ALERTA | Notícia

Gripe aviária em granja e zoológico no RS: até onde vai o risco para humanos? Entenda

Especialistas alertam para risco de mutações no vírus da gripe aviária, que tem alta patogenicidade, e reforçam importância de vigilância e prevenção

Por Cinthya Leite Publicado em 16/05/2025 às 20:07

Com o primeiro caso detectado de gripe aviária (influenza aviária de alta patogenicidade) em granja comercial no Brasil, surge a dúvida sobre a possibilidade de o vírus H5N1 ganhar a capacidade de transmissão entre humanos e, consequentemente, uma dispersão muito grande. 

O foco foi detectado em uma granja comercial em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. De acordo com o relatório, 7.389 aves já foram abatidas, de um total de 17.025 suscetíveis. O Brasil notificou à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) sobre essa ocorrência. 

"Essa situação lembra muito o que vivemos em 2009, com a gripe H1N1 e os transtornos que apareceram naquela época. Então, agora, o que a gente vê é o vírus H5N1 circulando numa frequência cada vez maior, e teve esse caso da granja no Rio Grande do Sul", diz, ao JC, o infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) no Rio Grande do Sul

Gripe aviária: foco de H5N1 no zoológico

"Houve também outro ponto que chama a nossa atenção: a morte súbita de animais (aves silvestres) no Zoológico de Sapucaia do Sul (a cerca de 20 km de Porto Alegre), que foi fechado. Isso também causa preocupação." O infectologista se refere a outro foco de gripe aviária confirmado, nesta sexta-feira (16), pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). 

A titular da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Sema), Marjorie Kauffman, destacou as medidas adotadas para garantir a segurança no local. "Reforço que o zoológico segue sem receber visitação por tempo indeterminado, com as equipes seguindo as orientações da Defesa Sanitária Animal e da Secretaria da Saúde. Também estamos fazendo outras avaliações além daquela motivada pela gripe aviária, como a da água", informou, em coletiva de imprensa. 

Gripe aviária e consumo de carnes ou ovos

Ambos os casos (na granja comercial e no zoológico) foram isolados com os protocolos adequados ao plano nacional de contingência para evitar a disseminação da doença. Segundo técnicos da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi), por se tratar de uma granja voltada à reprodução, não há risco no consumo de carne ou ovos.

"Sobre o consumo de carnes e ovos: se esses alimentos estiverem assados e cozidos, o vírus é inativado", orienta Paulo Ernesto. 

H5N1: primeiro registro de gripe aviária no Brasil foi em 2023

A gripe aviária é recente no Brasil, em comparação a outros países. Em 2022, foi registrada pela primeira vez a entrada da H5N1 na América do Sul, com casos na Colômbia, no Chile e no Peru. Já no Brasil, o primeiro registro foi em maio de 2023, no Espírito Santo. 

"A gente percebia que o H5N1 começou acometendo as aves migratórias, que levaram o vírus consigo e transmitiram para os outros animais que viviam num destino para onde essas aves chegaram. Mas o H5N1 adquiriu mutações e passou a ser transmitido para mamíferos, principalmente o gado bovino. Então, a gripe H5N1 chegou até a vacas leiteiras, principalmente nos Estados Unidos", diz o infectologista. 

O caso confirmado, nesta sexta-feira (16), no Rio Grande do Sul, é o primeiro em granja comercial no Brasil. É do mesmo subtipo dos casos anteriores de H5N1 em aves silvestres.

Ao todo, no País, já foram registrados 164 casos em aves silvestres: três em aves de subsistência (voltadas ao consumo próprio ou familiar), um em granja avícola e um em zoológico no Brasil.

Gripe aviária: H5N1 pode ser transmitido para humanos?

Apesar do baixo risco de transmissão da doença para humanos, a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS), por meio do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, monitora as pessoas expostas, especialmente os trabalhadores das áreas afetadas.

Para garantir uma resposta rápida em caso de suspeita em humanos, a SES-RS mantém um fluxo de troca de informações constante com a Seapi, ao reforçar os protocolos de biossegurança.

Uma pessoa pode se infectar quando tem contato direto com as secreções e fluídos de um animal doente, esteja ele vivo ou morto. As aves eliminam o vírus H5N1 pelas fezes e secreções respiratórias.

Infecções humanas geralmente acontecem após exposições desprotegidas a aves doentes - ou seja, sem uso de equipamentos de proteção individual (EPIs).

Gripe aviária: humano com H5N1 passa para outro humano?

"Não foi documentada, até então, a transmissão de ser humano para ser humano. O vírus, então, ainda não adquiriu as mutações necessárias para essa transmissão. Mas, quando isso ocorrer, com certeza estaremos próximos de uma nova epidemia ou pandemia. Ou seja, com H1N1 foi assim, com o coronavírus também", alerta Paulo Ernesto. 

Monitoramento

Além do acompanhamento na granja afetada, a Seapi também realiza o monitoramento de outros estabelecimentos rurais em um raio de até 10 km do foco, de forma coordenada, a fim de permitir o atendimento simultâneo das equipes no perímetro de observação.

Também estão sendo instaladas barreiras de desinfecção na mesma área. Na granja, está sendo realizada a depopulação das aves. Ao todo, eram cerca de 17 mil aves no local.

Influenza aviária

A influenza aviária, também conhecida como gripe aviária, é uma doença viral altamente contagiosa que afeta, principalmente, aves silvestres e domésticas, mas também pode acometer humanos.

Entre os principais sintomas apresentados pelas aves, estão dificuldade respiratória, secreção nasal ou ocular, espirros, incoordenação motora, torcicolo, diarreia e alta mortalidade.

No Rio Grande do Sul, todas as suspeitas de influenza aviária, que incluem sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita em aves, devem ser notificadas imediatamente à Seapi, através da Inspetoria de Defesa Agropecuária mais próxima ou pelo WhatsApp: 51 98445-2033.

Compartilhe