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Dia Mundial do Meio Ambiente: jovens do Sertão de Pernambuco vencem prêmio nacional com filtro sustentável

O Prêmio Criativos Escola + Natureza é promovido pelo programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, com apoio da Undime e do Greenpeace Brasil

Por Mirella Araújo Publicado em 05/06/2025 às 14:59 | Atualizado em 05/06/2025 às 15:02

Um filtro adsorvente à base de cascas de pinha, capaz de reduzir a carga poluente da manipueira, desenvolvido por alunos da Escola Técnica Estadual (ETE) Paulo Freire, localizada no município de Carnaíba, no Sertão do Pajeú de Pernambuco, foi um dos seis projetos vencedores do Prêmio Criativos Escola + Natureza.

A premiação é promovida pelo programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, com apoio da Undime e do Greenpeace Brasil, e o resultado foi divulgado nesta quinta-feira (5), data em que é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Os projetos selecionados se destacaram pelo impacto socioambiental, originalidade, criatividade, empatia, trabalho em equipe e, principalmente, pelo protagonismo estudantil.

Entre os temas abordados estão a valorização de saberes indígenas e tradicionais, o reflorestamento, o combate às queimadas, a preservação das águas e práticas sustentáveis construídas de forma colaborativa.

“Filtropinha: dos resíduos aos recursos”

Em outubro do ano passado, a coluna Enem e Educação mostrou como o Filtropinha foi desenvolvido. No Quilombo do Caroá, localizado no município de Carnaíba, as casas de farinha desempenham um papel fundamental na geração de renda para muitos moradores. No entanto, apesar de sua importância econômica, ainda há pouco conhecimento sobre os impactos ambientais causados pelos resíduos dessas unidades, que podem provocar a poluição da água, do solo e do ar.

Diante desse cenário, um grupo de alunos do segundo 2ª ano do Ensino Médio da ETE Paulo Freire desenvolveu um filtro de baixo custo, feito a partir de cascas de pinha, com o objetivo de reduzir os impactos ambientais provocados pelo líquido gerado no processo de produção da farinha de mandioca. Esse resíduo contém substâncias tóxicas, como o ácido cianídrico, que podem representar riscos ao meio ambiente e à saúde.

O protótipo do Filtropinha foi produzido com o uso de uma impressora 3D. Na estrutura, uma peneira foi instalada na saída do filtro para fixar o papel filtrante e o tecido de algodão. As cascas de pinha, que passaram por um processo específico até se transformarem em farinha, são adicionadas ao filtro, juntamente com o algodão e o carvão.

O projeto foi desenvolvido pelos estudantes Ângela Rafaela Lima Santos, Beatriz Vitória da Silva, Eduardo da Silva Oliveira e Luana Noêmia da Silva, sob a orientação do professor Gustavo Bezerra e a coorientação da professora Carla Robecia Nascimento.

“Foi com muita alegria que os alunos, nós, professores, e toda a comunidade escolar recebemos a notícia da premiação, porque agora teremos mais recursos para chegar até a comunidade e oferecer um retorno mais efetivo aos trabalhadores das casas de farinha, podendo contribuir tanto com os moradores quanto com a nossa visibilidade social e o desenvolvimento de projetos dentro da comunidade”, afirmou o professor Gustavo Bezerra, em conversa com a coluna Enem e Educação, nesta quinta-feira.

Agora, a equipe pretende aprimorar o trabalho do Filtropinha com a aquisição de equipamentos importantes, como um identificador de ácido cianídrico, a fim de obter maior precisão na medição e remoção dessa substância.

“Nós também queremos ajudar os trabalhadores das casas de farinha, que vivem em situação precária, comprando uma caixa-d’água para realizarmos o tratamento, além de implementar uma horta no espaço”, completou Bezerra.

 Ao apresentarem o filtro aos moradores do Quilombo do Caroá, os alunos relataram que muitos deles nunca haviam tido acesso a informações sobre os riscos ambientais e à saúde associados ao líquido gerado no processo de transformação da mandioca em farinha.

“Ganhar essa premiação é uma felicidade não só pra gente, mas para toda a comunidade, porque quando a gente conquista algo, as pessoas da nossa comunidade também conquistam. Os moradores e trabalhadores da região sempre se mostram muito receptivos quando vamos apresentar o projeto. Eles dizem que ninguém nunca deu visibilidade aos problemas deles. Como produzem farinha todos os dias, a questão da manipueira é constante, mas eles não têm visibilidade por serem uma comunidade pequena, com poucas casas de farinha”, explicou a estudante Ângela Rafaela Lima Santos.

Premiação

Além do incentivo financeiro de R$ 12 mil para cada equipe, sendo R$ 10 mil destinados aos estudantes e R$ 2 mil ao educador ou adulto responsável, os vencedores participarão de atividades relacionadas à COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA).

Segundo o programa Criativos da Escola, esta edição do prêmio recebeu 1.593 inscrições, envolvendo mais de 60 mil estudantes e 5.300 educadores, distribuídos por 738 municípios brasileiros.

Entre os projetos inscritos, 468 incluíram estudantes com deficiência, e mais de 90% das propostas vieram de escolas públicas — com destaque para instituições estaduais (51%) e municipais (33,2%). Escolas federais, privadas e organizações da sociedade civil também participaram da iniciativa.

“Esses projetos demonstram que a infância e a adolescência estão pensando e criando boas respostas para enfrentarmos os desafios ambientais do presente e do futuro. Ao conectar cultura, ciência, história, tecnologia e saberes tradicionais, os finalistas do Prêmio Criativos Escola + Natureza mostraram que, por meio da educação e da ação coletiva, é possível transformar a realidade local e inspirar um futuro mais sustentável para todos", afirmou Gabriel Salgado, gerente de Educação e Culturas Infanto-Juvenis do Instituto Alana

Veja a lista dos projetos vencedores:

  • Projeto: “O diálogo com a natureza: Povos indígenas da Amazônia e a sustentabilidade”, do Instituto de Educação do Amazonas, de Manaus (AM);
  • Projeto: “Protótipo de Sistema de Reuso de Água na promoção da sustentabilidade e o uso responsável dos recursos naturais”, do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, em Codó (MA);
  • Projeto:“Filtropinha: dos resíduos aos recursos”, da Escola Técnica Estadual Paulo Freire, de Carnaíba (PE);
  • Projeto:”Ecotech”, do Instituto Federal de Sergipe, de Estância (SE);
  • Projeto:“Colocar o coração no ritmo da Terra: reflorestando mentes e corações”, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint-Hilaire, em Porto Alegre (RS);
  •  Projeto:“Queimadas no Pantanal”, da Escola Municipal Rural de Educação Integral Polo Sebastião Rolon - Extensão Nazaré, em Corumbá (MS).

 

 

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