Para quem escrevemos tanto?
O destino da escrita é ser lida – mas num cotidiano afundado na superfície da imagem, esse propósito é cada vez mais negado por quem não lê

A definição de Mário da Silva Brito para uma carta é: “um monólogo querendo ser diálogo”. Expandindo a ideia para tudo que se escreve, o que deixa de ser monólogo e se abre para a observação, compreensão e indagação de outra pessoa? A carta é carta por ser destinada, e o destino da escrita é ser lida. Mas por quem, e por que, num mundo afundado a todo instante na superfície da imagem? O propósito essencial da comunicação é negado por quem não lê. E muitos que aprenderam a ler, não se preocupam em dar continuidade à leitura. Por que dariam? Para ler o que? Livros, artigos, poemas, notícias? Cartas, onde?
Um debate inquietante toma conta do setor editorial brasileiro, a partir da redução de milhões de leitores, detectada pela Pesquisa Retratos da Leitura. O mesmo debate angustia os que acreditam na força da leitura em parceria com a educação, no potencial de formação cidadã dos livros e dos profissionais envolvidos com a produção de livros. Mas o problema volta e volta como fantasma que tira o sono: escrever para quem? Onde estão os leitores que já sabem ler, gostaram de ler, e até ainda gostam, mas não leem? A formação dos leitores passa pelo desgaste da leitura, que não tem a ver com o que se escreve, mas com o mundo em que a escrita é menos e menos lida.
Se escrevemos para inventar, precisamos atrair os olhos de um leitor em busca da invenção. Se escrevemos para contar, temos que achar a escuta dos que desejam ouvir. Se escrevemos por não ver outra saída, vamos chamar os leitores a sair de onde estão, e nos seguir. Se escrevemos para mergulhar no silêncio de onde todos viemos, é bom mostrar aos leitores que o silêncio é o início de tudo. Se escrevemos para iluminar qualquer esquina sombria, devemos juntar quem leia apesar da escuridão.
Livraria nova em BH
A Casa Literíssima estimula a tradição das livrarias de rua na capital mineira. “Abrir a Casa Literíssima Livraria é reforçar o nosso papel no estímulo à leitura, oferecendo mais um espaço em Belo Horizonte, que pretende ser não só um ponto de venda de livros, mas também de encontros literários”, diz a escritora e fundadora da Literíssima Editora, Leida Reis. “É minha segunda experiência com uma livraria, a primeira enfrentou as restrições da pandemia, mas cumpriu seu papel. Agora, numa casa, um ambiente acolhedor, vamos oferecer uma curadoria apurada para adultos, jovens e crianças”, conta. A inauguração acontece de quinta, 22, a sábado, 24, com lançamentos de livros, saraus e bate-papos. O novo endereço de leitores em Belo Horizonte é na Rua Dom José Gaspar, 365, em frente ao Museu de Ciências Naturais da PUC Minas.
Mais de 40 Auroras
Com a pré-venda iniciada na última sexta-feira, do romance da gaúcha Renata Pereira, “Todos os caminhos levam ao mar”, o selo Auroras, da Litteralux, conduzido pela escritora e editora Dani Costa Russo, chegará à marca de 41 livros publicados. A obra foi finalista da oitava edição do prêmio Kindle, e sua versão física foi editada ao longo do ano passado, com a inserção de novos capítulos. Outra novidade é a aquisição de “Meu corpo e outras ofensas”, da paulistana Leticia Feltrin, e “Amorte”, de Tâmara Guerra Cussa, da Chapada Diamantina, na Bahia. As leitoras e os leitores do Auroras ainda vivem outra expectativa: quem será a vencedora do 1º Prêmio Escreviventes, promovido pelo coletivo de escritoras, na parceria que garantirá mais uma autora ao catálogo do selo, que só publica mulheres.
