A direita sul-americana avança e o Brasil segue imóvel na praia
A espera por Bolsonaro paralisa a direita e afasta o Brasil das tendências regionais, abrindo vantagem para o governo nas disputas que vêm aí.
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A América do Sul está vivendo um movimento político que se tornou visível demais para ser ignorado. A região passa por uma virada consistente para a direita, com quase todos os países do continente reposicionando suas forças políticas.
Enquanto isso, o Brasil parece ter seus representantes à direita parados diante da mesma onda que carrega nossos vizinhos, incapazes de subir na prancha e disputar o momento.
Essa paralisia tem nome e motivo. A indefinição de Jair Bolsonaro (PL) impede que a direita e a centro-direita brasileiras se organizem e surfem aproveitando o movimento do mar.
Onda continental
A guinada à direita ficou evidente com a chegada de Javier Milei na Argentina. O avanço para este lado do espectro político ocorre também na Bolívia, no Paraguai, no Peru e no Chile, onde José Antônio Kast deve vencer o segundo turno da eleição atual ao consolidar a maioria conservadora.
Há ainda a pressão internacional sobre a Venezuela, com os Estados Unidos buscando impulsionar a direita naquele país. Mesmo a Colômbia vive um ambiente eleitoral desfavorável à esquerda.
Pauta dominante
Essa mudança no continente é alimentada por discursos mais duros sobre segurança pública, combate ao tráfico de drogas e endurecimento do debate moral.
A presença crescente das religiões evangélicas e a radicalização de setores católicos colocaram a pauta de costumes no centro das disputas políticas. Esse fenômeno se repete em praticamente toda a América do Sul e cria uma base popular sólida para candidatos que se apresentam como conservadores.
Impasse brasileiro
No Brasil, porém, a direita não consegue transformar o ambiente continental em oportunidade concreta. Há insatisfação com o governo Lula (PT) e espaço para crescimento, mas ninguém sobe na prancha.
Tarcísio de Freitas (Republicanos) é favorito para a reeleição em São Paulo e prefere esperar. Ronaldo Caiado (União) se movimenta, mas sem romper as amarras que seguram o bloco. Outros nomes apenas boiam na superfície.
E todo mundo espera que a influência de Jair Bolsonaro sobre o pleito que vem aí simplesmente desapareça. Isso não vai acontecer.
O freio interno
A indefinição bolsonarista trava qualquer tentativa de reorganização. O ex-presidente mantém a ideia de que o candidato de 2026 precisa ser alguém da própria família e não dá espaço para alianças com Tarcísio, Caiado ou qualquer liderança fora do núcleo.
A direita brasileira vive como se carregasse uma bola de chumbo presa ao tornozelo. A onda está passando agora e nenhum surfista sobe na prancha por medo de ser derrubado pelo bolsonarismo.