Cena Política | Análise

Busca de Raquel Lyra por "pessoa física" Lula configura o tabuleiro de 2026

A governadora deve apostar na neutralidade pessoal de Lula para enfrentar um PT fechado com o PSB e tentar ocupar espaço onde o lulismo é mais forte.

Por Igor Maciel Publicado em 03/12/2025 às 20:00

Clique aqui e escute a matéria

Muito se engana quem acredita que a governadora Raquel Lyra (PSD), com os movimentos durante a vista de Lula (PT) está buscando apoio do PT para a sua candidatura à reeleição em 2026. Esse barco, convenhamos, já partiu. O PT ficará com o PSB na campanha. E essa realidade tem diversos fatores que precisam ser reconhecidos. João Campos (PSB) trabalhou bem a articulação de bastidor, indo às instâncias partidárias em Brasília e viabilizando a continuidade da parceria que hoje tem o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) como ponta de lança. Campos soube usar a posição de presidente nacional do seu partido para aproximar as duas siglas sem deixar muita alternativa para a provável adversária no ano que vem. O acordo com o PT coloca Lula no palanque socialista. E Lula deve ter, com pouca margem para dúvidas, uma votação expressiva em seu estado.

Existe algo, entretanto, que precisa ser lembrado em relação a essa força lulista imensa em Pernambuco: o PT depende de Lula, mas Lula não depende do PT. É aí que entra a estratégia de Raquel e a base de todo o discurso que ela utilizou durante a visita presidencial em que dividiu o palco com João Campos.

O encontro foi marcado por um gesto inequívoco da governadora, que abriu sua participação destacando que não estava em campanha. Esse tipo de afirmação costuma marcar exatamente o contrário e evidencia como a disputa por 2026 já domina o ambiente. A melhor forma de pedir votos é dizer que não está pedindo votos.

A governadora tenta se posicionar na cena com protagonismo e preparo, mirando um objetivo específico que não passa pelo Partido dos Trabalhadores e sim pela dimensão pessoal do presidente. O objetivo de Raquel, como bem pontuou o professor Adriano Oliveira em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, é a neutralidade lulista para 2026. Porque Lula é importante na campanha e o PT nem tanto.

Disputa simbólica

A leitura imediata da cena reforça que Raquel Lyra e João Campos já competem pelo mesmo eleitorado e pela mesma conexão simbólica com o líder petista. João Campos leva vantagem estrutural por liderar o PSB, partido que ocupa a vice-presidência da República e convive organicamente com o PT. A volta de João no avião presidencial e seu histórico de declarações públicas consolidam essa afinidade. Essa relação institucional fortalece o prefeito como aliado natural lulista.

Pessoa física

A governadora, por sua vez, opera em outra chave. Seu movimento é captar algo mais sutil do que alianças partidárias. Raquel busca a "pessoa física" Lula. Ela já entendeu que a força política do presidente em Pernambuco supera a estrutura do PT. Lula acumula índices eleitorais que podem chegar a setenta por cento, segundo pesquisas locais e análises de especialistas. Esse capital simbólico é determinante. Mas basta tirar Lula da equação para ver o PT definhar. E se o PT estiver com João, mas Lula não se empenhar tanto para pedir que os eleitores votem nele?

É uma possibilidade. E pode mudar o jogo.

Neutralidade disputada

A disputa pela postura pública de Lula se tornará o eixo central. Raquel Lyra sabe que não terá como pedir votos diretamente no primeiro turno e também compreende que o PT estará formalmente alinhado ao PSB. A neutralidade pessoal de Lula pode atenuar essa desvantagem. Esse gesto, caso aconteça, teria impacto real sobre a dinâmica eleitoral porque seria interpretado como uma espécie de sinal verde não verbal ao eleitor lulista que nutre simpatia pela governadora.

E tem um detalhe que precisa ser levado em consideração. Para um candidato como Lula naquela que deve ser a última eleição presidencial de sua vida, ter o maior número de votos da história em Pernambuco, seu estado natal, é um componente importante para a biografia.

Sendo assim, por qual motivo Lula vai brigar com um dos polos regionais se pode ter o apoio (oficial e extraoficial) dos dois?

O cenário segue aberto e sujeito às viradas que a política produz quando interesses nacionais e regionais se cruzam. Ainda tem muita coisa para acontecer, mas o tabuleiro começou a se desenhar assim. E o fluxo do jogo parece sólido.

Compartilhe

Tags