Mudança na Poupança libera até R$ 20 bilhões para novos financiamentos imobiliários com juros menores na Caixa
Banco espera injetar recursos no mercado imobiliário brasileiro com redução do compulsório da Poupança e ampliar financiamentos via SBPE

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Com a mudança do percentual do compulsório da Poupança (espécie de trava de parte dos recursos investidos), a Caixa Econômica Federal espera injetar até R$ 20 bilhões em recursos para novos financiamentos imobiliários, com melhores condições de juros. Em apresentação feita na Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), nesta terça-feira (21), superintendentes do banco apresentaram uma perspectiva positiva para a construção no Brasil e em Pernambuco.
A expectativa deve-se à alteração promovida pelo Governo Federal que redefine totalmente a lógica de funcionamento do sistema atual. Até agora, 65% dos depósitos da Poupança tinham, obrigatoriamente, que ser aplicados pelos bancos em crédito imobiliário, 20% eram depositados compulsoriamente no Banco Central e 15% tinham livre aplicação. Diante da queda nos saldos de Poupança e das mudanças no mercado financeiro, foi elaborado o novo modelo.
A Poupança será maximizada como fonte de financiamento, ou seja, na medida em que mais valores são depositados em poupança, mais crédito será disponibilizado para financiamento imobiliário, o que tende a ampliar a oferta de crédito considerando ainda as captações de mercado, por exemplo, via LCIs (Letras de crédito imobiliário) e CRIs (Certificados de recebíveis imobiliários).
“Se captou R$ 1 milhão via LCI, R$ 800 mil vou pegar para emprestar via SFH (Sistema Financeiro de Habitação), com teto de 12% (de juros) ao ano + TR. Como vou rentabilizar os recursos investidos se tenho outras linhas para rentabilizar melhor ? Ele vai poder pegar o proporcional na Poupança e emprestar como quiser - a tendência é que o percentual obrigatório morra”, diz o Superintendente Executivo de Habitação da Caixa, João Victor Oliveira.
A lógica é que os bancos busquem recursos no mercado e os direcionem para financiamentos imobiliários dentro do SFH, atualmente atendido por recursos da Poupança. O valor equivalente depositado na Poupança poderá ser direcionado a empréstimos com maior rentabilidade (sendo remunerado por juros mais altos). Para a população, a melhoria são mais produtos imobiliários, de até R$ 2,5 milhões, disponíveis com melhores condições de juros no mercado. Imóveis entre R$ 1,5 milhão e R$ 2,5 milhões, por exemplo, podem sair de uma taxa média anual de 19% para os 12% limitados dentro do SFH.
“A gente tem a mudança agora que de repente pode dar uma injetada (no mercado, mas ainda assim a nossa perspectiva é ‘andar de lado’, batendo o mesmo número do ano passado com SBPE e recursos livres”, adianta João Victor. Com mais de 70% do share de mercado dos financiamentos imobiliários via Poupança, a Caixa fechou o terceiro trimestre deste ano com alta de apenas 1,89% no número de contratações, totalizando 3,6 mil contratos firmados em Pernambuco. Ao longo de todo o ano de 2024, o saldo de contratações ficou em R$ 2 bilhões. Com recursos do FGTS, no Minha Casa, Minha Vida, o banco viu um salto de 11% nas contratações ao longo do terceiro trimestre deste ano.
A transição será gradual, iniciando ainda este ano. O novo modelo deverá ter plena vigência a partir de janeiro de 2027. Até lá, fica valendo o direcionamento obrigatório de 65% dos recursos captados na Poupança para operações de crédito habitacional. Dos 35% restantes, pelas regras atuais, 20% são recolhidos ao Banco Central a título de depósito compulsório e 15% vão para operações livres. Durante a transição, o volume dos compulsórios será reduzido para 15% e os 5% serão aplicados no novo regime.
PROGRAMA DE REFORMAS
Para as construtoras, apesar da melhoria projetada para financiar imóveis à classe média, outra medida anunciada pelo Governo Federal, que também se volta à essa parcela da população, o Reforma Casa Brasil é visto com certo receio, em função da origem dos recursos que irão atender o programa de crédito para reformas em imóveis e o impacto que isso pode trazer dentro de um cenário macroeconômico de ainda juros altos e pressão sobre a inflação.
“Para o segmento da construção civil, pode ter impacto, por conta da inflação. Embora o produto não vá liberar recurso na mão do cliente, não tendo necessariamente impacto na inflação como um todo, será direcionado para insumos da construção civil. Outra preocupação é o orçamento de R$ 30 bilhões, tem o olhar de gerar mais emprego e renda, mas também o de que não há especificação do fundo social a ser usado para abastecer o programa”, diz o presidente da Ademi-PE, Rafael Simões.
O Reforma Casa Brasil é voltado a famílias que já têm imóvel, mas enfrentam problemas estruturais ou de adequação. O programa terá R$ 30 bilhões de um Fundo Social, voltados a famílias com renda de até R$ 9.600. A Caixa também vai separar R$ 10 bilhões do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) para rendas superiores a esse limite — totalizando R$ 40 bilhões em crédito.
QUEM PODE USAR O REFORMA CASA BRASIL
As famílias poderão financiar valores a partir de R$ 5 mil (nas modalidades voltadas às faixas 1 e 2), com prazo de pagamento de até 60 meses. Os recursos podem ser usados para compra de materiais, pagamento de mão de obra e serviços técnicos, como projetos e acompanhamento de obras. A operação será simplificada e digital, iniciando pelo site da Caixa ou aplicativo do banco, a partir de 3 de novembro.
O valor das parcelas será limitado a 25% da renda familiar. Cada família poderá ter apenas uma operação ativa por vez. As taxas de juros variam conforme a faixa de renda mensal das famílias:
» Faixa 1: renda de até R$ 3.200, juros a partir de 1,17% ao mês
» Faixa 2: renda entre R$ 3.200,01 e R$ 9.600, juros de 1,95% ao mês
» Acima de R$ 9.600: condições estabelecidas pela Caixa
Para famílias com renda acima de R$ 9,6 mil, as condições serão estabelecidas pela Caixa, contemplando valores de financiamento a partir de R$ 30 mil, prazo de pagamento até 180 meses e taxa de acordo com o valor do crédito.