimunes.
“O tratamento de canal é essencial para salvar dentes comprometidos por cáries profundas ou traumas. Retirar um dente que poderia ser preservado prejudica a mastigação, a estética e a saúde bucal a longo prazo”, enfatiza a especialista.
Orientação à população
O Conselho Federal de Odontologia (CFO) já declarou que a odontologia biológica não é reconhecida como especialidade e não possui respaldo científico.
Para Adriana Morosini, é preciso cautela: “Profissionais que oferecem tratamentos ‘alternativos’ sem exames ou evidências científicas disseminam desinformação e colocam pacientes em risco. A odontologia séria segue protocolos baseados em ciência e ética”.