Baixa adesão à vacina da gripe em Pernambuco: a responsabilidade não é só de quem não foi ao posto
Não faltam vacinas nem postos. Há mais de 2.800 salas de imunização no Estado, o que mostra que a estrutura, no papel, existe. O que falta, então?

Apesar da circulação intensa do vírus da gripe nesta época do ano e dos apelos recorrentes de especialistas em saúde pública, a vacinação contra influenza em Pernambuco segue com índices alarmantemente baixos. Até agora, apenas 19,5% do público-alvo prioritário foram imunizados — uma distância gritante da meta de 90% estabelecida pelo Ministério da Saúde.
A resposta da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) veio com a expansão da campanha para toda a população a partir de 6 meses de idade, o que, em termos técnicos, é uma medida acertada.
Mas a pergunta que fica é: não estamos chegando tarde demais? E mais: será que, de fato, fazemos campanhas de vacinação ou apenas leves informes institucionais?
Não faltam vacinas. Não faltam postos. Há mais de 2.800 salas de vacinação ativas no Estado, o que mostra que a estrutura, no papel, existe. O que falta, então?
Campanha ou comunicado protocolar?
Afinal, pergunto: será que são realizadas campanhas de vacinação ou apenas se cumpre o protocolo de avisar? Há artes nas redes sociais, comunicados em sites oficiais e entrevistas técnicas. Mas isso basta? Isso mobiliza?
Ao que parece, lidamos com uma falha de comunicação política e social, o que, em saúde pública, é gravíssimo.
Campanha não é aviso. Vacinar é convencer – e as autoridades ainda não entenderam isso
O Brasil sabe fazer campanhas de imunização. Já mobilizamos milhões para vacinar em mutirões que tomavam conta de escola, igreja, rádio, agentes comunitários, praça pública e posto de saúde. Hoje, parece que nos contentamos com um banner no Instagram.
Vacinar exige presença, não apenas postagens. Exige narrativa, escuta, engajamento, repetição. Vacinar é convencer, e convencer dá trabalho — especialmente depois de uma pandemia que cansou, dividiu e desinformou a população.
O fracasso da cobertura vacinal não é só um problema técnico. É um sinal de que perdemos a capacidade de gerar confiança e senso de urgência.
Expandir a vacina para todos é só um dos muitos passos importantes. Mas, se não houver uma mudança profunda na forma como os governos se comunicam com a sociedade, vamos continuar neste ciclo: baixa adesão, surtos evitáveis, internações desnecessárias e filas por espera de um leito de terapia intensiva (UTI).
O vírus circula. E o governo, em todas as suas esferas, precisa circular junto. Não dá esperar que a população vá ao posto sem incentivo, sem apelo, sem urgência.