Rec’n’Play debate desafios e futuro da educação brasileira com destaque para novo PNE

Mesa redonda reuniu Tabata Amaral, Cesar Callegari e Mozar Neves para discutir investimentos, governança e valorização docente na educação

Por Mirella Araújo Publicado em 17/10/2025 às 21:07 | Atualizado em 17/10/2025 às 21:47

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Os entraves estrutruais e as perspectivas para a educação brasileira nortearam o painel "Desafios e Futuros da Educação no Brasil", realizado nesta sexta-feira (17), dentro da programação do festival Rec'n'Play, no Recife. 

A mesa redonda, conduzida pelo professor Luciano meira, reuniu no Cinema do Porto a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), o sociólogo e presidente do Conselho Nacional de Educação, Cesar Callegari, e o professor Mozar Neves Ramos, titular da Cátedra Sério Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE. 

Em meio aos avanços nas discussões sobre o novo Plano Nacional de Educação (PNE), os participantes destacaram a urgência de transformar promessas em políticas públicas concretas. Nesta terça-feira (14), o relator do Projeto de Lei (PL) nº 2614/2024, o deputado Moses Rodrigues (União-CE), apresentou o relatório preliminar, que prevê um custo de R$ 280 bilhões em investimentos públicos para o cumprimento das metas listadas até 2035.

“Ninguém nunca tinha calculado quantos por cento do PIB seriam necessários pra entregar esses resultados. A gente chegou a um resultado, que é preciso elevar o investimento em educação de pouco mais de 5% para 7,5% do PIB em dez anos", afirmou a deputada Tabata Amaral, que também é presidente da comissão especial que analisa o novo PNE.

A parlamentar defendeu que o novo documento possa trazer mecanismos de cobrança e aumento real no investimento público, com foco em resultados e inclusão.  “Essa é a primeira versão do relatório. A gente tem aí duas, três semanas para aprimorar esse relatório, fazer a votação, o texto vai pro Senado e, se Deus quiser, será sancionado ainda este ano", disse. 

Segundo Tabata, um dos maiores avanços da nova proposta é trazer clareza sobre o que se espera da educação brasileira. “Até aqui, a gente seguiu muito pela ideia do Ideb. Por mais que ele tenha ajudado o país a avançar, quando junta muitas coisas em seu cálculo, pode fazer com que a gente perca o foco do que importa", pontuou.

"O que deveria estar nos movendo é garantir que toda criança saiba ler e escrever plenamente, que saia do segundo ano com o instrumental de matemática afiado pra aprender frações e que tenha noções básicas de tecnologia", completou. 

O novo texto prevê a criação de um sistema de governança que assegure que prefeitos, governadores e o governo federal prestem contas periodicamente.  A cada dois anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) produzirá dados para todos os municípios e estados, mostrando o avanço de cada um em relação à desigualdade racial, à inclusão de crianças com deficiência e à qualidade da educação ofertada pelas redes de ensino.

Essas informações, explicou, servirão para orientar novas ações, e, ao receber os dados, a prefeitura terá três meses para apresentar um plano de ação para os próximos dois anos, justificando seu desempenho. A deputada acrescentou que apenas gestores comprometidos terão acesso a novos recursos, destacando que o dinheiro extra será liberado somente para aqueles que estiverem em dia com a gestão da educação e apresentarem progresso em relação ao próprio desempenho.

Valorização docente como prioridade

Para Cesar Callegari, que também participou da mesa-redonda "Perspectivas de uma Inteligência Artifical para a educação do Brasil", o novo Plano Nacional de Educação indica de forma clara que é necessário que o Brasil deve investir mais em educação, mas que estes recursos possam ser melhor empregados.

Apesar de reconhecer que estabelecer o financiamento como a 19ª meta do PNE é uma proposta ousada, há no país uma disputa política em torno dos recursos públicos.

“O fato de o Plano Nacional de Educação estar colocando uma meta ambiciosa, que alguns dizem que é não realizável, é porque recursos públicos estão sempre em disputa. Dizer que o Brasil não tem dinheiro... bom, eu quero dizer o seguinte: o governo brasileiro, com os nossos impostos, destina para os bancos e para as instituições financeiras, principalmente, 963 bilhões de reais por ano — juros, apenas juros — que são capturados por instituições bancárias e instituições financeiras", criticou Callegari.

O presidente do CNE afirmou que o melhor destino dos recursos adicionais deve ser a valorização dos docentes, o que implica tornar a carreira mais atrativa.

Vanessa Alcântara/Divulgação
O professor Luciano Meira conduziu a mesa redonda que reuniu a deputada federal Tabata Amaral, o presidente do CNE, Cesar Callegari, e o professor Mozar Neves - Vanessa Alcântara/Divulgação

“Professor no Brasil tem que começar a sua carreira profissional com salário de R$ 9.000,00 e progredir a partir daí. Com isso, a gente atrai os melhores entre os melhores brasileiros e brasileiras pra área docente. E não existe nada mais importante na educação do que professor", completou. 

Ele afirmou ainda que não há uma solução única para os desafios da educação brasileira, mas há um princípio fundamental. “Tem muitas coisas que possam ser feitas na educação brasileira, né? Não tem uma espécie de uma bala de prata que resolva tudo, mas tem uma regra de ouro. Essa regra de ouro se chama professora e professor", reforçou.

Foco no que realmente importa

O professor Mozar Neves Ramos endossou a defesa de que não adianta ter mais recursos se não houver foco para a sua destinação.

"Eu fico muito impressioando quando eu digo, prefeito o que é mais importante quando a gente olha para a calçada da escola ou talvez termos um laboratório de ciências? Seria legal ter a calçada, mas se eu não tenho nem um laboratório de ciências, priorize pelo menos aquilo que vai importar no desenvolvimento dos nossos estudantes e professores.

Apesar de considerar que o país avançou nos últimos 25 anos, comparanto o per capita aluno do ano 2000, que era em média R$ em média R$ 2.500, e agora esse valor chega a R$ 6.500, Mozart apontou para a estagnação nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, principalmente em termos de resultados de aprendizagem.

Para ele, mudanças estruturais — especialmente na formação inicial dos professores — são essenciais para que o Brasil avance de forma consistente na educação. "A gente só vai mudar se a universidade mudar, se ela entender que não é apenas mais conteúdo, é exatamente como qualificar esses conteúdos e preparar os professores para a prática da sala de aula", afirmou o professor. 


 

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