A força dos adjetivos e a construção da imagem de Raquel Lyra
A governadora tenta transformar uma imagem positiva de gestora em vantagem política, sem perder a sobriedade e o foco administrativo.
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A governadora Raquel Lyra (PSD) parece ter percebido que a melhor campanha eleitoral que ela pode fazer, por enquanto, é confirmar na prática os adjetivos que o eleitor já associa ao seu nome.
Apesar dos resultado ruins nas pesquisas quantitativas, na disputa direta com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), é nas entrevistas mais aprofundadas, as qualitativas, que a equipe do Palácio do Campo das Princesas tem confiado para estruturar o trabalho feito com ela.
Nas pesquisas qualitativas mais recentes a que esta coluna teve acesso, a governadora é descrita com uma combinação de adjetivos que todo gestor gostaria de ouvir: séria, trabalhadora, honesta, responsável e dinâmica.
Esses atributos não são apenas impressões superficiais, mas refletem a percepção de uma governante que se apresenta como executora, não como candidata. E ela faz questão de repetir isso sempre, em todos os momentos, inclusive na entrevista exclusiva que concedeu ao Programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.
A ideia é entrar em sintonia com o sentimento do eleitor, mesmo que ainda não chame ele de eleitor.
Entregas e imagem pública
Nos últimos meses, a governadora tem sustentado um ritmo intenso de atividades, percorrendo o Estado, inaugurando obras e firmando convênios. Viajando também.
A viagem recente à China e à Dinamarca reforçou a ideia de gestora conectada ao mundo e interessada em soluções concretas para Pernambuco. Na China, Raquel visitou uma empresa especializada em metrôs e trens, com potencial para participar da concessão do sistema do Recife. Na Dinamarca, discutiu a implantação de uma planta de e-metanol no Estado.
Em ambas as agendas, o foco foi apresentar Pernambuco como terreno de oportunidades e mostrar uma gestora que busca parceiros para investir no estado. Demonstrando "trabalho", sempre.
Estratégia silenciosa
Raquel tem evitado qualquer antecipação do debate eleitoral de 2026. Sua resposta é sempre a mesma: não é hora de falar de eleição, é hora de governar. E repetiu isso na entrevista da sexta-feira (31)
O gesto é simbólico. Reforça o discurso que já existe na cabeça dos entrevistados das pesquisas quantitativas.
A cada entrega, a cada assinatura e a cada agenda cumprida, no ritmo acelerado que demonstrou dentro dos estúdios da Rádio, ela procura confirmar os adjetivos.
O tempo e a coerência
A aprovação de 57% registrada na pesquisa Datafolha recente indica que o discurso do trabalho tem aderência popular, por mais que ainda não esteja aparecendo nos levantamento quantitativos.
Especialistas apontam que essa base de apoio pode se converter com facilidade em intenção de voto, desde que o ritmo de entregas se mantenha e a imagem de seriedade não se desgaste.
As qualitativas mostram ainda que o eleitor reconhece a necessidade de tempo para que as mudanças se consolidem. Esse reconhecimento é um ativo valioso e, se bem administrado, pode criar um ambiente favorável à reeleição sem que ela precise sequer mencionar o tema. Exatamente como vem fazendo.
Ao transformar os adjetivos que o eleitor usa para descrevê-la em uma agenda de governo, a governadora parece compreender que a aderência ao eleitor é a melhor forma de fazer eleição sem falar em eleição.