Cena Política | Análise

Bolsonaro cumprindo pena obriga Tarcísio a escolher entre passado e futuro

O início da pena impõe a Bolsonaro e aliados um fardo que trava a direita enquanto o eleitor pede renovação e rejeita embates repetidos.

Por Igor Maciel Publicado em 25/11/2025 às 17:21

Clique aqui e escute a matéria

Bolsonaro está cumprindo pena. E a verdade é que, até progredir a um regime semiaberto, no mínimo ele terá que passar seis anos preso. Este é um momento de decisão para os atores que estão no palco. Será o momento de olhar para frente ou se encarcerar junto ao ex-presidente. Como a esquerda fez com Lula em 2018.

A próxima eleição presidencial não precisa ser decidida pelo passado, mas por quem conseguir oferecer uma visão de futuro ao país.

O eleitor vem demonstrando cansaço para revisitar mitos e reeditar os mesmos embates. A disputa central poderá ser entre quem consegue construir um projeto de amanhã e quem continua amarrado ao ontem.

Lula e o passado

Lula ainda opera no campo simbólico do passado. Seu discurso, suas alianças e suas prioridades são ecos de experiências anteriores quando ele tinha 80% de aprovação popular e nem precisava negociar suas vontades.

O ex-presidente aposta na memória de um tempo em que o país crescia, o ambiente internacional era diferente, programas sociais faziam efeito eleitoral espetacular. Lula confia que essa lembrança mobiliza.

Mas o problema é que memória não é promessa, e quem não projeta futuro fica vulnerável à percepção do cansaço político que está mais do que evidente.

A oportunidade do centro

O campo de centro e centro-direita vive talvez a maior oportunidade de sua história recente. Enquanto os polos se esgotam, esse bloco pode se reinventar.

PSD, União Brasil, Republicanos, Novo e Progressistas têm condições de construir uma narrativa de futuro baseada em eficiência, gestão e pragmatismo.

Mas para isso precisam romper com o passado de dependência de padrinhos e de alianças utilitárias. O futuro não se constrói olhando pelo retrovisor.

Não é fácil. Vincule-se à necessidade pressões regionais, bancadas de deputados e senadores querendo caminhos menos arriscados para renovarem seus mandatos. O centro até pode enxergar o futuro, propor o futuro, mas não conseguir bancá-lo.

O certo é que o primeiro sacrifício será saber manter alguma distância do bolsonarismo.

O exemplo Motta

Hugo Motta (Republicanos), por estratégia ou impulso, embora seja considerado tolo para muitas coisas, deu um passo nessa direção, esta semana. O presidente da Câmara fez um gesto contra os dois polos: rompeu relações com o líder do governo e com o líder do PL bolsonarista.

Ninguém sabe se será capaz de sustentar a posição, já que tem ficado conhecido pela falta de sustentação fibrosa das suas decisões, mas o caminho é por aí.

O fardo de Bolsonaro

Com Jair Bolsonaro preso, o bolsonarismo enfrenta seu momento mais delicado. A ausência do líder expõe o vazio de projeto. Sem a figura central, o PL se encontra em compasso de espera, incapaz de apresentar algo novo.

Bolsonaro, agora, não é apenas um ex-presidente. Ele é também o principal obstáculo para a própria direita se mover. Manter o culto à sua figura é condenar o campo político que se apoia nele a repetir o passado indefinidamente.

O dilema de Tarcísio

Tarcísio de Freitas (Republicanos) é o personagem que simboliza essa encruzilhada. Ele tem a imagem técnica, o perfil de gestão e a oportunidade de se apresentar como uma nova geração política. Mas está preso a dilemas internos: precisa do apoio de Bolsonaro para se viabilizar, mas também precisa se libertar dele para parecer o futuro.

A armadilha é clara. Se aceitar um vice da família Bolsonaro, repete o erro de Fernando Haddad em 2018, que visitava Lula na cadeia e virou extensão do passado.

Para ser o futuro, Tarcísio precisa fazer o gesto de autonomia que Haddad não conseguiu fazer.

O gesto necessário

Em 2026, vencerá quem tiver coragem de romper. A eleição será pragmática, não emocional.

O eleitor não busca salvadores nem vingança (a pandemia passou), mas quem oferece soluções concretas e um horizonte novo. Se Lula continuar olhando para trás e Tarcísio permanecer acorrentado a Bolsonaro, o futuro vai ser ocupado por quem tiver coragem de se apresentar como novidade real. E o tempo para fazer esse gesto é agora.

Compartilhe

Tags