APRENDIZAGEM | Notícia

Em escola estadual, matemática é usada como ferramenta para discutir justiça socioambiental, inteligência artificial e territorialidade

Alunos aprendem matemática por meio de saberes tradicionais, inteligência artificial e temas ligados ao desenvolvimento sustentável

Por Mirella Araújo Publicado em 25/04/2025 às 14:34

Na Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Professor Fernando Mota, localizada no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, os alunos têm uma abordagem diferenciada para o aprendizado da matemática.

Números, formas geométricas, equações e outros cálculos são ensinados por meio do conhecimento sobre as comunidades tradicionais, a aplicação da inteligência artificial e os desafios do desenvolvimento sustentável.

Esses temas estarão presentes na Feira de Matemática, que terá como foco principal o "Bem-Estar para a Justiça Socioambiental" e será realizada entre os dias 6 e 8 de maio, das 9h às 11h30 e das 13h30 às 15h30. O evento é organizado pelos professores Djalma Alves, Silvana Melo, Valfrido Costa e Mario Correia.

Os alunos do 1º ano vão trabalhar com o tema "A Matemática e os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável", no dia 6 de maio. No dia seguinte, será a vez do 2º ano, cujas pesquisas estarão voltadas para "A Matemática Dialogando com as Comunidades Tradicionais: Passado, Presente e Futuro". Por fim, no dia 8 de maio, os estudantes do 3º ano irão abordar o tema "A Matemática Aplicada à Inteligência Artificial: Uso e Potenciais".

Matemática mais próxima

Para o professor Valfrido Costa, é possível observar que existe "uma matemática dentro da matemática". Ou seja, há diferentes formas de aplicar seus conceitos. O problema é que a maioria dos alunos não vê a matemática como algo acessível.

Por isso, é fundamental que as escolas desenvolvam uma base sólida para a disciplina, começando no ensino fundamental, passando pelo ensino médio e chegando ao ensino superior. Uma das maneiras de fazer isso é tirar a matemática da "caixa pedagógica" e explorar outras possibilidades de aprendizagem.

"A matemática está em tudo. Por exemplo, dentro do tema 'Brinquedos e Brincadeiras Culturais', realizamos uma oficina com o Mestre Sauba, sobre o brinquedo Mané Gostoso. Os alunos perceberam que há diversos conteúdos matemáticos nesse brinquedo, como ângulos, simetria e geometria. Na brincadeira de roda, a matemática é observada a partir do cumprimento da circunferência, da área do círculo e dos cálculos envolvendo o diâmetro e o raio. O que estamos buscando é mostrar a matemática na prática."

Também foi realizada uma oficina sobre o Maracatu de Baque Virado, com a presença do Mestre Biu e da Nação Maracatu Sol Brilhante do Recife, e uma oficina sobre Quilombolas, com Professora Dany. "O que existe de matemática dentro do Maracatu? A simetria da gola da roupa do Rei do Maracatu, as escalas musicais. No caso dos povos originários, por exemplo, vemos a geometria fractal e plana, percebidas no artesanato e nas casas", explicou o docente.

Desempenho dos alunos

Para a aluna do 2º ano Sarah Neri, de 17 anos, a matemática nunca foi uma de suas disciplinas preferidas. Ela confessou que tinha uma relação limitada com a matéria, pois acreditava que muitos cálculos e fórmulas não teriam utilidade além do que é exigido na escola.

"Mas, se nós olharmos ao nosso redor, usamos a matemática no nosso dia a dia constantemente. Então, o nosso principal objetivo com a feira é tirar essas limitações que a maioria das pessoas tem sobre a matemática e mostrar que ela não é esse bicho de sete cabeças que todos pensam. Na brincadeira da amarelinha, por exemplo, usamos as áreas dos quadrados e retângulos, semicircunferências... então tudo é matemática — inclusive nas nossas brincadeiras e cultura", afirmou Sarah, em entrevista à coluna Enem e Educação.

Ver a inserção da matemática em tantos temas diversos sempre causa surpresa no início das atividades. Foi assim com a aluna Luana França, de 16 anos, que também estuda na EREM Professor Fernando Mota.

"Ver a matemática dentro da cultura indígena foi um pouco surpreendente pra mim, porque a gente sempre pensa na cultura, na história — e não diretamente na matemática. Mas eles utilizam na construção das casas, na produção dos artesanatos, também para saber o tempo de colher e de caçar, porque isso é tudo questão de sequência, contagem, etc.", afirmou a jovem.

Trazer a matemática sob uma nova abordagem não é novidade na EREM Professor Fernando Mota. No ano passado, também no mês de maio, alunos e professores realizaram a MatÁfrica, com o tema “A Matemática e o Continente Africano: Um Passeio pela África”, tendo como enfoque o enfrentamento ao racismo.

A repercussão dessa atividade foi positiva não apenas no cotidiano dos estudantes em sala de aula. Vale destacar que o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, o que foi muito celebrado pelos alunos que tinham se engajado nas atividades da Feira de Matemática.

 

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