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Instalada em Suape, termelétrica de Pernambuco terá primeira geração de energia elétrica movida a etanol do mundo

Suape Energia inicia montagem de turbina de geração a etanol desenvolvida na Finlândia, introduzindo um novo conceito no mercado de energia renovável.

Por JC Publicado em 18/11/2025 às 16:30 | Atualizado em 18/11/2025 às 17:25

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Há pouco mais de dois anos, o diretor executivo da termelétrica Suape Energia, José Faustino da Costa e o diretor do Brasil da Wärtsilä, Jorge Alcaide, estiveram na sede da companhia da Finlândia com uma proposta desafiadora para a gigante de energia dona de tecnologia de geração de energia para praticamente todo tipo de combustível: desenvolver um gerador de energia movido a etanol.

Os finlandeses olharam para os dois com surpresa, mas aceitaram o desafio e se iniciou uma longa trajetória de conversas que se materializou na manhã desta terça-feira (18) no Distrito Industrial de Suape onde a empresa controlada pelo empresário, Carlos Alberto Mansur e a Petrobras - que detém 20% do negócio - e gera 380 MW de energia firme sempre que é despachada pelo ONS, apresentou a primeira turbina movida 100% a etanol que deve agregar um novo conceito de geração térmica no Brasil dominado pelo óleo bruto derivado de petróleo e até carvão mineral.

A turbina deve funcionar até o final de dezembro, quando os técnicos da Wärtsilä devem concluir sua montagem depois de ela ter sido testada na Finlândia e deverá gerar mais 4 MW de energia firme, transformando-se na 18ª unidade da planta da Suape Energia.

Entretanto, por adotar uma tecnologia ainda não homologada pelo Ministério das Minas e Energia, pela Aneel e pelo ONS, toda energia gerada por ela não poderá ser absorvida pelo Sistema Interligado Nacional uma vez que pelos protocolos de segurança, a turbina precisa ser testada por um ano para ser comissionada pelos órgãos oficiais.

Wärtsilä e Suape Energia não consideram isso perda. Embora para a térmica signifique comprar etanol para abastecê-la até que a energia seja faturada e entre no circuito nacional. Mas dentro do setor elétrico da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), na Petrobras, nas entidades de produtores de etanol de cana-de-açúcar e no Mercado Livre de Energia, a entrada da turbina já provoca atenções especiais pelo que ela representa no segmento no futuro.

Usinas térmicas precisam de um combustível para serem acionadas. E no caso da turbina da Wärtsilä até isso será feito usando biodiesel, o que significa dizer que ela é de fato movida a combustível renovável. Isso quer dizer que apenas o mercado de turbinas que a própria +Wärtsilä tem no Brasil em centenas de térmicas já é um novo negócio.

Para o setor sucroalcooleiro a turbina Wärtsilä é um achado de mercado, pois deve agregar freguês onde apenas no Norte Nordeste operam 37 usinas que podem vir a ser fornecedoras de combustível.

Mas segundo o diretor da Wärtsilä Brasil, Jorge Alcaide, a empresa desenha novos mercados. Especialmente o de Datacenter. Para ele, a companhia prevê soluções de fornecimento de energia que combinem as plantas de geração de energia solar e eólica com as turbinas a etanol com suporte de baterias de armazenamento (a Wärtsilä fabrica esses equipamentos) junto aos parques de geração assegurando potência aos Datacenters.

Fernando Castilho
Diretor executivo da Termelétrica Suape Energia. José Faustino da Costa. - Fernando Castilho

O presidente da EPE, Thiago Prado, que conheceu a turbina em Suape, avalia que ela será um elemento importante para o futuro do setor, reforçando a proposta da tecnologia ser aceita nos próximos leilões de potência da Aneel para os próximos anos.

O presidente do Sindaçúcar e diretor Executivo da Renovabio, Renato Cunha, vê horizontes mais amplos para o etanol como elemento incorporado à geração de energia térmica estacionária e especialmente marítima onde os dois gigantes do setor, Maersk e MSC, já se preparam para usar etanol como elemento renovável dos motores de sua frota de 1.500 navios.

E que uma decisão da Organização Marítima Internacional (International Maritime Organization) determinou que em 2026, os navios precisam usar um blend de combustível renovável de 10%. Isso, quando for implementado, quer dizer um mercado de 50 bilhões de litros de etanol.

Para uma base de comparação basta dizer que o Brasil produz 37 bilhões de litros de etanol por safra. Agora acrescente a isso o potencial de uso nas milhares de usinas térmicas que hoje usam combustível de petróleo, indaga Cunha.

O professor Reive Barros, que coordena os debates técnicos da Conferência Ibero Brasileira de Energia (Coniben) - que acontece nos próximos dias 27 e 28 em Lisboa - revelou que o projeto da Turbina da Wärtsilä implantada em Suape será apresentado internacionalmente no evento que reúne empresários e dirigentes do setor elétrico.

Fernando Castilho
Apresentação do projeto da terá primeira geração de energia elétrica movida a etanol do mundo em Suape. - Fernando Castilho

Ele acredita que a nova tecnologia de geração de energia elétrica a etanol pode trazer para o setor de geração térmica um novo apelo de pegada ambiental.

Mas ele também defende que ela sirva de instrumento para que vários estados brasileiros, especialmente no Nordeste, possam aproveitar a janela de oportunidade criada pelos datacenters.

“Precisamos entender que vamos ter que usar energia renovável nesse novo mercado e precisamos fazer isso sem depender de linhas de transmissão que não serão construídas a tempo de ocupar essa janela”, diz o professor.

O que podemos fazer é ter Datacenters onde existe carga de energia firme. Construir esses parques junto à geração fazendo a conexão dos dados por cabos submarinos e terrestres. Ter usinas térmicas junto de parques eólicos e solares é fundamental para capturar projetos de Datacenters. O custo da transmissão no Brasil pode inviabilizar vários projetos desses equipamentos. O caminho é ter projetos de Data Centers off-grid, adverte Reive Barros.

 

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