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Pernambuco apresenta em Portugal potencial de Suape em projetos de geração de energia limpa e novos combustíveis

Serviços do complexo portuário, apresentação de motor para geração de energia a etanol e cenários sobre produção de e-metanol dominam o Coniben

Por Fernando Castilho Publicado em 28/11/2025 às 0:00 | Atualizado em 29/11/2025 às 19:16

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LISBOA – As possibilidades de negócios internacionais no Complexo Portuário de Suape, as perspectivas de produção de energia elétrica a partir de termelétricas movidas a etanol e os desafios do estado para ser um produtor de e-metanol foram apresentados nesta sexta-feira (28) por ocasião do Coniben 2025, quando as possibilidades de atração de investimentos foram mostradas para empresários e gestores do Brasil, de Portugal e da Espanha.

No dia anterior (27), o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, apresentou as potencialidades do estado na abertura do encontro, que reuniu 150 pessoas dos três países interessados em temas como a gestão do excesso de energia verde e o armazenamento de energia gerada por elas.

Um desafio ao planejamento do setor elétrico diante de uma nova realidade que se impôs na onda de projetos de geração de energia através de novos combustíveis que não estão se concretizando como esperado.

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Jose Faustino Diretor de Temrica Suape II Coniben 2025 - Divulgação

No caso de Pernambuco, três assuntos estiveram na pauta de vários painéis do Coniben, especialmente relacionados ao fato de como o complexo industrial e portuário de Pernambuco se apresenta como local de novos investimentos.

O presidente de Suape, Armando Monteiro Bisneto, fez uma apresentação sobre a infraestrutura que o terminal já possui, com mais de 90 empresas instaladas. É o maior porto de cabotagem do Brasil, o sexto em movimentação de cargas e uma operação de contêineres que no ano passado chegou a 700 mil TEUS.

Armando Bisneto também relacionou os investimentos que a companhia está fazendo, o que inclui a conclusão da infraestrutura do seu conjunto de cais interno e externo, capazes de suportar a atracação de navios de grande porte. Além das perspectivas de ampliação de movimentação com a duplicação da Refinaria Abreu e Lima da Petrobras.

Ele relacionou também dois importantes investimentos, como o futuro terminal da OnCorp, cujo cadastramento de térmicas novas a gás, por conta do Terminal de Regras de Suape, da OnCorp, colocou Pernambuco no Top 5 dos estados que mais registraram projetos. O fato gera a expectativa de que algum projeto para ser suprido pelo referido terminal.

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Luiz Piauilyno Filho Coniben 2025 - Divulgação

O outro tema apresentado em Suape diz respeito à instalação de duas plantas de produção de e-metanol pela dinamarquesa European Energia e pela GO, que vão demandar ao menos 240 mil toneladas de CO2 criogênico e que vão exigir ações do governo do Estado na construção de uma cadeia desse insumo para as plantas desse novo combustível.

E nos painéis do Coniben, nesta sexta-feira (28), Pernambuco também foi relacionado quando o diretor da Térmica Suape II, José Faustino Cândido, apresentou o motor movido a etanol que está sendo instalado na térmica de 390 MW instalado ali existente.

Suape II é uma associação do Grupo Savana (80%) com a Petrobras (20%) e está entre as térmicas de melhor performance no Brasil, inclusive à frente de unidades a gás natural.

O projeto do motor de geração de energia movido a etanol foi uma demanda da própria empresa ao fornecedor de equipamentos dinamarquês Westfália, que, em menos dois anos, entregou um motor anteriormente movido a óleo combustível para ser movido a etanol.

O interesse da Suape II é se apresentar para a disputa do leilão de capacidade previsto pela Aneel em 2026 como uma solução verde, o que poderia levá-la substituir suas 17 máquinas movidas a óleo bruto, entrando num segmento vetado para o setor por trabalhar com combustível derivado de petróleo.

Entretanto, um dos temas que estiveram na lista de painéis do Conibem foi o desafio de Pernambuco para se habilitar à produção de e-metanol através dos projetos da EE e da GO Verde.

