Cultura e educação no Ceará
Em entrevista na Bienal do Livro, secretária Luisa Cela diz que a literatura é um eixo da política cultural – pois a escrita é base do pensamento

A continuidade das políticas culturais tem destacado o Ceará como um estado de referência em desempenho na educação no Brasil. E não é por acaso. Durante vários governos seguidos, a troca dos gestores não muda o rumo dos projetos, consolidando resultados ano após ano. Foi na época de Fabiano Piúba como secretário estadual de Cultura, em 2021, por exemplo, que foi reinaugurada a Biblioteca Pública Estadual – BECE, um equipamento de quase 160 anos, cuja modernização foi inspirada nas bibliotecas de outros países, e que dá ao estado posição privilegiada na região e no país. Atualmente, Piúba é secretário nacional de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura, e esteve presente, ao lado da atual secretária estadual de Cultura, Luisa Cela, na XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, que se encerra neste domingo, 13. O evento é realizado pelo governo do Estado.
Em conversa para a coluna, Luisa Cela afirmou que a Bienal do Livro significa a celebração de uma prática cotidiana. “As pessoas envolvidas na cadeia produtiva e criativa do livro vivem isso todos os dias. A Bienal reúne nessa celebração as políticas que são desenvolvidas ao longo de todo o ano”. Para a secretária, o investimento público num evento literário de grande porte se relaciona com a formação da cidadania: “O nosso desejo é ampliar o número de leitores e leitoras, pela importância da leitura para a formação humana, de pensamento, de criticidade. Que começa na alfabetização. Na verdade, começa antes: a oralidade, a contação de histórias, já é uma forma de despertar o desejo pela leitura. Desejamos que as pessoas leiam, e possam ampliar a sua perspectiva de vida”.
Escrita na base das artes
Luisa Cela aponta a essência da literatura em outras formas de expressão artística. “A escrita é uma base importante para todas as expressões culturais – se você pensar na dramaturgia, no roteiro, na composição. Tudo isso é escrita. Bob Dylan, por exemplo, ganhou um prêmio de literatura sendo um músico, por suas composições, sua capacidade de escrita”. O destaque ao livro e leitura como um eixo importante da política cultural, segundo a secretária, diz respeito à formação basilar do pensamento. “Todo processo de criação, na música, no audiovisual, na dança, parte de um texto, passa pela palavra. A escrita e a leitura são bases de criação. E muitas vezes não têm a visibilidade e o volume de investimentos que a música e o audiovisual ganham. No Ceará, os movimentos de escritores, editores e bibliotecas comunitárias pedem respostas do governo, e essas respostas são políticas, e são investimentos”, garante.
Cultura e educação juntas
Luisa Cela acredita que a discussão sobre o tempo integral nas escolas faz com que a aproximação entre educação e cultura esteja na agenda do dia. “O tempo integral não pode se limitar a um currículo exclusivamente disciplinar e conteudista”, diz. A secretaria de Educação no Ceará, segundo ela, incentiva a produção cultural dentro das escolas, e nos festivais que mobilizam milhares de estudantes, a literatura desponta. “A política cultural, por ela, jamais conseguirá ter o alcance de descentralização que a educação possui: são 730 escolas no Ceará, em todos os municípios, com mais de 400 mil alunos na rede estadual. Construímos muitas políticas integradas, e claro, ainda podemos melhorar”.
Bienal das mulheres
Com o tema “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura, a décima-quinta edição da Bienal do Livro do Ceará” contou, em 2025, com a união criativa de quatro curadoras: Sarah Diva Ipiranga, nina rizzi, Amara Moira e Trudruá Dorrico, com a coordenação de Maura Isidório. Para Luisa Cela, a interdição do conhecimento às mulheres é histórica e precisa seguir sendo combatida. “O fato de as mulheres precisarem se esconder para escrever e para ler, isso é muito estruturante da desigualdade. Até hoje vemos isso, que também se expressa na dificuldade de registrar e contar histórias, dar sentido aos seus sentimentos e desejos. Nas práticas machistas, violentas, misóginas, na desconfiança sobre as capacidades. Por isso a decisão de quatro curadoras mulheres, e do tema”, explica a secretária estadual de Cultura. “A visibilidade já é algo muito relevante. E o espaço político da escrita feita por mulheres. Não é sobre disputa com os homens, mas sobre a afirmação da presença das mulheres no mundo. O registro da literatura traz uma força simbólica para a humanidade”.
Vila Literária do Flipoços
Prestes a completar 20 anos a partir do próximo dia 26, quando será dada a partida para mais uma edição, o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas, Flipoços, terá um painel cênico instagramável para os convidados da Vila Literária de Minas Gerais, uma das grandes atrações do evento. O Flipoços seguirá até 4 de maio, com as presenças confirmadas de Itamar Vieira Junior, Valter Hugo Mãe, Karine Asth, Cibele Laurentino. Patricia Palumbo, Milly Lacombe, Lira Neto, Ondjaki, Samantha Buglione, Henrique Rodrigues, Vanessa Passos, Dia Nobre e outros nomes da cena literária nacional e mundial. Programação completa disponível no site: www.flipocos.com.
Cálice
Momento marcante na turnê de Gilberto Gil, “Tempo Rei”, que passou por São Paulo neste final de semana: a interpretação de “Cálice”, música de Chico Buarque e do próprio Gil, escrita em 1973 e lançada em 1978, celebrizada nas vozes de Chico e Milton Nascimento. Canção de protesto contra a ditadura, a letra diz, em um dos trechos: “Como é difícil acordar calado / Se na calada da noite eu me dano / Quero lançar um grito desumano / Que é uma maneira de ser escutado / Esse silêncio todo me atordoa / Atordoado eu permaneço atento / Na arquibancada pra a qualquer momento / Ver emergir o monstro da lagoa”.
