Eles não só "passam pinças": instrumentador cirúrgico ganha protagonismo em meio à evolução tecnológica da medicina
Simpósio no Recife debate o futuro e os desafios da profissão. Novo cenário exige habilidades técnicas aprimoradas e constante atualização

No ambiente técnico e complexo de uma sala de cirurgia, há um profissional cuja atuação é decisiva para o sucesso do procedimento: o instrumentador cirúrgico. Com os avanços tecnológicos da medicina, esse profissional precisa se adaptar a novas ferramentas e técnicas. Essa evolução não apenas aumenta a precisão e segurança dos procedimentos, mas também otimiza o tempo de cirurgia e a recuperação do paciente.
O cenário exige profissionais cada vez mais qualificados, que dominem o uso de tecnologia avançada e tenham um papel estratégico na sala de cirurgia. Essa discussão ganha força durante o 2º Simpósio Pernambucano de Instrumentação Cirúrgica, que acontece no próximo dia 4 de julho no Real Hospital Português, no bairro de Paissandu, área central do Recife.
O evento é idealizado pela instrumentadora cirúrgica Maíza Martins, que atua há mais de duas décadas na especialidade. A proposta é debater, ao longo do dia, sobre a perspectiva futura da profissão.
"Apesar de todos os avanços tecnológicos, o instrumentador não pode deixar de ser humano. Ele precisa se atualizar, se capacitar, mas sem deixar de ser ético e sensível à realidade da equipe e do paciente", diz Maíza.
A programação inclui palestras sobre cirurgia robótica, procedimentos minimamente invasivos e os novos materiais usados em neurocirurgia, plástica, ortopedia e torácica. Entre os destaques, estão as mesas-redondas sobre regulamentação profissional e os workshops com empresas de instrumentais, órteses, próteses e materiais especiais.
Segundo Maíza, a ideia de criar o simpósio surgiu da necessidade de apresentar à sociedade quem é o profissional que atua ao lado do cirurgião. "As pessoas costumam ver o instrumentador como alguém que 'passa pinça' ou cobra por fora. Mas isso ficou no passado. Hoje, o instrumentador precisa entender da cirurgia, estudar, acompanhar os avanços. Se ele não se capacita, ele fica esquecido."
O instrumentador é o primeiro a chegar ao centro cirúrgico e o último a sair. É ele quem organiza a mesa com precisão milimétrica, garante a esterilização dos materiais, acompanha os gestos e o ritmo do cirurgião, além de se comunicar com toda a equipe: do anestesiologista ao técnico de enfermagem.
"Eu costumo dizer que o instrumentador é o braço direito, esquerdo e os olhos do cirurgião. Ele precisa estar atento ao tempo cirúrgico, à disposição dos instrumentais, ao gesto do médico e ao movimento de toda a sala", explica Maíza.
Avanço tecnológico exige capacitação constante
A chegada de tecnologias como cirurgia robótica, cirurgias minimamente invasivas, inteligência artificial e realidade aumentada tem transformado o dia a dia do centro cirúrgico. De acordo com o cirurgião bariátrico Álvaro Ferraz, que participará de mesa-redonda durante o simpósio, isso exige uma nova postura dos instrumentadores.
"Estamos vivendo uma fase de muito desafio. Os instrumentais são delicados, complexos e caríssimos. E isso não é só na cirurgia geral; está na ortopedia, na ginecologia, na cirurgia torácica, em tudo. O instrumentador precisa evoluir junto com essas mudanças", afirma Álvaro.
Para ele, o instrumentador de hoje precisa, muitas vezes, dominar várias especialidades e estar pronto para manusear materiais altamente específicos. "É importante estarem atualizados. Às vezes, até mais do que outros profissionais, porque trabalham com múltiplas áreas", acrescenta.
Formação e mercado de trabalho
A formação do instrumentador cirúrgico passou por mudanças nos últimos anos. A especialização exige que o aluno tenha formação prévia como técnico em enfermagem.
"O instrumentador precisa estar muito bem preparado para lidar com materiais delicados e protocolos de esterilização complexos", explica Maíza.
Além da parte técnica, ela destaca o papel humano do instrumentador. "A gente visita o paciente antes da cirurgia, apresenta-se, passa segurança. No centro cirúrgico, nos vestimos com roupas específicas, organizamos tudo com muito cuidado."
Um profissional que deixou de ser invisível
O crescimento do número de cirurgias, o envelhecimento da população e os avanços da medicina tornam o mercado de trabalho cada vez mais aquecido para quem escolhe essa profissão.
Maíza acredita que ainda há um longo caminho pela frente, mas o simpósio é um passo importante. "Esse evento nasceu da necessidade de mostrar quem somos. O instrumentador é uma peça-chave da cirurgia. Ele tem nome, tem história, tem preparo. E tem também um espaço de fala", finaliza.