Transporte público: Crescimento do uso de aplicativos, inclusive com motos, é alerta para a baixa qualidade dos ônibus no Grande Recife
Pesquisa revela que superlotação, segurança precária e tarifas altas são os principais problemas que faz o passageiro fugir para os aplicativos

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Um dos dados que mais chama atenção na pesquisa do Núcleo de Inteligência de Mercado do Centro Universitário Frassinetti do Recife (UniFafire) é que os passageiros estão, de fato, fugindo do transporte público coletivo e passando a usar cada vez mais os aplicativos de transporte - inclusive o serviço com motocicletas, como Uber e 99 Moto. Vale destacar que os ocupantes de motos - condutores e agora mais do que nunca passageiros - representam, em média, entre 50% e 70% das vítimas fatais e feridas do trânsito brasileiro.
Os ônibus, é fato, ainda predominam, mas os aplicativos estão conquistando cada vez mais e mais terreno. A pesquisa da UniFafire revela que, apesar das críticas, o ônibus ainda se mantém como o meio de locomoção predominante na RMR, utilizado por 35,15% dos entrevistados.
No entanto, a pesquisa destaca uma clara mudança nos padrões de deslocamento, impulsionada pela busca por maior conveniência e flexibilidade. Os serviços de transporte por aplicativo (carros e motos) somam 23,08% da preferência, superando ligeiramente o uso do carro particular (13,83%).
COMO ESPERADO, USO DOS APLICATIVOS DE MOTO TÊM CRESCIDO MUITO
O crescimento do uso dos aplicativos de transporte de passageiros com motos - puxado pelo Uber e 99 Moto - se reflete na pesquisa: dos 23,08% que usam os apps, mais de 9% já estão fazendo seus deslocamentos com o serviço de motos.
O estudo revela que o uso combinado do transporte público coletivo (ônibus, metrô e vans), que atinge 42,41%, está em quase paridade com o transporte individual motorizado (carro particular, moto particular, carro por aplicativo e moto por aplicativo), que soma 42,07%.
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Essa estatística reforça a demanda por flexibilidade e o crescimento dos aplicativos como uma alternativa viável e cada vez mais utilizada pela população do Grande Recife. A frequência de uso do transporte público também corrobora essa dinâmica: embora 41,08% o utilizem diariamente, uma parcela significativa (22,18%) o usa "raramente" e 7,28% "nunca" utilizam, possivelmente devido à preferência por outros meios, como os aplicativos. Os principais motivos para o uso do transporte público ainda são trabalho (37,56%) e estudo (34,51%), indicando um sistema focado em deslocamentos essenciais.
João Paulo Nogueira, coordenador da pesquisa e professor da UniFafire, destaca que os dados sugerem uma mudança nos padrões de deslocamento, possivelmente influenciada pela conveniência dos apps. “Os números indicam oportunidades para políticas que incentivem transportes sustentáveis e ampliem a infraestrutura de mobilidade”, observa.
A superlotação dos coletivos nos horários de pico da manhã e da noite, a falta de prioridade, a insegurança urbana e as altas tarifas são os principais problemas. Quase 70% das pessoas que usam o transporte público no Grande Recife estão insatisfeitas com o serviço prestado. E o que é mais alarmante: quase a metade dos passageiros (43%) acham que ele tem piorado nos últimos anos - um reflexo direto da falta de investimentos no setor.
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A pesquisa do Núcleo de Inteligência de Mercado do Centro Universitário Frassinetti do Recife (UniFafire) foi realizada entre os meses de maio e junho deste ano, e que entrevistou 851 pessoas em diversos espaços públicos do Recife, localizados nos bairros da Boa Vista (Centro), Boa Viagem e Pina (Zona Sul), Várzea e Cidade Universitária (Zona Oeste), Campo Grande e Encruzilhada (Zona Norte), e Ibura (Zona Sul), além de Piedade, bairro de Jaboatão dos Guararapes, na RMR.
PROBLEMAS ESTRUTURAIS AGRAVAM A INSATISFAÇÃO DIÁRIA
A pesquisa detalha as múltiplas deficiências que culminam na profunda insatisfação dos passageiros. A superlotação é um problema crítico e estrutural, com 71,59% dos usuários classificando-a como "ruim" ou "muito ruim". E nessa avaliação pesa, sem dúvida, a falta de prioridade viária no trânsito - faixas e corredores exclusivos para os ônibus.
A segurança é outro ponto de grave crise, sendo avaliada negativamente por 75% dos usuários nos veículos e 74,89% nos terminais e paradas. O conforto dos veículos é considerado "muito ruim" ou "ruim" por 70,31% dos passageiros, evidenciando um problema estrutural na qualidade do serviço.
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Outras áreas com alta reprovação incluem a pontualidade, com 50,47% das avaliações negativas, e o longo tempo de espera, criticado por 66,08% dos entrevistados - aqui, mais uma vez, dois dos efeitos mais negativos da falta de prioridade viária para o transporte público.
A limpeza dos veículos também teve destaque ruim, sendo insatisfatória para 54,23% dos usuários. O custo da tarifa é percebido como elevado ou inadequado por 60,8% dos usuários, sendo um dos principais pontos de insatisfação. Além disso, a acessibilidade para idosos e pessoas com deficiência (PcD) é avaliada negativamente por 57,42% dos usuários.
Confira a pesquisa na íntegra:
UniFafire Inteligência de Mercado - Transporte Público by Roberta Soares
Esse quadro de deficiências se reflete na percepção de estagnação do serviço: 43,78% dos entrevistados acreditam que a situação do transporte público permaneceu a mesma nos últimos dois anos, enquanto 33,69% afirmam que piorou, e apenas 12,09% enxergam melhorias.