Compromisso com a alfabetização: cidades pernambucanas mostram avanço no ensino

O Índice de Compromisso com a Alfabetização mostrou que a média geral dos municípios pernambucanos subiu de 5,2 para 7,9 no período

Por Mirella Araújo Publicado em 13/08/2025 às 15:50

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A infrequência escolar é um dos principais obstáculos à alfabetização e exige atenção tanto às condições de vulnerabilidade social e econômica das crianças quanto ao papel da escola em acolhê-las e incentivar seu engajamento ao longo da trajetória educacional.

No município de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, a Busca Ativa foi um dos eixos avaliados pelo Índice de Compromisso com a Alfabetização (ICA), divulgado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE).

O levantamento avaliou o grau de comprometimento dos 184 municípios pernambucanos com a alfabetização de crianças de 6 e 7 anos, matriculadas no 1º e 2º anos do ensino fundamental. Igarassu alcançou a nota 9,98 no ICA 2024.

“A Busca Ativa é algo que tem avançado muito na nossa rede, nós temos buscado fortalecer esse relacionamento entre a escola e as famílias”, afirmou a professora do 2º ano do ensino fundamental, Angela Silvestre, da Escola Dalila de Melo Fonseca, localizada no bairro de Triunfo.

Segundo a docente, outros aspectos também precisam estar atrelados não apenas ao enfrentamento das faltas recorrentes, mas à garantia da permanência do estudante na escola. Isso porque a alfabetização ocorre por meio de um ciclo que se inicia na Educação Infantil e deveria ser concluído no 2º ano do ensino fundamental, quando se espera que as crianças de 7 anos saibam decodificar letras e compreender textos simples.

“Se a gente não tem recursos, não tem uma boa sala de aula, a gente não consegue desenvolver o trabalho necessário”, pontuou. Ter salas climatizadas, com boa iluminação, investir na formação continuada dos professores e no material de apoio pedagógico, é essencial nesse processo em todas as etapas da vida escolar.

“Nós fazemos uma avaliação diagnóstica, onde vemos realmente quais são as necessidades do aluno em termos de aprendizagem. Percebemos as dificuldades, mas também as habilidades e, a partir daí, fazemos um planejamento para que esses alunos consigam avanços de fato”, explicou Angela Silvestre, em entrevista à coluna Enem e Educação.

 

JAILTON JR./JC IMAGEM
Aluno do 2º ano do ensino fundamental, da Escola Dalila de Melo Fonseca, estão conquistando avanços na leitura e escrita - JAILTON JR./JC IMAGEM
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A professora Angela Silvestre leciona no 2º ano do ensino fundamental da Escola Dalila de Melo Fonseca - JAILTON JR./JC IMAGEM
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Alunos da Escola Dalila de Melo Fonseca, em Igarassu, fazendo atividades na Estação da Leitura - JAILTON JR./JC IMAGEM

Incentivo fora da sala de aula e com participação da família

Na Escola Dalila de Melo Fonseca, o incentivo à leitura e à escrita não fica restrito à sala de aula. Ao caminhar pela escola, há diversos espaços pensados para que os alunos se sintam à vontade para escrever e ler.

“É uma forma deles criarem esse hábito. Nós temos quadros, que chamamos de Estação da Leitura, utilizados nos intervalos. O aluno que terminou a tarefa primeiro, por exemplo, pega o piloto e sai da sala de aula para interagir com esse quadro. Ou então, quando identificamos que os alunos estão muito agitados, também incentivamos que eles façam as atividades da Estação”, destacou a coordenadora pedagógica, Susilene Oliveira.

“O nosso maior desafio é a questão da frequência escolar, onde a gente vê uma dificuldade muito grande das crianças estarem presentes na escola. Mas, ao longo do tempo, temos buscado maneiras, junto ao município e à rede geral, de trabalhar a busca ativa."

A família é fundamental nesse processo de alfabetização. “Nos plantões pedagógicos, mostramos o gráfico de leitura tanto geral da escola quanto individual. Então mostramos aos pais, através dos resultados das provas do SAEV [Sistema de Avaliação Educar pra Valer], o acompanhamento de fluência, em que nível cada criança está e o nível que a escola pretende alcançar”, disse Susilene, em entrevista à coluna Enem e Educação.

Um mundo de possibilidades

Saber ler e escrever abre um mundo de possibilidades para o futuro das crianças. A estudante Elisa Maria, de 7 anos, parece entender bem isso. “Eu gosto muito de fazer textos. Gosto de escrever poemas e cartinhas para os meus pais também”, disse a menina, que sonha em ser artista.

Letícia da Silva, de 8 anos, também gosta de ler e escrever. Ela quer ser cantora. “É muito importante saber ler para que as pessoas possam aprender mais”, afirmou.

Roger Cícero, de 8 anos, quer ser jogador de futebol quando crescer e sabe que, além da dedicação ao esporte, precisa se dedicar aos estudos. “Também gosto de ler poemas e trava-línguas porque dá para brincar. A primeira palavra que aprendi a ler foi ‘bolo’ e hoje consigo acompanhar bem as aulas”, afirmou.

Compromisso com a alfabetização avança

O Índice de Compromisso com a Alfabetização mostrou que a média geral dos municípios pernambucanos subiu de 5,2 para 7,9 no período. O índice varia de zero a 10 e tem como foco a alfabetização de crianças de 6 e 7 anos, matriculadas no 1º e 2º anos do ensino fundamental.

Do total de municípios, apenas 33 (18%) alcançaram notas entre 9 e 10; 122 (66%) obtiveram notas entre 7 e 8,9; 24 (13%) conquistaram notas entre 6 e 6,9; enquanto cinco municípios (3%) registraram notas entre 4 e 5,9.

A edição 2024 do ICA/TCE-PE avaliou sete eixos, incluindo dois novos: Valorização de Professores e Busca Ativa de Alunos. Esses se somam aos cinco eixos já analisados na edição anterior: Legislação, Colaboração, Formação, Material e Monitoramento.

De acordo com o TCE, os maiores avanços foram registrados nos eixos Formação, Material e Monitoramento, influenciados pela adesão dos municípios à plataforma do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA).

O levantamento também apontou um aumento significativo na formalização dos Planos Municipais de Alfabetização. Em 2023, apenas 3% dos municípios tinham o plano. Em 2024, esse percentual subiu para 41%.

Recife e Petrolina também ultrapassam a marca de 9,9 pontos

Além de Igarassu, as cidades de Petrolina e Recife figuraram entre os únicos municípios a ultrapassarem a marca de 9,9 pontos. Em Petrolina, no Sertão do Estado, o ICA 2024 alcançou a nota 9,97. Já a capital pernambucana atingiu 9,94.

"Esse desempenho é resultado direto de ações estruturadas como o Programa Primeiras Letras, que tem como eixo principal a alfabetização na idade certa. A iniciativa envolve estratégias de formação continuada para professores, distribuição de material didático complementar, sistema de premiação e apoio técnico e financeiro para escolas, monitoramento constante da aprendizagem e fortalecimento da gestão escolar", afirmou a gestão municipal, por nota.

Ainda de acordo com a Prefeitura do Recife, "os avanços registrados em áreas como formação docente, oferta de materiais e estratégias de monitoramento demonstram a efetividade da política municipal de alfabetização".

 

Kleyvson Santos/PCR
O Recife figura entre os destaques do estado, ao lado de Igarassu e Petrolina, como os únicos municípios a ultrapassarem a marca de 9,9 pontos - Kleyvson Santos/PCR

 

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