Encontro no Ceará
Durante a programação “O livro e seus mercados” na XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, a coordenadora Mileide Flores e o editor e consultor José Castilho acompanharam o debate sobre “A importância das mídias sociais na difusão da leitura”. Darwin Oliveira e Kinaya Black foram os convidados, com mediação deste colunista. Na terça, 8, em Fortaleza.
Saudade na APL
A Academia Pernambucana de Letras (APL) presta homenagem oficial ao acadêmico Marcos Vilaça, recentemente falecido. A sessão da saudade terá palestra do também integrante da APL e, como Vilaça, da Academia Brasileira de Letras, José Paulo Cavalcanti Filho. Nesta segunda, 14, a partir das 3 da tarde, na sede da instituição, no Recife.
O enigma de Akakor
A Livraria da Travessa de Pinheiros, em São Paulo, recebe o lançamento de “O enigma de Akakor – Farsas e segredos na Floresta Amazônica” na segunda, 14. O autor é o escritor e documentarista Ralph Erichsen, que descreve a obra como “um livro-reportagem com doses de aventura e cultura pop”. Akakor teria sido um império pré-hispânico na Amazônia, segundo se dizia na década de 1970. Inspirado por Orson Welles, Erichsen reflete sobre o que é realidade ou não. O cineasta Jorge Bodanzky esteve na floresta nos anos 1960, e cedeu material de pesquisa para o livro. A publicação é da Faria e Silva. O evento na capital paulista começa às 7 da noite.
Ébano sobre os canaviais
A escritora Adriana Vieira Lomar faz o lançamento de seu livro no Rio de Janeiro, na quarta, 16. Na ocasião, conversa com William Soares dos Santos sobre “Ancestralidade e a construção da memória pela ficção”, antes da sessão de autógrafos. A publicação é da José Olympio. Na Travessa de Ipanema, a partir das 7 da noite.
Monteiro Lobato
Bisneta do criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Cleo Monteiro Lobato lança no sábado, 19, o livro “Pena de Papagaio”, oitavo volume da série Reinações de Narizinho. A obra é uma adaptação do original de 1920, escrito pelo bisavô. “Adaptar o português de 100 anos atrás e reimaginar a personagem Nastácia de forma representativa para mulheres negras atuais foram grandes desafios, mas também um imenso privilégio”, conta Cleo. O lançamento será a partir das 10h da manhã, no Museu Monteiro Lobato em Taubaté (SP). Saiba mais sobre a autora no site www.monteirolobato.com.
Paixão da experiência
Débora Gil Pantaleão lança em Natal o livro “Paixão da experiência e outros ensaios sobre escrita” no próximo domingo, 20. Antes dos autógrafos, a autora bate papo com a também escritora Danielle Souza. No Mahalila Café & Livros a partir das 6 da tarde. A publicação é da Escaleras.
Abrindo caminhos
O Instituto Caminhos divulgou a lista de oficinas online que serão oferecidas nas próximas semanas. Começando com Giovana Madalosso, em 23 de abril. A partir de maio, os encontros virtuais serão com Bráulio Tavares, Gaía Passarelli, Marcos Rego, Bethânia Pires Amaro, Claudia Lage e Luisa Geisler. Confira os temas, datas e horários no site www.caminhosdapalavra.com.br.
Caminhos do Flipoços
E no dia 3 de maio, o Instituto Caminhos promove a oficina presencial “Dê um susto no medo: como escrever e lançar seu livro” com Jéssica Balbino. Uma tarde inteira no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas – Flipoços. No L’ami Bistrô a partir da 1 da tarde.
Oito mil quilômetros
Entrou em pré-venda o livro de crônicas de Sara Klust, imigrante que saiu do Recife e vive há três décadas na Alemanha. “Oito mil quilômetros” é uma publicação da Kotter Portugal. Para Marília Arnaud, os textos “nos falam sobre deslocamento, identidade, sentimentos de inadequação e não pertencimento”. Saiba mais em www.kotterpt.com.
Bibliotecas são nuvens
Em artigo para a revista Pernambuco de abril, publicada pela Cepe, Joaquim Falcão, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), recorda a época dos textos manuscritos e copiados, em que a invenção de Gutenberg suscitou impactos tão grandes quanto o que testemunhamos em nossos dias. “Quando passamos aos livros feitos através da imprensa de ferro e madeira, o mundo assustou-se. Como se assusta agora com as novas tecnologias. Tudo ficou maior, mais possível e mais instantâneo. Gerações envelheceram da noite para o dia. De repente, o leitor ficou analfabeto. As relações entre o livro, o ler e os leitores ficaram infinitas. Intermediadas pelos aplicativos”, escreve. E pondera: “Mas atenção. Maior revolução não é os aplicativos serem mais rápidos. Mas encontrarem, mapearem, juntarem, separarem, multiplicarem, refazerem os dados pré-existentes. Guardados, trancados, encerrados em bibliotecas. As bibliotecas são as nuvens de outrora. Sempre foram. Fizeram pontes de tangíveis livros a intangíveis ideias. De materiais a imateriais. Guardavam as pedras imateriais”. Leia mais em www.pernambucorevista.com.br.