O mundo apresentado pela leitura
Debate online gratuito sobre mediação de leitura, nesta segunda, terá a participação de Gelson Bini, Eliza Morenno, Sonia Rosa e Henrique Rodrigues

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O mundo que se abre aos sentidos pode ser duro, difícil. O mundo ampliado pelas palavras é maleável e se mostra em constante transformação. Por isso a mediação de leituras pode transformar vidas – alterando a percepção que se tem do mundo. A mediação “não é apenas uma ponte entre leitores e livros, mas também uma maneira de despertar o prazer pela palavra e de revelar que cada um de nós pode se ver e se reconhecer nas histórias”, diz a escritora e atriz Eliza Morenno, que desenvolve o projeto Bibliomala, no qual a prática da contação de histórias se dá por meio da ludicidade associada ao uso do corpo e da imaginação.
A escritora Sonia Rosa, que completa 30 anos de carreira em 2025 com mais de 40 obras publicadas, e se dedica à promoção da literatura afro-brasileira, acredita que uma boa mediação de leitura “tende a aumentar o número de leitores, aumenta o interesse pelos livros, desenvolve a criticidade e faz com que o pensamento seja mais livre e ousado”. Para Gelson Bini, que desenvolve o projeto Guia de Leitura, especialmente para o público jovem, a desvalorização da leitura é um dos principais problemas para que a mediação de leitura floresça no Brasil. “A falta de estímulo e a ausência de políticas públicas eficazes resultam em uma população que lê pouco”, constata.
Nesta segunda, 15, os três conversam com Henrique Rodrigues, escritor e diretor do Instituto Caminhos da Palavra. O debate online terá acesso gratuito, a partir das 7 e meia da noite, com inscrições pela plataforma Sympla. Em depoimentos para a Literária, convidados e o condutor do debate anteciparam algumas das ideias do encontro.
O que a mediação de leitura tem o potencial de fazer no Brasil?
Eliza Morenno - Acredito que a mediação de leitura pode transformar vidas no Brasil. Ela não é apenas uma ponte entre leitores e livros, mas também uma maneira de despertar o prazer pela palavra e de revelar que cada um de nós pode se ver e se reconhecer nas histórias. Quando mediamos, abrimos espaço para que crianças, jovens e adultos construam sentidos próprios, ampliem seus horizontes e se sintam parte de uma comunidade leitora. É um gesto que fortalece a cidadania cultural e valoriza a diversidade do nosso país, mostrando que todos têm direito de viver experiências literárias significativas.
Sonia Rosa - A mediação de leitura é uma singular oportunidade de o leitor entender melhor sobre o texto através da condução de alguém que selecionou e apresentou o texto e refletiu coletivamente sobre o assunto. Como consequência, uma mediação de leitura de sucesso tende a aumentar o número de leitores, logo, aumenta o interesse pelos livros, desenvolve a criticidade e faz com que o pensamento seja mais livre e ousado. Quem lê tem o que dizer, negar, confirmar, argumentar. A leitura alimenta as ideias. Seres pensantes fazem bem ao desenvolvimento do país.
Gelson Bini - A mediação de leitura é um instrumento essencial para as sociedades em todas as instâncias. No Brasil, a mediação de leitura tem o potencial de garantir a Democracia.
Henrique Rodrigues - Trata-se de um serviço cultural que deveria ser indispensável no processo daquilo que chamamos “formação de leitores”. São estratégias para que sejam criadas pontes entre textos e leitores/ouvintes, a fim de que sejam exploradas as múltiplas possibilidades da recepção e fruição da literatura. Se tivéssemos um amplo programa focado na mediação literária, com escala e de forma sistemática, certamente nossos índices de leitura iriam melhorar ano a ano.
Aponte uma dificuldade ou obstáculo à mediação de leitura no país.
Eliza Morenno - A mediação ainda enfrenta muitos desafios no Brasil. O maior deles, para mim, é a falta de continuidade e de apoio consistente: faltam políticas públicas que garantam acervos de qualidade, espaços de leitura bem cuidados e, principalmente, formação para quem deseja mediar. Muitas vezes dependemos de projetos temporários, de editais que não se renovam, e isso faz com que lindas iniciativas fiquem pelo caminho. É um obstáculo doloroso, porque sei do impacto que a leitura tem, mas também é um chamado para seguirmos insistindo, criando e acreditando na força dessa prática.
