PEC da Blindagem dispara gatilho na esquerda, que nem sabia mais como era estar nas ruas por uma bandeira que a fizesse cantar
Artistas, movimentos sociais, partidos de esquerda, jovens e veteranos tiveram um domingo de festa protestando contra a PEC da Blindagem

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A esquerda voltou às ruas neste domingo (21). Fazia tempo que jovens e velhos que sempre votam em Lula e nos partidos de esquerda, que adoram adoram sair de casa para um protesto justo e que não tinham um único motivo para pegar aquela bandeira - quase desbotada - que estava no fundo de um armário, improvisar um bastão e voltar às ruas felizes da vida.
Nos últimos anos, é bem verdade que a direita tomou o lugar, motivada por uma pauta radical de costumes, que rivalizou com as manifestações tradicionais, em que partidos como PSOL, PSTU e movimentos sindicais e sociais brigam pelas fotos nos jornais e nas redes sociais.
Por isso, quando a Câmara Federal entendeu de escrever um desses textos absurdos que assustou até corruptos tradicionais pela desfaçatez, especialmente, pelo volume de votos (inclusive de partidos como o PSB e o PT), a indignação funcionou como um gatilho que disparou um bom motivo para muita gente aproveitar as manhãs e tardes de domingo para se encontrar com as ruas.
E, dessa vez, a custo baixo para os partidos de esquerda, que nem precisaram convocar os movimentos sociais para turbinar as passeatas.
A PEC da Blindagem, que, nos protestos, virou PEC da Bandidagem, também serviu para mostrar como a reação da população pode encurralar políticos e dirigentes de partidos a ponto de se apressarem em dizer que os votos de seus correligionários “foi opção livre” como o presidente Lula - cujo partido deu 12 votos à PEC - que agora condenaram a aprovação da proposta na Câmara.
Esse tipo de comportamento mostra como essas lideranças se comportam quando os conflitos políticos dão errado. Assim como revelam a fraqueza moral dos seus deputados.
Felizmente, como já avisou o relator da PEC no Senado, Alessandro Vieira (MDB-SE), a proposta joga a imagem do Legislativo no lixo e será derrubada no Senado, de modo que já nesta quarta-feira, ela vai deixar de existir, ficando apenas na história.
Não vai durar mais que uma semana. Embora esse seja um tempo suficiente para a população tomar conhecimento de qual deputado colocou seus votos numa dessas esquisitices que de vez em quando o Congresso propõe na tentativa de ver se dá certo.
Não tinha como dar certo. E ela só foi à frente porque a Câmara Federal, hoje, está sendo comandada por um deputado bisonho que leva grito de líder do partido; precisa de apoio do ex-presidente da mesma Casa (que o indicou para se sentar na cadeira) e que entrou para a história como um desses sujeitos que ficam marcados pela obtusidade.
Hugo Motta acreditou que se aprovasse essa PEC da Blindagem, os deputados da direita passariam a lhe respeitar. Como se os 83 deputados do PL estivessem interessados na sua opinião, assim como os 42 do seu partido, o Republicanos.
Claro que os deputados que se sentaram na cadeira de Hugo Mota e o desmoralizaram sabiam que uma estultice dessas não passava no Senado. Mas eles estavam interessados em uma forma de passar o outro projeto, que muda a dosimetria da pena para os indiciados e condenados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro a partir de Jair Bolsonaro.
O PL não quer saber de nada que não seja aprovar uma lei que anistie todo mundo já condenado e em fase de julgamento, a começar pelo ex-presidente.
Por isso é que, de início, já condenou a proposta da Lei da Dosimetria, que trouxe de volta personagens como Michel Temer, Aécio Neves e Paulo da Força.
É difícil saber se isso prospera porque o PL vai rechaçar a ideia. Ainda mais com a demonstração de mobilização da esquerda nas ruas neste domingo.
No fundo, o sepultamento da PEC da Blindagem talvez possa enterrar também a Lei da PL da Dosimetria. Um "lero-lero" bem ao estilo de Temer, com aquele seu vocabulário empolado.
Mas até que a partir do andamento das conversas de Paulinho da Força com tanta gente, quem sabe se o Congresso aprovará alguma lei que reduza as penas dos indiciados que não fazem parte dos chamados grupos de comando.
Até porque sempre é importante fazer uma pergunta básica nesse movimento da Família Bolsonaro e do líder da oposição Sóstenes Cavalcanti: O que os Republicanos, de Ciro Nogueira, o próprio PL, de Valdemar Costa Neto, o PSD de Gilberto Kassab e a União Brasil de Rueda ganham com a volta de Jair Bolsonaro?
Mas, neste domingo (21), a esquerda foi dormir com um sentimento que há muito tempo não experimentava. Mesmo que o cheiro de guardado das bandeiras só tenha se dissipado depois de serem agitadas muitas vezes.
Veja como votaram os deputados de Pernambuco
No segundo turno da votação, 19 parlamentares pernambucanos votaram a favor da proposta e 5 foram contrários. Confira a lista:
A favor da PEC da Blindagem:
André Ferreira (PL)
Augusto Coutinho (Republicanos)
Clarissa Tércio (PP)
Coronel Meira (PL)
Eduardo da Fonte (PP)
Eriberto Medeiros (PSB)
Felipe Carreras (PSB)
Fernando Coelho (União Brasil)
Fernando Monteiro (Republicanos)
Fernando Rodolfo (PL)
Guilherme Uchoa (PSB)
Lucas Ramos (PSB)
Luciano Bivar (União Brasil)
Lula da Fonte (PP)
Mendonça Filho (União Brasil)
Ossésio Silva (Republicanos)
Pastor Eurico (PL)
Pedro Campos (PSB)
Waldemar Oliveira (Avante)
Contra a PEC da Blindagem:
Carlos Veras (PT)
Clodoaldo Magalhães (PV)
Maria Arraes (Solidariedade)
Renildo Calheiros (PCdoB)
Túlio Gadelha (Rede)