Segundo o consultor de energia Luiz Piauhylino Filho, que participou do painel Planejamento de Transição Energética, existe uma janela de oportunidades para Pernambuco como fornecedor de matéria prima para a produção de e-metanol.

Mas o governo vai precisar estruturar uma cadeia produtiva de um insumo estratégico para a produção do novo combustível, que é o CO2 criogênico - que pode ser capturado no processo de produção de etanol das 37 destilarias existentes no Nordeste - mas que ainda assim não será suficiente para suprir a demanda dos dois empreendimentos.

Os primeiros números de demanda de CO2 divulgados pelas empresas indicam que ele precisará comprar, ao menos, 290 mil toneladas de CO2 que hoje não estão disponíveis na região.

Piauhylino defende que o governo de Pernambuco entre no circuito para identificar outros vegetais que podem levar à produção de CO2, como é o caso da palma forrageira e do sisal, culturas que os pequenos agricultores já conhecem.

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Painel de debate sobre energia no Coniben 2025 - Divulgação

“Essa é uma oportunidade que se apresenta. As novas indústrias terão que encontrar esse insumo onde ele estiver. Hoje elas podem comprar de empresas de gestão de aterros sanitários ou da China. Minha sugestão é que o governo de Pernambuco entre nesse debate e viabilize novos usos”, diz.

Ele não acredita que todas as destilarias de Pernambuco e de estados do Nordeste se mobilizem para capturar CO2. Mas aposta que, se isso se tornar um novo item na sua prateleira, muitas delas vão apostar nesse novo.

Esse mercado já existe para empresas que entregam o CO2 para a indústria de refrigerantes, por exemplo. Porém é importante ter presente que o mercado de etanol é muito grande e que, se não for ocupado ao menos em parte por produção local, os empreendedores vão buscá-lo na China.

A produção de e-metanol está dentro de um mercado colossal que existe em potencial e que ainda não foi ocupado por não existir disponibilidade. Para se ter uma ideia do que isso representa, basta dizer que apenas a União Europeia prevê uma demanda de 2,6 milhões de toneladas de combustível de metanol para uso marítimo.

Curiosamente, a mesma empresa marítima que é vista como o primeiro cliente dos dois empreendimentos, previstos para sua produção com combustível verde marítimo, é a Maersk, que também está construindo um Terminal de Uso Privado (TUP) em Suape, através de uma subsidiária a APM terminals, que deve funcionar em 2027.

A gigante dinamarquesa e a sua concorrente MSC encomendaram para os próximos anos 400 novos navios de grande porte movidos a e-metanol, que vão se somar aos 1.000 movidos a gás natural.
E esse é um negócio que só deve crescer nos próximos anos, segundo Luiz Piauhylino, pois estudos internacionais apontam uma necessidade de bilhões de metros cúbicos de e-metanol apenas para o setor marítimo.

Luiz Piauhylino Filho foi um dos palestrantes do painel sobre transição energética no Coniben quando falou dos desafios da produção de combustíveis verdes nos próximos anos devido ao fato de que a indústria não entregou uma tecnologia que torne esses novos combustíveis verdes competitivos.

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Luiz Piauilyno Filho Coniben 2025 com o diretor do porto de Sines - Divulgação

E também porque a própria União Europeia criou um pacote de regras tão severas que até agora apenas a European Energy foi capaz de construir uma pequena planta de e-metanol, enquanto vários países simplesmente não conseguem viabilizar seus projetos na União Europeia devido às exigências.

Ironicamente, fora desse espaço e mirando esse novo mercado, a China implantou uma nova indústria de e-metanol, que poderá suprir as futuras necessidades de vários setores.

Para Piauhylino, Pernambuco não tem como competir em termos de volume com a produção da China. Mas pode aproveitar a existência de projeto de duas plantas de e-metanol no complexo portuário de Pernambuco para suprir parte desse novo mercado.

E porque, se conseguir fazer isso, pode consolidar minimamente uma cadeia produtiva de plantas nativas que podem servir para a produção de e-metanol em Suape, inserindo o estado nesse mercado de classe mundial, conclui o consultor.

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