INOVAÇÃO | Notícia

O homem que desafia o papel: Paulo Magnus quer digitalizar a saúde até 2035

CEO da MV defende decisão política e integração de dados como pilares para revolução no atendimento, já que a tecnologia está disponível

Por Cinthya Leite Publicado em 22/05/2025 às 20:14 | Atualizado em 22/05/2025 às 22:52

SÃO PAULO - Um exame feito numa unidade de pronto atendimento (UPA) não "conversa" com o prontuário do hospital onde o paciente será internado horas depois. Repetição de testes, longas filas e diagnósticos atrasados viram rotina. Relatos como esse foram frequentes durante a Feira Hospitalar 2025, maior encontro de saúde da América Latina, realizado nesta semana na cidade de São Paulo.

Com três estandes no evento, a MV (líder latino-americana em tecnologia para a saúde) apresenta seu ecossistema inteligente de saúde, em que dados, pessoas e sistemas se comunicam em tempo real, com foco em segurança, eficiência e personalização na jornada do paciente. 

Pela digitalização universal

Para o fundador e CEO da companhia, Paulo Magnus, a falta de integração entre os sistemas de saúde não é só uma falha técnica — é uma questão de decisão política. "Quando se tem a tecnologia e tem a estrutura, o que falta é decisão. E também percepção de valor", afirma.

O executivo defende que a digitalização da saúde só será universal quando os gestores públicos entenderem o impacto direto que a integração de dados pode ter na redução de custos, na aceleração de diagnósticos e, acima de tudo, na segurança do paciente.

Com uma trajetória marcada pela inovação e pelo compromisso com a transformação do setor, Paulo Magnus afirma que a meta que traçou, para os próximos anos, é clara: contribuir ativamente para que o Brasil alcance, em até uma década, um modelo de saúde 100% digital, acessível e integrado. "O impossível não existe na linguagem dos empreendedores", diz o executivo, em entrevista ao JC durante a Feira Hospitalar 2025, que termina hoje.

Para isso, ele aposta na expansão de tecnologias como inteligência artificial, interoperabilidade de dados e no engajamento de gestores públicos que enxerguem o valor estratégico da digitalização para salvar vidas e otimizar recursos.

O prontuário na palma da mão — e o agente de IA como conselheiro médico

Divulgação
MaVi é a assistente de IA da MV que orienta e age proativamente com o paciente - Divulgação

Durante a entrevista, Paulo Magnus descreve cenários em que os pacientes acessam todos os seus exames pelo celular e são orientados por inteligência artificial (IA) a agendar consultas ou procedimentos com base em dados já existentes.

"A IA vai acompanhar os dados de cada um e alertar: 'você deve procurar um clínico', ou 'tenho uma consulta para amanhã às 10h, você topa?'. Isso não é futuro. Já está acontecendo", garante.

Uma das ferramentas lançadas durante o evento é a MaVi, assistente de inteligência artificial da MV. Além de integrar dados clínicos e permitir interação com médicos e hospitais, a MaVi ganhou um formato físico: a MaviBox, pensada para ambientes hospitalares como centros cirúrgicos, onde é possível atualizar informações sem a necessidade de digitar em teclados, o que otimiza o tempo da equipe médica durante procedimentos longos.

"Tem também a versão pessoal, dentro do aplicativo Personal Health, para o próprio paciente. Ela avisa, por exemplo, se um exame alterado precisa de atenção e já sugere data, hora e local para atendimento", diz Paulo Magnus, ao destacar que a MaVi orienta e age proativamente com o paciente.

Humanização começa pela eficiência

Ao ser questionado sobre críticas de que a tecnologia desumanizaria a medicina, Paulo Magnus é direto. "A forma como as instituições tratam seus pacientes hoje é desumana". Ele enumera: horas de espera, excesso de papéis, exames repetidos, falta de coordenação entre unidades. "A tecnologia vem para garantir um atendimento mais digno e seguro; não para substituir o humano", declara.

Para ele, um sistema inteligente reduz redundâncias e permite tratamentos mais rápidos e assertivos. "A IA vai ajudar o médico a encontrar o diagnóstico e o melhor protocolo. O erro diagnóstico hoje consome milhares de vidas por ano."

Saúde Pública ainda é desafio: "Menos de 20% da receita vêm do SUS"

Apesar de a Saúde Pública representar 75% da assistência no País, apenas cerca de 20% da receita da MV vêm do setor público. Para Paulo Magnus, essa distância é reflexo da burocracia e da resistência à transformação digital. "Temos grandes projetos no Brasil, mas falta escala", afirma.

Entretanto, ele comemora avanços locais, como o projeto em Belo Horizonte previsto para ser lançado ainda neste ano, e a integração de hospitais sob diferentes gestores em Estados como Piauí e Pernambuco. "Está tudo pronto: tecnologia acessível, custos baixos e resultados comprovados. O que falta é decisão dos governantes."

Do hospital sem papel ao legado digital

A MV está presente em mais de 1.400 hospitais em 11 países, e hoje integra soluções que vão do hospital sem papel ao home care digital, com 50 mil leitos domiciliares conectados.

A empresa foi responsável pelo primeiro hospital 100% digital da América Latina, o Hospital da Unimed III, no Recife, implantado com liberdade total para inovação. "Hoje ninguém entra com papel. Isso é transformação real", diz Paulo Magnus.

IA aprovada pela Anvisa e premiada internacionalmente

Um dos grandes marcos recentes da MV foi a aprovação do registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso de IA em diagnósticos, após dois anos de processo. A tecnologia da MV é própria (exigência regulatória) e já está em uso em consultórios e hospitais parceiros.

Em março deste ano, em Las Vegas, nos Estados Unidos, durante a HIMSS Global Health Conference & Exhibition (principal evento de saúde digital do mundo), a MV lançou agentes de IA já integrados às suas plataformas. A empresa também recebeu pela oitava vez o prêmio de melhor prontuário eletrônico da América Latina.

Metas, legado e visão para os próximos 10 anos

Aos 63 anos, Paulo Magnus segue com metas ambiciosas: transformar o cuidado em saúde por meio da tecnologia e integrar todo o ecossistema público e privado. Ele vê o futuro com otimismo e senso de missão. "Quem tem meta encontra o caminho. O que construímos no Brasil é bonito demais. E o que ainda temos para construir será ainda maior", salienta. 

Durante a Feira Hospitalar 2025, Paulo Magnus lança a biografia A distância do sonho. "Aquele guri que nasceu em Dom Pedro de Alcântara, no interior do Rio Grande do Sul, jamais imaginaria que se tornaria o fundador da maior empresa de tecnologia para saúde da América Latina e que sua história seria contada em um livro", conta.

"A jornalista pernambucana Silvia Bessa assina a obra, que narra os desafios, as escolhas e os encontros que marcaram a minha caminhada: de engraxate e da venda de leite aos projetos com a Apple no Vale do Silício; do setor de faturamento de um hospital em Torres (RS) a minha amizade com a Irmã Dulce, da fundação da MV ao impacto que nossas soluções hoje geram em mais de 100 milhões de vidas", acrescenta Paulo. 

*A jornalista Cinthya Leite acompanhou os destaques do evento a convite da MV

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