A espera de Marquinhos: aos 70 anos, ele precisa com urgência de um transplante de coração
Atualmente, em Pernambuco, a fila de espera por transplantes de órgãos e tecidos tem 3.732 pacientes. Desses, 23 aguardam, como Marquinhos, um coração

Professor de educação física aposentado e corretor de imóveis, Marcus Neves de Carvalho, 70 anos, está à espera de um transplante de coração. Carinhosamente conhecido como Marquinhos, ele está há pouco mais de um mês na unidade de terapia intensiva (UTI) do Real Hospital Português (RHP). A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto para os da rede privada.
Pacientes que necessitam de equipamentos que cumpram a função do coração, ou que estão internados com necessidade de medicamentos para auxiliar na contração cardíaca, têm prioridade na fila de espera.
"Meu pai está vivo. Mas o coração dele não aguenta mais. Ele precisa de um transplante com urgência", conta Nicole Plauto, filha de Marquinhos. Em publicação compartilhada em rede social, ela escreve que, "em algum lugar, em meio à dor de outra família, alguém tenha a generosidade de dizer 'sim' para a doação de órgãos".
A Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE) informa que atualmente, no Estado, a fila de espera por transplantes de órgãos e tecidos tem 3.732 pacientes. Desses, 23 aguardam, como Marquinhos, um coração.
A empresária Erika Neves, irmã de Marquinhos, diz que ele foi diagnosticado, em agosto de 2024, com amiloidose cardíaca - uma doença rara, que ocorre quando proteínas insolúveis se depositam em órgãos e tecidos. Consequentemente, formam uma fibra que não consegue ser removida pelo organismo e, assim, causando danos graves àquele órgão. Quando a amiloidose se concentra nos tecidos do coração, é chamada de amiloidose cardíaca.
"Além disso, em março deste ano, ele teve um infarto. Teve alta hospitalar depois disso, mas não se recuperou completamente. Precisou voltar ao hospital no início de maio, onde permanece até hoje com um quadro de insuficiência cardíaca grave", relata Erika.
Ela recorda que, há pouco mais de dois anos, perdeu a irmã de forma repentina, em decorrência de complicações após um acidente vascular cerebral (AVC). Em meio ao luto, a família disse "sim" à doação de órgãos dela.
"Rins, fígado e córnea foram para cinco pessoas que aguardavam em lista de espera. Isso ressignificou bastante o luto. Ao doar, a gente estava salvando vidas de pessoas que nem conhecíamos. Lembro que Marquinhos acompanhou, ao meu lado, todo esse processo, e hoje esperamos que alguém faça o mesmo por ele."
Marquinhos é descrito pela filha Nicole como um homem afetuoso, sempre presente na vida da família. "É amigo, é marido, é pai, é irmão. Mas o papel mais doce dele é o de avô. Avô de 9 netos que o amam com intensidade. Que correm para o colo dele. Que pedem histórias, que se aconchegam no seu abraço. E o coração dele, o mesmo coração que amou tanta gente durante tantos anos, hoje precisa de ajuda."
O caso de Marquinhos é um entre muitos. Hoje, mais de 65 mil brasileiros aguardam um transplante de órgão. Desses, cerca de 386 estão na fila por um coração, uma das doações mais complexas e urgentes. A cada ano, aproximadamente 3 mil pessoas morrem sem conseguir o transplante que precisam.
Mesmo com o Brasil sendo referência mundial em transplantes públicos, a taxa de recusa familiar à doação de órgãos gira em torno de 45%. Ou seja, quase metade das famílias dizem "não" no momento mais delicado, por falta de informação, medo ou desconhecimento da vontade do ente querido.
"Sempre ressaltamos a importância da família. É ela que pode, em meio a dor, tomar uma decisão importante, determinante para a vida de outras pessoas que estão sofrendo, sem saber o dia de amanhã", frisa o gerente da Central Estadual de Transplantes (CT-PE), André Bezerra.