Cena Política | Análise

O eleitor comum ainda não entrou no clima da eleição de 2026 em Pernambuco

Um ano antes da disputa, os números mostram liderança induzida de João Campos e força crescente de Raquel Lyra no eleitorado espontâneo.

Por Igor Maciel Publicado em 30/10/2025 às 20:00

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A eleição de 2026 em Pernambuco começou antes da hora. Dois anos de antecedência, para ser exato. Desde 2024, quando alguns atores políticos resolveram antecipar movimentos, o estado vive uma disputa que ainda não deveria existir. O resultado é um cenário confuso, cheio de especulações e análises apressadas. A política estadual entrou em clima de eleição sem que o eleitor sequer tenha sido chamado para o debate. E alguns números acabam demonstrando isso. O eleitor não entrou no clima da campanha antecipada.

Na última pesquisa Datafolha divulgada no Estado essa distância fica evidente. Basta fazer uma entrevista sem apresentar antes os nomes de Raquel Lyra e João Campos para a vantagem que um tem sobre o outro virar empate numérico.

Pesquisas e retratos do momento

O ponto mais importante, independente de tudo, é compreender que qualquer pesquisa divulgada agora deve ser lida como um retrato de momento. Todo levantamento oferece uma fotografia parcial da corrida pelo governo, mas ainda distante do que será a disputa real. A pesquisa desta semana aborda três frentes principais: a avaliação do governo Raquel Lyra, a intenção de voto espontânea e a estimulada.

Espontânea e estimulada

Na modalidade espontânea, o eleitor responde sem que nenhum nome seja apresentado. É quando se mede a lembrança real que o cidadão tem de cada candidato. Já na estimulada, o entrevistado escolhe entre nomes exibidos em um cartão. Esse formato costuma dominar as manchetes, mas revela mais sobre exposição midiática do que sobre decisão consolidada.

João Campos na frente

Quando o Datafolha mostra os números da pesquisa estimulada, João Campos (PSB) aparece na frente, com mais de 50% das intenções de voto. Raquel Lyra (PSD) vem na faixa dos 30%. É um resultado semelhante ao de levantamentos anteriores e repete a vantagem do prefeito do Recife. Algumas sondagens apontam até 60% para João e pouco mais de 25% para Raquel. Mesmo assim, esses números dizem mais sobre a visibilidade do prefeito do que sobre a força eleitoral real para 2026.

Empate na lembrança

A surpresa surgiu na pesquisa espontânea. Nela, João Campos e Raquel Lyra aparecem empatados, com 23% cada. Isso mostra que o eleitor ainda não fixou o nome de ninguém para o voto.

É preciso lembrar que o voto espontâneo mede o que vem à cabeça sem indução. E, nesse caso, boa parte do eleitorado ainda nem pensa em eleição. A quantidade de indecisos é alta, o que indica que o processo está longe de se consolidar.

O que os números revelam

O empate na lembrança espontânea tem um significado importante. Mostra que Raquel Lyra mantém um grau de presença no imaginário do eleitor semelhante ao de João Campos, apesar da diferença na exposição. E isso não seria possível se a governadora estivesse desgastada.

A avaliação positiva de seu governo reforça essa leitura. De acordo com a pesquisa, 57% dos entrevistados consideram a gestão positiva. Esse dado explica por que, mesmo com a vantagem de João na estimulada, o jogo segue completamente aberto.

Um ano é muito tempo

Ainda falta um ano inteiro para a eleição e, nesse intervalo, tudo pode mudar. A política tem uma capacidade notável de reviravolta. O exemplo do presidente Lula (PT) é recente. Em um momento de baixa, parecia sem chances de vitória. Com erros estratégicos dos adversários, recuperou terreno e se tornou novamente o favorito.

A disputa que se desenha

O que se percebe é que 2026 não será uma eleição simples. Raquel Lyra, com avaliação de governo positiva e presença equilibrada na lembrança espontânea, tem condições de reagir. João Campos, por outro lado, lidera nas pesquisas estimuladas, mas ainda depende da lembrança forçada pelas redes sociais.

O eleitor reconhece seu nome quando o vê, mas nem sempre o cita de forma espontânea. Essa diferença, pequena agora, pode se tornar decisiva na reta final.

A única coisa que as pesquisas já podem antecipar, faltando um ano para a eleição, é que os debates e a propaganda eleitoral serão decisivos num tabuleiro tenso de uma disputa acirrada entre os dois grupos políticos no ano que vem.

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