Cena Política | Análise

Sem comando claro família Bolsonaro vive risco de desintegração

A família Bolsonaro enfrenta seu teste mais crítico em anos enquanto cresce a possibilidade de que o sobrenome perca peso político rapidamente.

Por Igor Maciel Publicado em 02/12/2025 às 20:00

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A prisão de Jair Bolsonaro (PL) evidenciou uma ferida que já estava inflamada dentro da própria família. O silêncio forçado do ex-presidente expôs uma disputa que há anos se arrastava por baixo do tapete e que agora vira uma corrida por poder.

Michelle Bolsonaro (PL), antes vista como figura de unidade doméstica, passou a agir como liderança política autônoma. Os filhos, especialmente Flávio e Carlos, reagiram com desconfiança diante do papel crescente da ex-primeira-dama.

A disputa que antes era sussurrada agora aparece à luz do dia porque o grande fiador da ordem interna, Jair Bolsonaro, está impedido de arbitrar qualquer conflito imediatamente. Só pode fazer isso em visitas controladas pela Justiça.

A partir desse vazio, surgiu uma pergunta que embala a direita e inquieta o PL. A família Bolsonaro conseguirá manter o eixo de comando da direita brasileira sem o seu patriarca?

Marcos Corrêa/PR
Michelle Bolsonaro (PL) - Marcos Corrêa/PR

Disputa aberta

O estopim mais recente foi o movimento de Michelle Bolsonaro no Ceará. Ela defendeu Eduardo Girão (Novo) e confrontou a articulação que já tinha sido conversada entre o próprio Jair Bolsonaro e Ciro Gomes (PSDB).

Flávio Bolsonaro (PL) tentou estabelecer um critério de comando ao se colocar como "único porta-voz" do pai. A reação de Michelle tem a ver com a preferência dela por uma amiga, vereadora de Fortaleza, para ser candidata ao Senado, enquanto o deputado federal André Fernandes (PL-CE), quer que o pai seja candidato à Casa Alta, com Ciro, num acordo que havia sido costurado com anuência do ex-presidente Jair.

Flávio defendeu o acordo com Ciro porque diz que é a preferência do pai, Michelle é contra por mágoa com o ex-candidato a presidente em 2022 que já os chamou de ladrões.

Pouco importa aqui quem tem razão. A briga confirma que haverá disputa por protagonismo na família com o afastamento de Bolsonaro.

Ceará em foco

A divergência no Ceará se transformou em símbolo da desorganização crescente também. Michelle atua com base em relações próprias e quer impulsionar aliados locais. Os filhos tentam preservar acordos construídos antes da prisão e querem sobreviver como "maior força à direita". A falta de coordenação cria a instabilidade.

O avanço de nomes da direita não bolsonarista provoca desconforto porque ameaça reduzir a relevância da família nas definições eleitorais.

Atritos antigos

Os conflitos entre Michelle e os filhos não são novidade. O afastamento de Carlos Bolsonaro (PL) do Palácio da Alvorada durante o governo já revelava tensões profundas.

A relação mais estável de todos os irmãos com a madrasta era a de Flávio. E nem esta resistiu ao atual momento de disputa. A combinação de ressentimentos antigos com a pressão eleitoral produziu o cenário ideal para o conflito se tornar incontrolável.

Caminhos distintos

A falta de unidade favorece o crescimento de forças que querem os votos do bolsonarismo sem carregar o peso do sobrenome Bolsonaro. Líderes regionais já trabalham com alternativas para 2026. O PL observa esse processo com apreensão porque precisa preservar competitividade nacional sem se prender aos limites impostos pelas disputas internas da família.

Riscos para 2026

No curto prazo, a família Bolsonaro ainda tem visibilidade. No longo prazo, a ausência de Jair Bolsonaro das negociações pode acelerar uma fragmentação difícil de reverter. A disputa em Santa Catarina, onde Michelle prefere Caroline de Toni (PL) e ignora a pretensão de Carlos Bolsonaro, reforça a leitura de que a confusão não é localizada. Ela se repete em diferentes estados com formatos parecidos.

Perda de comando

A prisão reorganizou a direita e abriu espaço para quem não depende mais da chancela dos Bolsonaro. A dificuldade de Flávio e Michelle para controlar o espólio político indica que o sobrenome já não tem o mesmo efeito unificador e que se eles não se entenderem rápido o prejuízo será imenso. Em pouco tempo após a eleição de 2026, é possível que a influência da família Bolsonaro se torne irrisória no cenário eleitoral.

Um eixo em risco

A família Bolsonaro enfrenta o maior teste desde que se transformou em força dominante na direita. O conflito aberto enfraquece a capacidade de atrair aliados e aumenta o risco de perda de relevância no centro das decisões nacionais. A pergunta que guia este momento é simples e decisiva: a família Bolsonaro conseguirá se manter como eixo da direita sem Jair Bolsonaro para arbitrar? Os indícios apontam para o "não" como resposta.

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