Pesquisa revela que apenas 45% das turmas de Educação Infantil praticam leitura com mediação
O acesso à literatura desde a etapa inicial da vida exige políticas públicas e iniciativas que assegurem a presença dos livros e promovam a leitura

Na primeira infância, a leitura tem um papel fundamental para o desenvolvimento cognitivo, socioemocional e da linguagem da criança. É nessa fase da vida em que há a construção da identidade e ter acesso a livros desde cedo fortalece estimula a imaginação e o pensamento crítico.
Entretanto, segundo dados da pesquisa "Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: um retrato pós-BNCC", realizada pela FMCSV (Fundação Maria Cecília Souto Vidigal), LEPES (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social) da USP e o Movimento Bem Maior, com apoio do Itaú Social, apenas 45% das turmas de Educação Infantil no Brasil realizam atividades de mediação de leitura de histórias. Desses, 5% o fazem sem intencionalidade pedagógica.
Os dados também apontam que, embora 83% das unidades de Educação Infantil possuam livros de histórias, apenas 10% oferecem acesso livre às crianças. Além disso, 39% das turmas de creches e pré-escolas não incluem atividades literárias na rotina, e somente 27% promovem momentos de leitura compartilhada.
"Evidências científicas de distintos campos de conhecimento, como, por exemplo, as neurociências, a pedagogia, a psicologia e a economia, escancaram a centralidade da primeira infância, faixa etária que compreende dos 0 aos 6 anos de idade e que condiz com o período em que as crianças frequentam a Educação Infantil", aponta o documento.
- Estudante pernambucano representará o Brasil na Olimpíada Internacional de Física, em Paris
- "Não se faz educação de qualidade sem orçamento": reitores de universidades federais de Pernambuco cobram ação contra cortes
- Educação Financeira chega às salas de aula com apoio de plataforma digital em escola do Recife
"Diversas dessas evidências demonstram o quanto a qualidade das interações com
o meio e com os adultos de referência, bem como a garantia de afeto, estímulos adequados e cuidados são cruciais para as aprendizagens e desenvolvimento integral. O que demonstra a urgência em se garantir a qualidade do atendimento oferecido nas unidades educacionais existentes e nas que venham a ser criadas", reforça o estudo.
A pesquisa "Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: um retrato pós-BNCC" analisou 3.467 turmas em 12 municípios brasileiros e apontou ainda que práticas de aprendizagem com leitura e escrita, e oportunidades relacionadas à participação das crianças na organização das atividades cotidianas não ocorreram em uma parcela compreendida entre 39% e 49% das turmas.
Saiba como assistir aos Videocasts do JC
Um direito a ser garantido
O acesso à literatura desde a etapa inicial da vida é um direito de todas as crianças, mas exige políticas públicas e iniciativas que assegurem a presença dos livros e promovam a leitura como parte da rotina das famílias e instituições de Educação Infantil.
"Ler na infância vai muito além de decifrar palavras — é garantir que todas as crianças tenham o direito de se relacionar com a linguagem escrita e a literatura de maneira significativa, prazerosa e contextualizada", afirmou Cláudia Sintoni, gerente de Implementação do Itaú Social.
"Quando uma criança tem acesso aos livros e ao estímulo da leitura, ela expande seu repertório, desenvolve habilidades socioemocionais e fortalece sua capacidade de compreender o mundo. Garantir esse direito, nessa perspectiva, é repensar as concepções de educação, reconhecendo-a como um compromisso com o desenvolvimento integral das crianças", reforçou Cláudia.
No início de 2024, o Ministério da Educação (MEC) lançou uma consulta pública para atualizar os “Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil”. A iniciativa contou com a participação de 1.717 instituições de todas as regiões do país, que enviaram mais de 2.230 contribuições.
O novo documento, elaborado com o apoio de mais de 30 mil representantes da sociedade civil, destaca que o direito à leitura na Educação Infantil deve se fundamentar em duas dimensões essenciais: pedagógica e estrutural.
Do ponto de vista pedagógico, a interação das crianças com os livros deve ser incentivada desde os primeiros anos, promovendo o letramento, a criatividade e o pensamento crítico. A mediação qualificada por educadores é essencial nesse processo.
Em termos estruturais, é fundamental que os espaços de Educação Infantil disponham de um acervo diversificado e acessível, permitindo que as crianças tenham contato com os livros de maneira autônoma e exploratória.