Competição interna impede avanço da direita até no debate da segurança
A disputa por espaço entre Tarcísio, Zema, Caiado e Castro atrapalhou a pauta da oposição e abriu caminho para o governo reassumir a narrativa.
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A dificuldade da direita em se organizar ficou evidente no momento em que a segurança pública voltou ao centro da política brasileira. O tema ganhou força depois da megaoperação no Rio que deixou mais de cem mortos e reacendeu a pressão por respostas.
O governo Lula sentiu o impacto, mas foi a oposição que mostrou suas maiores fragilidades. Em vez de transformar a oportunidade em trunfo eleitoral, a direita expôs sua incapacidade de coordenação e revelou um ambiente interno marcado por disputa, desconfiança e ciúme entre os governadores que pretendem disputar o Planalto.
Disputa aberta
A operação elevou governador do RJ, Cláudio Castro (PL), a um patamar de aprovação raro na política atual. Sete em cada dez pessoas disseram apoiar a ação.
Esse diagnóstico deixou claro que havia espaço para liderar o debate da segurança, mas a direita não conseguiu se mover como bloco. Enquanto Castro (que não é candidato à presidência) crescia, o governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo, buscou se destacar, mas faltou articulação para transformar o sentimento popular em agenda unificada.
Movimento calculado
Tarcísio tentou assumir esse protagonismo. Retirou Guilherme Derrite do governo paulista e o reposicionou em Brasília com a missão de relatar o projeto antifacção como deputado. O objetivo era criar uma vitrine nacional que consolidasse Tarcísio como referência em segurança.
Mas o movimento esbarrou no ambiente de disputa interna do próprio campo político que ele buscava liderar e que está desorganizado pela ausência de Bolsonaro (PL).
Erros de condução
A postura de Derrite já expôs essa desorganização. Em vez de costurar acordos, ele criou cabos de guerra que ampliaram as divergências. O debate sobre subir o morro atirando, a tentativa de rotular facções como terrorismo e as investidas contra a autonomia da Polícia Federal provocaram reação pesada da base governista.
Esses movimentos animaram grupos mais radicalizados, mas inviabilizaram a construção de um texto consensual. A gestão petista pressionou e ele foi obrigado a ceder, porque não aprovar texto nenhum pode ser muito pior para a missão que ele foi cumprir em Brasília.
Mas quando conseguiu agradar os governistas, desagradou a oposição.
Sabotagem interna
Governadores da própria direita foram à Brasília se apropriar da discussão e impedir que Tarcísio colhesse capital político. Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União) e Cláudio Castro foram travar a votação.
Não se tratava de divergências ideológicas. Era cálculo eleitoral. Nenhum deles estava disposto a permitir que o concorrente paulista assumisse sozinho a "liderança da segurança pública".
A sabotagem organizada pelos próprios aliados está destruindo a principal pauta da oposição este ano.
Divisão exposta
A direita vem demonstrando que não consegue agir como grupo nem quando tem uma pauta com alto potencial eleitoral. A descoordenação alongou o debate, permitiu que o governo reorganizasse sua narrativa e abriu espaço para que a aprovação final do texto seja vista como vitória do Planalto.
Enquanto Lula recompõe terreno, a oposição se perde em disputas internas.
Cenário adiante
A segurança seguirá como tema central da disputa presidencial? Sim. Mas a falta de organização da direita compromete sua capacidade de explorar o desgaste do governo Lula. O Palácio do Planalto ganhou a chance de tomar a bandeira para si nos próximos dias.
Se a direita não resolver suas fissuras internas, continuará entregando ao governo as oportunidades. Até as que surgem em seu próprio cenário político. O lulopetismo agradece.