Sonia Rosa - Livros formam mentalidade. Esta premissa envolve algumas delicadezas... Quem media, para quem media e porque media... As dificuldades que encontro numa mediação seriam reportório empobrecido e/ou comprometidos por ideologias que engessam o pensar e/ou um desconhecimento da potência do “ato de mediar”.
Gelson Bini - As dificuldades são inúmeras no país do “livro escondido”, algo que remonta ao período colonial. Aqui, apontarei apenas uma, de ordem estrutural e pedagógica: a desvalorização da leitura. A falta de estímulo e a ausência de políticas públicas eficazes resultam em uma população que lê pouco, acentuando problemas que afetam toda uma sociedade, principalmente os mais pobres.
Henrique Rodrigues - Um primeiro obstáculo é o desconhecimento sobre o processo de mediação de leitura, ou a falta de investimento nele. Apenas um exemplo: o PNLD entrega centenas de milhares de livros nas escolas públicas, e ali deveria ser iniciado outro processo de mediação junto a professores, que muitas vezes não tem tempo e estrutura para o trabalho com essas obras. Outro fator: mediação de leitura é como o saneamento básico, não é espetáculo nem tem palco. Não por acaso, temos centenas de festas literárias, que são importantes mas eventuais, mas nenhum programa amplo de mediação de leitura no país. Daí não gera interesse político e investimento de patrocinadores da iniciativa privada.
A pipa e o piá
O Instituto de Leitura Quindim lança o novo livro de Volnei Canônica e Daniel Kondo neste domingo, 14, em Caxias do Sul, sede da entidade. Uma obra que conta “uma história delicada e poética sobre infância, migração, sonhos, crescimento e o voo da imaginação”, segundo a divulgação. Haverá contação de histórias, bate-papo e sessão de autógrafos com os autores, a partir das 3 da tarde, no Shopping Villagio Caxias, onde fica o Instituto. A publicação é da Perabook.
Neomarginália na Europa
Autor de “Viela ensanguentada”, traduzido para o francês pela Editora BR Marginália, Wesley Barbosa deu início neste fim de semana a uma turnê literária pela França e pela Bélgica. O romance trata de “racismo, falta de moradia e a paixão pelos livros, refletindo a luta e a resiliência de muitos jovens brasileiros”, de acordo com a divulgação. O escritor, integrante da neomarginália, passará pelas cidades de Paris, Marselha e Toulouse, na França, e Bruxelas, na Bélgica, até o fim de setembro.
DJ do livro
O músico DJ Dolores faz sessão de autógrafos do seu livro “Lugares para chorar no Recife e outros”, na Feira NaFoz, no sábado, 20. A obra reúne memórias do autor sobre a capital pernambucana, resgatando registros do surgimento do Manguebeat e o convívio com figuras do movimento, como Chico Science. A publicação é do selo Seja Breve, de São Paulo. A partir das 4 da tarde, na mesa da editora Vacatussa, no evento que acontece na Estrada Real do Poço, 418, no Recife.
Literatura e memória
A memória pernambucana ganha novo importante registro literário. O livro “Olinda nos seus diversos momentos”, obra póstuma do arquiteto, professor e pesquisador José Luiz Mota Menezes (in memoriam), que tem produção executiva assinada por Clarisse Fraga, diretora da Bureau de Cultura, acaba de ser lançado. A publicação mergulha nos aspectos arquitetônicos, históricos e artísticos da cidade, exaltando a singularidade de seu sítio histórico – tombado pelo Iphan em 1968 e reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1982. Com fotografias de Josivan Rodrigues, o projeto tem incentivo do Funcultura e chega ao público em edição acessível, impressa e digital, incluindo audiodescrição de imagens. “Mais do que um registro histórico, a publicação reafirma o legado de José Luiz Mota Menezes como pesquisador incansável da cultura pernambucana, que sempre buscou democratizar o acesso ao conhecimento e estimular a valorização da identidade e da memória coletiva do estado”, destaca Clarisse Fraga.
Burburinho na FliAn
A presidente do Instituto Burburinho Cultural, Priscila Seixas, participou no sábado, 13, de conversa com Ericka Gavinho sobre o Marco Regulatório da Cultura de 2025 na Feira Literária de Anchieta - FliAn – no Rio de Janeiro. O Instituto Burburinho Cultural é uma organização com atuação nacional e internacional, através de projetos inovadores nas áreas de cultura, educação, tecnologia e letramento digital. Priscila Seixas é autora do “Método Burburinho de Produzir Cultura no Brasil”.