Instalada em Suape, termelétrica de Pernambuco terá primeira geração de energia elétrica movida a etanol do mundo
Suape Energia inicia montagem de turbina de geração a etanol desenvolvida na Finlândia, introduzindo um novo conceito no mercado de energia renovável.
Clique aqui e escute a matéria
Há pouco mais de dois anos, o diretor executivo da termelétrica Suape Energia, José Faustino da Costa e o diretor do Brasil da Wärtsilä, Jorge Alcaide, estiveram na sede da companhia da Finlândia com uma proposta desafiadora para a gigante de energia dona de tecnologia de geração de energia para praticamente todo tipo de combustível: desenvolver um gerador de energia movido a etanol.
Os finlandeses olharam para os dois com surpresa, mas aceitaram o desafio e se iniciou uma longa trajetória de conversas que se materializou na manhã desta terça-feira (18) no Distrito Industrial de Suape onde a empresa controlada pelo empresário, Carlos Alberto Mansur e a Petrobras - que detém 20% do negócio - e gera 380 MW de energia firme sempre que é despachada pelo ONS, apresentou a primeira turbina movida 100% a etanol que deve agregar um novo conceito de geração térmica no Brasil dominado pelo óleo bruto derivado de petróleo e até carvão mineral.
A turbina deve funcionar até o final de dezembro, quando os técnicos da Wärtsilä devem concluir sua montagem depois de ela ter sido testada na Finlândia e deverá gerar mais 4 MW de energia firme, transformando-se na 18ª unidade da planta da Suape Energia.
Entretanto, por adotar uma tecnologia ainda não homologada pelo Ministério das Minas e Energia, pela Aneel e pelo ONS, toda energia gerada por ela não poderá ser absorvida pelo Sistema Interligado Nacional uma vez que pelos protocolos de segurança, a turbina precisa ser testada por um ano para ser comissionada pelos órgãos oficiais.
Wärtsilä e Suape Energia não consideram isso perda. Embora para a térmica signifique comprar etanol para abastecê-la até que a energia seja faturada e entre no circuito nacional. Mas dentro do setor elétrico da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), na Petrobras, nas entidades de produtores de etanol de cana-de-açúcar e no Mercado Livre de Energia, a entrada da turbina já provoca atenções especiais pelo que ela representa no segmento no futuro.
Usinas térmicas precisam de um combustível para serem acionadas. E no caso da turbina da Wärtsilä até isso será feito usando biodiesel, o que significa dizer que ela é de fato movida a combustível renovável. Isso quer dizer que apenas o mercado de turbinas que a própria +Wärtsilä tem no Brasil em centenas de térmicas já é um novo negócio.
Para o setor sucroalcooleiro a turbina Wärtsilä é um achado de mercado, pois deve agregar freguês onde apenas no Norte Nordeste operam 37 usinas que podem vir a ser fornecedoras de combustível.
Mas segundo o diretor da Wärtsilä Brasil, Jorge Alcaide, a empresa desenha novos mercados. Especialmente o de Datacenter. Para ele, a companhia prevê soluções de fornecimento de energia que combinem as plantas de geração de energia solar e eólica com as turbinas a etanol com suporte de baterias de armazenamento (a Wärtsilä fabrica esses equipamentos) junto aos parques de geração assegurando potência aos Datacenters.
O presidente da EPE, Thiago Prado, que conheceu a turbina em Suape, avalia que ela será um elemento importante para o futuro do setor, reforçando a proposta da tecnologia ser aceita nos próximos leilões de potência da Aneel para os próximos anos.
O presidente do Sindaçúcar e diretor Executivo da Renovabio, Renato Cunha, vê horizontes mais amplos para o etanol como elemento incorporado à geração de energia térmica estacionária e especialmente marítima onde os dois gigantes do setor, Maersk e MSC, já se preparam para usar etanol como elemento renovável dos motores de sua frota de 1.500 navios.
E que uma decisão da Organização Marítima Internacional (International Maritime Organization) determinou que em 2026, os navios precisam usar um blend de combustível renovável de 10%. Isso, quando for implementado, quer dizer um mercado de 50 bilhões de litros de etanol.
Para uma base de comparação basta dizer que o Brasil produz 37 bilhões de litros de etanol por safra. Agora acrescente a isso o potencial de uso nas milhares de usinas térmicas que hoje usam combustível de petróleo, indaga Cunha.
O professor Reive Barros, que coordena os debates técnicos da Conferência Ibero Brasileira de Energia (Coniben) - que acontece nos próximos dias 27 e 28 em Lisboa - revelou que o projeto da Turbina da Wärtsilä implantada em Suape será apresentado internacionalmente no evento que reúne empresários e dirigentes do setor elétrico.
Ele acredita que a nova tecnologia de geração de energia elétrica a etanol pode trazer para o setor de geração térmica um novo apelo de pegada ambiental.
Mas ele também defende que ela sirva de instrumento para que vários estados brasileiros, especialmente no Nordeste, possam aproveitar a janela de oportunidade criada pelos datacenters.
“Precisamos entender que vamos ter que usar energia renovável nesse novo mercado e precisamos fazer isso sem depender de linhas de transmissão que não serão construídas a tempo de ocupar essa janela”, diz o professor.
O que podemos fazer é ter Datacenters onde existe carga de energia firme. Construir esses parques junto à geração fazendo a conexão dos dados por cabos submarinos e terrestres. Ter usinas térmicas junto de parques eólicos e solares é fundamental para capturar projetos de Datacenters. O custo da transmissão no Brasil pode inviabilizar vários projetos desses equipamentos. O caminho é ter projetos de Data Centers off-grid, adverte Reive Barros.