Prova Nacional Docente: professores avaliam primeira edição marcada por provas extensas e debate sobre idadismo
Os participantes responderam 30 questões objetivas e uma discursiva de Formação Geral e 50 questões de múltipla escolha de Componente Específico
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A primeira edição da Prova Nacional Docente (PND) foi realizada neste domingo (26) em todo o país. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o exame foi criado para avaliar o nível de conhecimento e a formação dos futuros professores das licenciaturas. Além disso, tem como objetivo auxiliar estados e municípios na seleção de docentes para suas redes de ensino.
No entanto, muitos participantes criticaram o formato da prova, afirmando que ela foi extensa e apresentava questões complexas, que pouco refletiam a realidade do trabalho docente em sala de aula. Também houve diversas queixas sobre a estrutura e a organização do exame
Nas redes sociais do Inep, candidatos relataram atrasos de até meia hora para o início da aplicação e, em alguns locais, a falta de lugares para todos os inscritos devido à alta demanda.
Com duração de 5h30, os participantes responderam às questões de Formação Geral Docente, que contou com 30 questões objetivas e uma discursiva, voltada à análise de aspectos como clareza, coerência, coesão, argumentação e domínio da norma-padrão da língua portuguesa.
Já a prova de Componente Específico teve 50 questões de múltipla escolha voltadas para situações-problema e estudos de caso da área de formação de cada participante. Foram avaliadas 17 áreas de licenciatura.
Professores avaliam complexidade da PND
A coluna Enem e Educação conversou, nesta segunda-feira (27), com alguns docentes sobre as impressões do chamado "Enem dos Professores".
O professor Janielson Carlos de Lima, que leciona Biologia e Ciências na rede estadual de Pernambuco, realizou a PND na cidade de Carpina. Ele relatou que houve dificuldades durante a aplicação do exame. “As pessoas responsáveis pela aplicação não demonstravam muito domínio do processo e tiveram dificuldades na distribuição das provas. Acredito que, para alguns candidatos da minha área, isso acabou pesando, porque perdemos tempo durante o exame”, afirmou.
Sobre o nível de dificuldade da prova, Janielson reforçou que seria necessário um tempo maior de prova, por causa da questão discursiva. "A quantidade de textos era absurda, toda questão precisava ler um texto antes, fazer uma interpretação, e você simplesmente não consegue fazer isso com uma leitura apenas, é preciso recorrer ao texto duas ou três vezes", disse.
Para a professora da Uninassau, Lucíola Correia, cuja área de conhecimento é Letras (Língua Portuguesa e Inglesa), já era esperado que a PND trouxesse muitas questões baseadas em textos. No entanto, segundo ela, além de os textos serem muito longos, os enunciados também exigiam bastante leitura. “Ao final, ainda tivemos que responder a um questionário de percepção da prova, com dez questões. Tudo isso tornou o exame exaustivo”, avaliou.
Por outro lado, Lúciola destacou a qualidade do material utilizado, que mesclava textos verbais e não verbais, como charges, letras de músicas e poemas. “Eu esperava, porém, que parte das questões se relacionasse mais à didática em sala de aula, a conteúdos teóricos da pedagogia e que tivesse questões comuns de interpretação de texto do ensino da Língua Inglesa, por exemplo”, observou.
A docente também chamou atenção para o fato de que muitas questões estavam relacionadas à aplicação de determinadas didáticas, o que, para ela, é um ponto problemático. “É algo muito subjetivo. Havia perguntas em que parecia haver duas respostas possíveis - uma mais certa e outra menos certa -, o que não é adequado em uma prova de múltipla escolha, onde deve haver apenas uma alternativa correta”, pontuou.
A professora da rede municipal de São Lourenço da Mata, Ana Cláudia Nascimento, explicou que as questões trabalharam com situações-problema, utilizando também o contexto interdisciplinar, e que esse formato de prova mais extenso e cansativa se assemelhou ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
"Já fiz algumas edições do Enem, na época para ingressar na Universidade Federal de Pernambuco, então não senti tanto impacto nesta prova e já venho estudando bastante para concursos. Na parte em que pedem para fazermos a avaliação, sugeri que poderiam reduzir o tamanho dos textos", afirmou.
