Cena Política | Análise

Birra política trava o Brasil enquanto poderes disputam espaço e força

A disputa infantil entre Executivo e Congresso transformou a política numa guerra de birra que paralisa decisões e empurra o país para mais atraso.

Por Igor Maciel Publicado em 28/11/2025 às 20:00

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O Brasil está parado por causa de birra, uma lógica infantil que parece ter sido adotada por quem deveria conduzir o país com responsabilidade. Quando uma criança mimada não tem o que quer, ela trava o ambiente inteiro, esbraveja, empurra limites e ignora consequências.

No cenário político atual, a dinâmica não é muito diferente. Executivo e Congresso se comportam como rivais irritadiços, disputando cada centímetro de poder como se o país fosse um playground e não uma nação que precisa de decisões maduras.

Essa metáfora ajuda a compreender por que a máquina pública está emperrada, por que projetos essenciais não avançam e por que a energia política brasileira tem sido consumida por uma guerra de orgulho em vez de planejamento nacional.

O enfraquecimento original

A origem desta crise de relacionamento está ainda na pandemia de Covid19. Enquanto havia uma emergência sanitária real, o governo Bolsonaro (PL) escolheu negar a gravidade da situação. A consequência direta foi o protagonismo assumido pelo Congresso e pelos governadores, que ocuparam o espaço deixado pelo Executivo.

A popularidade do Legislativo cresceu e Bolsonaro perdeu sustentação política até ficar completamente dependente da boa vontade dos parlamentares.

Posteriormente, com Arthur Lira (PP) no comando da Câmara, o centrão negociou a sobrevivência política de Bolsonaro em troca de recursos. As emendas se multiplicaram e o "orçamento secreto" com o tempo virou "emenda Pix". Esse mecanismo, criado para alimentar bases eleitorais, ampliou de forma descontrolada o poder dos deputados e senadores. Desde então, o Congresso atua como se fosse um segundo Poder Executivo.

Lula e a nova realidade

Quando Lula voltou à presidência, trouxe consigo a expectativa do passado, quando governava com ampla popularidade e controle quase total do Congresso.

A realidade atual, porém, é diferente. O presidente tenta retomar protagonismo, mas não tem força suficiente para impor sua agenda. Ao mesmo tempo, é obrigado a conviver com um Legislativo empoderado, que resiste a qualquer redução de influência.

A disputa por poder se tornou maior do que qualquer projeto de país. A reforma tributária, aprovada entre 2023 e 2024, segue empacada por falta de regulamentação.

O atraso não vem de dificuldade técnica, mas da escolha deliberada de um poder tentar impedir o outro de apresentar resultados. Um não quer que o outro ganhe popularidade em outros assuntos, sejam eles pequenos ou grandes A birra virou método de relacionamento e acaba congestionando a pauta.

O exemplo de Pernambuco

O problema não está restrito a Brasília. Em Pernambuco, há um cenário semelhante entre Alepe e o governo estadual. De um lado, há deputados que pressionam por mais estrutura para ampliar influência regional. De outro, o Executivo trava até atualizações constitucionais e bloqueia iniciativas do Legislativo. Os parlamentares reagem segurando liberação de empréstimos. A população fica no meio do fogo cruzado.

O risco para 2026

A disputa por poder passou a ser tratada como objetivo final. O que importa é quem chegará mais forte ao fim de 2026. Enquanto isso, o Brasil não avança.

Alguém lembra de discussões estratégicas sobre educação, infraestrutura ou futuro econômico nas últimas semanas ou meses? Há apenas um jogo de força permanente entre Executivo e Legislativo.

A pergunta que fica é se a sociedade aceitará continuar presa nesse ciclo. A birra pode até render ganhos de curtíssimo prazo para alguns atores políticos, mas custa caro ao país. E o preço sempre é pago pelo cidadão.

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