Era uma vez Flamengo
Vem aí pela Faria e Silva a coletânea com “22 contos em vermelho e preto”, sob o título “Era uma vez Flamengo”, organizado pelo flamenguista André Salviano. O texto da orelha é de Alberto Mussa, e o da quarta capa, de Ruy Castro. Entre os escritores convidados, Marco Antonio Martire, autor de “O gato na árvore”, publicado pela Moinhos.
Memória e escrita na Flima
A curadora Maria Carolina Casati faz a mediação do debate sobre “Memória e (Re)invenção: existir pela palavra”, com Luciany Aparecida e José Henrique Bortolucci, no último dia da Festa Literária da Mantiqueira – Flima – neste domingo, 18, em Santo Antônio do Pinhal (SP). O canal do evento no Yotube transmite a conversa ao vivo, com audiodescrição e legendas simultâneas, a partir das 3 e meia da tarde.
A potência do cinema pernambucano
O advogado e escritor Diego Medeiros faz o pré-lançamento de seu livro, nesta segunda, 19, no prestigiado Festival de Cannes, na França. Este ano, o Brasil é o país de honra do evento, e a apresentação de “A potência do cinema pernambucano” será feita como parte da celebração do audiovisual brasileiro. Segundo Medeiros, “o livro retrata esse ecossistema fértil, expansivo, múltiplo e vencedor de prêmios e reconhecimento” que é o cinema pernambucano. A coordenação editorial é da Boneca Lab.
Ensaios econômicos na APL
A Academia Pernambucana de Letras (APL) recebe, na segunda, 19, o lançamento dos “Ensaios Econômicos” de Jacques Ribemboim, com textos publicados em jornais e revistas nos últimos 30 anos. O evento faz uma homenagem ao Jornal do Commercio. A partir das 3 da tarde, na sede da entidade, no Recife.
Poesia desobediente
Vai ser na Ria Livraria, em São Paulo, o lançamento de “Estado febril” da poeta Thaís Campolina, na sexta, 23. Através de metáforas espaciais, a obra aborda o amadurecimento feminino e explora “memórias e histórias de mulheres silenciadas pela sociedade”. Na ocasião, haverá debate com Carla Guerson e Maíra Valério, na roda de conversa “Poesia desobediente”. E ainda, lançamento da plaquete “Repare a bagunça” do coletivo Casa das Poetas. Tudo a partir das 7 da noite.
Caderno de ossos
A Companhia das Letras lança o novo livro de Julia Codo na próxima sexta, 23, na Janela Livraria do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Segundo Marcelo Rubens Paiva, trata-se de “um romance tocante sobre um momento sombrio”. Na obra, o passado familiar e o de uma nação se encontram. Antes dos autógrafos para o “Caderno de ossos”, a autora conversa com Mateus Baldi, a partir das 7 da noite.
Caldos e contos
O jardim da Biblioteca Álvaro Guerra, em Pinheiros, na cidade de São Paulo, recebe neste sábado, 24, evento da ONG Vaga Lume com café da manhã, mediações de leitura, e ainda, show da banda Mundo Aflora. Para Bianca Riccio, gerente de Relações Institucionais da Vaga Lume, é preciso mudar a percepção de que a biblioteca é um espaço distante ou exclusivo, “abrindo suas portas para toda a comunidade de forma colaborativa e acolhedora”. A organização atua em quase uma centena de bibliotecas comunitárias espalhadas por 23 cidades da Amazônia Legal, desde 2001. O Caldos e Contos na capital paulista começa às 10h da manhã.
Sentimento do mundo com Carla Guerson e Dani Arrais
Carla Guerson e Daniela Arrais são as convidadas do Clube do Livro Feminista, na Livraria Sentimento do Mundo, em São Paulo, no sábado, 24. As escritoras irão conversar sobre seus processos criativos, e também a maternidade. Ao final do papo, sessão de autógrafos. O evento está marcado para as 4 da tarde.
