Presidente do Comitê de Produção e Transmissão de Energia defende a transformação de usinas hidrelétricas em reversíveis
Para João Carlos de Mello adaptação de usinas já existentes virou opção importante já que elas gerar grandes blocos de energia no horário de pico.

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O presidente do Comitê Nacional Brasileiro de Produção e Transmissão de Energia Elétrica (CIGRE-Brasil), João Carlos de Mello disse nesta segunda-feira, por ocasião da abertura do XXVIII Seminário Nacional de Produção e Transmissão, que as dificuldades que o setor elétrico está enfrentando com os problemas decorrentes de uma super oferta de energia vão exigir uma nova postura e abordagem de todos os atores envolvidos sob pena de ter agravada uma situação de crise que já está instalada.
Segundo ele, problemas como o Curtailment de energia, que é a redução forçada da geração de energia, especialmente de fontes renováveis (eólica e solar) que já ameaçam os investimentos feitos no setor elétrico, especialmente no Nordeste assim como a questão da Micro Geração Distribuída exigem um novo posicionamento do ONS e da Aneel, antes que a questão se torne ainda mais graves.
João Carlos de Melo disse que as soluções existem, mas ao exigir atitudes. Para ela, o ONS terá que ter mais autoridade sobre a questão da MMGD, pois ela atingiu um volume de entrada no Sistema Interligado Nacional que precisa ser mais bem gerenciada.
Ele falou sobre a adoção de sistemas de armazenamento com a tecnologia do BESS [sistema de armazenamento de energia em baterias, na sigla em inglês] que poderão ajudar no enfrentamento no curto e médio prazo do problema, mas defende que o Brasil comece a analisar a adição de soluções mais firmes como a implantação de sistemas reversíveis em hidroelétricas que pode, efetivamente, devolver a confiabilidade do sistema.
Sistemas de usinas hidrelétricas reversíveis (UHR) funcionam como grandes baterias hídricas, utilizando eletricidade excedente para bombear água de um reservatório inferior para um superior. Quando a demanda de energia aumenta, a água é liberada para o reservatório inferior, passando por turbinas e gerando eletricidade novamente.
João Carlos de Mello lembrou que o Brasil detém a tecnologia de engenharia e construção de usinas hidrelétricas que será a mesma do projetos de usinas reversíveis, algumas delas já projetadas para esse fim.
Como nós sempre fomos um país de usinas hidrelétricas adquirimos o conhecimento de engenharia que pode ser usado para transformar um número considerável em usinas reversíveis. Não vamos precisar de mais autorizações sobre o impacto ambiental porque o que vamos fazer é usar de forma mais eficiente os reservatórios dessas usinas, disse o presidente do CIGRE-Brasil.
Ele avalia que as soluções de gerenciamento do Curtailment assim como um reposicionamento sobre a gestão do MMGD se tornaram uma questão urgente que o governo e o Congresso não podem demorar muito em definir um caminho. Isso inclui a solução de armazenamento, mas ainda assim não de forma estrutura de longo prazo.
Se o Brasil finalmente adotar a solução de implantação de um novo parque reversível, temos perspectivas de soluções definitivas. Embora isso exija planejamento para que a indústria de máquinas possa atender aos projetos. Além de novos projetos de financiamento que permitam a remuneração do capital aplicado.
João Carlos de Mello revelou que o tema BESS assim com o de usinas reversíveis está presente na jornada de apresentação dos 550 trabalhos previstos para serem levados a público no XXVIII Seminário Nacional de Produção e Transmissão, o que mostra a atualidade da pauta do evento.
Ele reconheceu que o setor elétrico vive um momento de redefinições pelo número de atores que entraram no sistema de geração e transmissão especialmente do setor privado. E lembrou que antes das privatizações de empresas como a Eletrobrás as decisões poderiam ser tomadas de forma a atender os interesses dos governo, inclusive definidos os grandes investimentos.
A grande quantidade de atores, a chegada com muito dinamismo da gestão das energias intermitentes e a própria MMGD colocaram no sistema um elevado número de atores que o conceito inicial já não dá conta.
Para ele, a própria crise decorrente do excesso de energia, muito em função do crescimento abaixo do esperado é uma mostra desse novo quadro que exige dos atores uma conversa para uma solução de curto prazo, inclusive para não colocar em risco os investimentos feitos desde o primeiro parque eólico no Brasil.
O Seminário Nacional de Produção e Transmissão prossegue até esta quarta-feira (22) com apresentação de trabalhos de mais de 1.500 profissionais para uma audiência de mais de 3000 mil pessoas que estão presentes no Recife Expo Center que abriga ainda uma feira setorial ocupando todos os espaços do novo centro de eventos do Recife