Questão discursiva aborda idadismo como desafio social e educacional
A questão discursiva da Prova Nacional Docente abordou o idadismo como desafio social e educacional no Brasil. O enunciado destacou a importância de combater estereótipos e práticas discriminatórias baseadas na idade, além de promover a integração entre diferentes gerações no ambiente escolar.
O tema foi contextualizado por textos motivadores que explicavam o conceito de idadismo. Também foram incluídos o Art. 22 do Estatuto do Idoso, que propõe a inserção de conteúdos sobre envelhecimento e valorização da pessoa idosa nos currículos escolares, e um texto de Paulo Freire, que reflete sobre a juventude e a velhice como atitudes diante da vida e da aprendizagem.
A estudante do 8º período do curso de Pedagogia, Heloysa Souza, também considerou a prova cansativa e não gostou do tema escolhido para a redação. No entanto, afirmou que, para quem se preparou, a PND pode ser considerada boa. "Havia várias questões na minha área de Pedagogia que vi durante a formação na faculdade. Então achei a prova boa; realmente, se a pessoa prestou atenção às aulas e concluiu a faculdade recentemente, saberia responder", disse.
A professora universitária Ana Marques, que vê na PND uma oportunidade de ingressar na Educação Básica, avaliou que, apesar de muito extensa, a prova apresentava boa qualidade. “Eram questões que realmente precisavam ser lidas com atenção para interpretar corretamente o que estava sendo solicitado. Achei a prova dentro de um nível adequado, até mais difícil em comparação a outras que já fiz”, afirmou.
Sobre o exame ter sido criado como mecanismo de avaliação da formação de professores no Brasil, Ana acredita que, de forma geral, não há como fugir muito desse formato avaliativo. “Dentre as possibilidades de verificação do conhecimento, esse é um tipo de avaliação adequado. Uma prova consegue medir parte do conhecimento do professor, embora existam muitos outros aspectos que não podem ser contemplados totalmente em nenhum outro tipo de exame”, explicou.
Para a professora da rede universitária privada, Sandra Lima Rocha, a prova foi dentro do previsto e bem explicativa, e de fato terá como medir da qualidade do aprofundamento e base de estudo dos participantes. "Os assuntos estão bem dentro de prática de ensino ativa e a busca constante por participação maior do aluno do desenvolvimento escolar. Meu uso da nota, inicialmente, vai ser para análise pessoal. E além de poder dialogar com meus alunos do nível superior como está acontecendo tais questões", afirmou a docente.
Confira os municípios que aderiram a PND, em Pernambuco
A PND tem como público-alvo pessoas com formação em licenciatura que queiram lecionar em escolas da rede pública. A prova tem como intuito estimular a realização de concursos públicos e induzir o aumento de professores efetivos nas redes de ensino do Brasil;
Importante destacar que a PND confere autonomia às redes de ensino para utilizarem os resultados conforme suas necessidades específicas, seja de forma classificatória, eliminatória ou complementar a outras provas.
Em Pernambuco, além do Governo do Estado, 27 municípios aderiram voluntariamente à prova e podem utilizar as notas em seus processos seletivos. São eles:
- Agrestina
- Altinho
- Araripina
- Bezerros
- Brejo da Madre de Deus
- Cabo de Santo Agostinho
- Carpina
- Caruaru
- Gameleira
- Garanhuns
- Goiana
- Ipubi
- Itacuruba
- Jaboatão dos Guararapes
- Lagoa Grande
- Limoeiro
- Mirandiba
- Moreno
- Petrolina
- Recife
- Santa Cruz
- São José do Egito
- Serrita
- Solidão
- Tacaratu
- Timbaúba
- Triunfo