Presente histórico
O Sarau da Dalva, no Bar do Manoel, em Campinas (SP) foi palco do lançamento do e-book “Presente histórico” da pesquisadora e multiartista Talita Azevedo, na última quarta-feira, 14. A obra faz o mapeamento de 13 lugares historicamente apagados no Brasil, um “diário de bordo sobre o antes, o durante e o depois”, segundo a autora. Saiba mais no Instagram @azevedotalita.
Largando livros por aí
Em passagem pelo Recife, a escritora carioca Maíra Gomes iniciou o projeto “Largando livros por aí”, em pontos turísticos de cidades brasileiras. Na capital pernambucana, três livros de sua autoria foram “esquecidos” pela autora, dois no Recife Antigo e um na Praia da Boa Viagem. “Ser autor independente é um grande desafio, que inclui também fazer a própria divulgação. Se o projeto levar meus livros a lugares novos e me ajudar a conquistar ao menos um novo leitor, já terá cumprido seu propósito”, diz. As próximas paradas são na Europa. Acompanhe as andanças dos livros largados por aí pelo Instagram @mairagomes_oficial.
Leitura e Cárcere
Um projeto de extensão de leitura em Santa Catarina realizou entrevistas com presos, em experiência contada no livro de Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset, “Leitura e cárcere: (entre) linhas e grades, o leitor preso e a remição de pena”. A obra, lançada no ano passado, “mostra o envolvimento de presos com a leitura, inclusive casos dos que passaram a indicar livros aos filhos e criaram o hábito de ler”.
Fernanda Machado em audiobook
Disponível em áudio na plataforma Ubook desde o último dia 12, “Tudo que não me contaram sobre a maternidade”, publicado em livro pela Letramento, é narrado pela autora, a atriz Fernanda Machado. “Eu nunca imaginei que ser mãe pudesse ser algo tão solitário. Várias mulheres ficam ilhadas com seus turbilhões de emoções, e todas se sentem sozinhas, mas a maternidade não foi desenhada pela natureza para ser vivida assim, de forma solitária”, diz a atriz no audiobook que tem o primeiro capítulo gratuito disponível por um mês. Os assinantes da Ubook podem escutar a íntegra. Saiba mais no site www.ubook.com.
Ao lado de Lina
A WMF lança obra com reflexões do arquiteto Marcelo Ferraz sobre Lina Bo Bardi, com quem trabalhou por 15 anos. “Ao lado de Lina” traz artigos selecionados e organizados por Augusto Massi, com edição de Marta Bogéa, e projeto gráfico de Gustavo Piqueira em suas 304 páginas. No livro, é publicada pela primeira vez a entrevista inédita concedida por Lina ao jornalista Fábio Altman, em 1988. O texto da orelha é de Adriana Calcanhoto, para quem os textos reunidos “nos lembram que os pilares de sua arquitetura, seus conceitos e suas contradições tiveram a devida importância confirmada com o passar do tempo”. E que “certos assuntos caros à poética de Lina agora parecem surpreendentemente bem mais atuais do que envelhecidos, enquanto outros ganham urgência cada vez maior”. Outras informações em www.wmfmartinsfontes.com.br.
Certezas de Domenico De Masi
Autor do best-seller “O ócio criativo”, publicado no Brasil pela Sextante no ano 2000, Domenico De Masi conversou com Maria Serena Palieri para o livro “O mundo ainda é jovem”, que saiu pela Vestigio em 2019. Nesse mais recente, o italiano apresenta duas certezas que seriam irrefutáveis, a seu ver. A primeira é que “o mundo no qual vivemos certamente não é o melhor dos mundos possíveis, mas é, sem dúvida, o melhor dos mundos que já existiram até hoje”. E a outra certeza: “a obra criativa do homem está apenas iniciando sua caminhada e, pela primeira vez na história humana, cabe a nós dar-lhe continuidade ou interrompê-la para sempre”. O sociólogo faleceu em 2023.